Fotografia
Signed X reúne histórias e retratos de sobreviventes de violência sexual
São 27 os testemunhos e retratos de vítimas de abusos sexuais recolhidos pela fotógrafa norte-americana Kate Ryan para o projecto Signed, X, que mereceu, recentemente, destaque no The New York Times. O projecto encontra raízes na história pessoal da autora, que foi também, há vários anos, vítima de violação.
Kate partilhou despudoradamente a sua experiência com o jornal norte-americano e adjectivou de “aterradora” a partilha de um episódio tão íntimo com o grande público. “Aquilo que me pediram não foi, de nenhuma forma, diferente daquilo que eu pedi às mais de 20 pessoas que participaram no meu projecto. Foi difícil, mas, assim que coloquei em palavras o que me tinha acontecido, senti-me mais leve. Acontece algo especial quando contas o teu segredo mais íntimo e profundo a toda a gente, sentes que não há mais nada a esconder.” Na óptica de Kate, essa sensação de libertação, que é catártica, leva as pessoas a querer partilhar as suas experiências.
Melissa, uma das retratadas em Signed, X , tinha 25 anos quando foi vítima de violação. Numa tentativa de normalização do sucedido, tentou iniciar um relacionamento amoroso com o agressor. “Não sei como fui capaz, olhando para trás. Parecia que estava fora do meu corpo.” Melissa foi oficialmente diagnosticada com Síndrome de Stress Pós-Traumático. Tem perdas de memória, alterações de humor extremas, insónia. Taquicardia. Toma Xanax, Ambien. “Os últimos seis meses da minha vida têm sido um inferno", confessa.
Jenn foi abusada pelo seu padrasto, entre os oito e os 14 anos. “Pedia-me que lhe fizesse sexo oral e em troca dava-me um donut. Ele usava a comida como moeda de troca.” Com 14 anos, Jenn pesava 136 quilos. Encontrou o caminho para a reabilitação e fundou a sua própria organização não-governamental, que tem como missão “criar uma rede de apoio que promova o uso do ioga, da meditação e das artes para o apoio a sobreviventes de experiência traumáticas”.
Kate Ryan criou Signed, X em Novembro de 2017, mas já aprendeu, com as entrevistas que realizou, uma valiosa lição. “Ouvi pessoas dizerem coisas que eu pensei serem só minhas, decorrentes da minha experiência pessoal, do meu abuso em particular. Percebi, através das entrevistas que conduzi, que, por vezes — e não com muita distância física ou temporal —, alguém estava a ter um pensamento semelhante ao meu num momento em que eu me sentia totalmente sozinha. Percebi que esses pensamentos eram parte do processo de assimilação do trauma, que eram naturais. Aprendi também que partilhar a minha história com as pessoas que entrevisto as ajuda a confiarem em mim, a falarem de igual para igual, sem barreiras." Kate remata: "A vulnerabilidade tem duas faces e, como em tudo, é preciso dar para receber.”