Tremoço a tremoço

Farto de ver estrangeiros a comê-los com pele e tudo, arranjei coragem para intervir e convidá-los a experimentar sem pele.

Este Verão tenho tido sucesso na minha campanha do tremoço. Farto de ver estrangeiros a comê-los com pele e tudo, arranjei coragem para intervir e convidá-los a experimentar sem pele. Só titubiei com uma senhora que estava a comê-los com garfo e faca. Propor-lhe duas alterações seria embaraçoso. Pedi a um empregado amigo que fizesse o favor de ir esclarecê-la.

Tenho sempre o cuidado de dizer que this is how we eat them in Lisbon, implicando que noutras regiões também comem com casca, coitados.

Ao princípio caía na asneira de me levantar e de fazer uma pequena demonstração. Via-me aflito para explicar a dentadinha ideal para depois poder expelir elegantemente o tremoço. E, de resto, não me apetecia comer tremoços no meio da minha refeição.

Os tremoços ocuparam o lugar na minha hospitalidade deixado vazio pelos percebes. É preciso paciência para convencer um estrangeiro a não mandar para trás o pratinho de percebes porque muitos deles estão convencidos que se tratam de patinhas de tartaruga. E há bastantes que, depois de tanta propaganda de saber a mar e de ser apanhado ali, incompreensivelmente não gostam, têm nojo e cospem.

Com o tremoço nunca falha. Preferem sempre o sabor do tremoço sem casca. No outro dia uma senhora alemã, bem disposta, fez um gesto teatral de comparar o tremoço com casca numa mão e sem casca na outra. Provou daqui disse "good", provou dali, fingiu raciocinar e pronunciou "yes, yes, much better!"

Fico estranhamente satisfeito quando eles comem os tremoços todos.

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