Zara quer cortar tempo de entrega com stock integrado em lojas

Novo sistema evita que as encomendas tenham de vir de armazém. Arranca agora em 25 mercados e até 2020 é alargado a toda a Inditex.

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É dia de semana em Milão e a renovada loja da Zara intriga os transeuntes na Corso Vittorio Emanuele II, a poucas centenas de metros do Duomo. Na fachada iluminada por dezenas de lâmpadas amarelas, lê-se “Cinema Zara”, uma referência ao Metro Astra, uma sala onde entre as décadas de 1940 e 1990 vários clássicos italianos tiveram a sua estreia, até fechar, em 1999. Foi nesta loja, inaugurada em 2002 e reaberta ao público na quinta-feira, que a marca espanhola quis apresentar o novo sistema de entregas online, através do qual passará a usar a mercadoria de loja em vez de recorrer apenas ao armazém, encurtando assim o tempo de entrega. Em Portugal, até ao final deste mês, estará plenamente integrado nas 59 lojas da marca.

A sala de cinema deu lugar a quatro pisos, unidos por um fosso que confere ao espaço uma sensação de abertura. No átrio de entrada — onde está uma pequena colecção criada especialmente para a inauguração — o candeeiro original do cinema cria o efeito contrário, aproximando-nos do tecto. 

A loja exemplifica como a gigante espanhola está tentar a reduzir a barreira entre online e offline?. A partilhar espaço com a secção Trafaluc, no quarto piso, está a secção online — a segunda deste tipo no mundo, a seguir à de Londres, em Stratford. É aqui que uma nova máquina com capacidade para guardar até 900 unidades — empilhadas em gavetas ajustáveis, sobrepostas em vários montes — entrega as encomendas automaticamente, com a ajuda de dois braços mecânicos. Os clientes que preferirem a entrega da encomenda online em loja só têm de passar o código QR ou o pin e esta aparece sozinha. Além desta máquina, a Zara apostou também em espelhos interactivos que permitem experimentar peças sem ter de as vestir — que à data da inauguração ainda não tinham chegado à loja.

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Com o novo sistema de entregas (baptizado SINT) que arranca este mês em 25 países, a marca espanhola ambiciona cortar o tempo de entrega das encomendas online, seja ao domicílio, seja no levantamento em loja, dado que estas não terão de vir do armazém. Quando é feita uma encomenda, o sistema determina de que localização é que a peça deve partir. De seguida, uma assistente de loja vai buscar essa mesma peça e prepara-a para envio.

Do ponto de vista do consumidor a experiência de compra é a mesma. A grande diferença prende-se mesmo com o tempo de entrega. Se for para levantamento em loja, a Zara garante que será em 24 horas, mas de acordo com representante da marca, o tempo será ainda menor em grande parte dos casos — podendo inclusive chegar a 30 minutos. No caso das entregas ao domicílio, em Portugal, a marca assegura um prazo de 36 horas.

A aposta digital

Acima de tudo, a gigante espanhola parece estar focada no comércio digital à escala global. Pablo Isla, presidente e CEO da Inditex — dona da Zara e de sete outras cadeias de lojas, como a Oysho e a Bershka —, anunciou um dia antes da abertura que até 2020 as marcas do grupo vão alargar a presença a todos os países do mundo, através do comércio online — que representa 10% das vendas do grupo, de acordo com resultados apresentados em Março —, mesmo em mercados onde não estão presentes em retalho de rua. “Seremos uma empresa plenamente sustentável, plenamente integrada e digital”, afirmou à imprensa, na loja de homem da Zara inaugurada no final de 2017, no edifício ao lado do antigo cinema.

A aposta da gigante espanhola acontece ao mesmo tempo em que a Amazon se afirma como retalhista de roupa. Em 2018, poderá tornar-se líder na indústria do vestuário dos Estados Unidos, de acordo com uma análise da Morgan Stanley, divulgada pela CNBC. Para já, está a testar as águas com uma série de private labels próprias, ao mesmo tempo que começa a estabelecer parcerias com marca como a Calvin Klein, J. Crew e Nike.

A empresa tem-se focado sobretudo em básicos (como T-shirts simples) e menos em artigos de tendências, mas para alguns analistas é apenas uma questão de tempo até que seja uma força dominante a nível internacional. “O seu verdadeiro poder, com o tempo, será a quantidade de dados que vão conseguir recolher dos consumidores. É só uma questão de tempo”, comenta Chip Bergh, CEO da Levi’s em entrevista ao Business of Fashion.

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Mobilidade de stock

Para a Zara, a implementação do sistema SINT, significa um progresso na gestão de stock de loja. A mesma peça que uma loja não vender, pode ter mais sucesso online — e nesse caso vai poder ser encaminhada. “Vendemos algo que não iríamos vender”, explica outro representante da marca. Ou seja, a uma escala macro, o SINT vai permitir que o stock possa fluir entre regiões, mesmo depois de estar em loja.

“Isto é possível porque todas as nossas peças estão perfeitamente localizadas”, comenta a mesma representante. Há seis anos que a Zara começou a testar a tecnologia RFID (que permite a localização das peças) em Espanha e há mais de três que aplicaram a todas as peças. Foi um passo para chegar a este sistema de entregas, que foi desenvolvido ao longo de cerca de oito meses pela própria Inditex. “Tudo na empresa é preparação para atingir um determinado objectivo”, comenta uma representante.

Actualmente com 2200 pontos de venda a nível mundial, a Zara cresceu nas últimas décadas com a aquisição de lojas próprias — algo que facilita a implementação deste tipo de sistema —, em muitos casos em localizações privilegiadas de diferentes cidades. Nos poucos mercados em que tem franchises — no Médio Oriente — todas as lojas dentro de um país são detidas pela mesma entidade.

O PÚBLICO viajou a convite da Inditex

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