Para morrer politicamente só é preciso estar vivo

Morre-se muito na política. Não se morre mais de mágoa, como escreveu Saul Bellow – embora às vezes também, como na despedida de Guterres – mas morre-se mais de erros crassos e análises deficientes da conjuntura. A vantagem da política sobre a vida é que a ressurreição é possível, como prova a carreira de António Costa que, depois de ter perdido as eleições para Pedro Passos Coelho, conseguiu formar Governo e viver hoje confortavelmente nas sondagens.

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Morre-se muito na política. Não se morre mais de mágoa, como escreveu Saul Bellow – embora às vezes também, como na despedida de Guterres – mas morre-se mais de erros crassos e análises deficientes da conjuntura. A vantagem da política sobre a vida é que a ressurreição é possível, como prova a carreira de António Costa que, depois de ter perdido as eleições para Pedro Passos Coelho, conseguiu formar Governo e viver hoje confortavelmente nas sondagens.

A mais recente sondagem, a da Aximage, prenuncia duas mortes políticas, a do Bloco de Esquerda e do PSD. É verdade que o Bloco já tinha morrido antes quando, em 2011, caiu dos quase 10% atingidos em 2009 para os cinco por cento. Essa primeira morte levou a uma reconfiguração do partido que lhe permitiu a ressurreição de 2015, quando ultrapassou os 10% e acabou a fazer parte da solução de Governo. Mas a presente diminuição das intenções de voto do Bloco vem comprovar aquilo que qualquer observador político sabe: o BE viveu este Verão, à conta do caso Robles, a sua maior crise desde a fundação. Não é possível fazer discursos contra a especulação imobiliária e ser agente ativo da especulação imobiliária – e se o pai fundador do Bloco, Franciscoi Louçã, continuar a atribuir o caso a uma “campanha suja”, os danos eleitorais podem ser irreparáveis.

A queda livre do PSD também prenuncia a morte política de Rui Rio que é capaz de ser o único português a achar que está a fazer o que deve ser feito para ter o maior número de votos possível nas próximas legislativas. A autossuficiência do líder, aparentemente, não está a dar resultado. O desaparecimento do partido em Agosto prova, e basta ver a sondagem que o coloca nuns inimagináveis 24%, que o PSD não faz falta à maioria dos portugueses. Assunção Cristas e o CDS saem a ganhar da estratégia de que “férias são férias” levada ao limite pelo líder social-democrata.

O risco da iminência destas mortes políticas faz o favor de inflacionar as expectativas do PS de António Costa. Há um eleitorado que oscila entre Bloco e PS e entre PS e PSD. Quando numa recente entrevista Costa acusou Robles de ter cometido “pecadilhos” sabe perfeitamente que os votos do Bloco são agora presa fácil. E com o PSD não tem que se preocupar muito. Para Costa, basta não falar no assunto e até cumprimentar Rui Rio. Rio agradece sabe Deus porquê.