Por plástico nunca dantes navegado

Há seis anos, com apenas 18, Boyan Slat decidiu inventar uma solução tecnológica para retirar plásticos dos oceanos. Criou a Ocean Cleanup, uma startup ambiental que, a 8 de Setembro, vai lançar o System 001, o primeiro sistema de limpeza oceânica mundial.

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Johannes P. Christo/Reuters

Por estes dias, Boyan Slat e a sua invenção vão andar nas bocas do mundo. Porque Slat é jovem, holandês, empreendedor, arrojado, destemido e teve a proeza de reunir, em pouco tempo, 21 milhões de euros em crowdfunding. Motivos mais do que suficientes para meio mundo estar roído de inveja.

Há seis anos, com apenas 18, Boyan Slat decidiu inventar uma solução tecnológica para retirar plásticos dos oceanos. Criou a Ocean Cleanup, uma startup ambiental que, a 8 de Setembro, vai lançar o System 001, o primeiro sistema de limpeza oceânica mundial. O alvo vai ser a ilha de lixo do Pacífico Norte, um amontoado de lixo maior do que o território francês que fica a meio caminho entre o Havai e a Califórnia. A promessa é conseguir limpar 50% do lixo da ilha em cinco anos. 8 de Setembro é, portanto, um dia de esperança para os oceanos. Pensar que esta esperança é falsa é roçar o retrógrado e ter prazer em desafiar o progresso.

A invenção é simples: criar uma espécie de “litoral” artificial no meio do mar, concentrar o plástico e retirá-lo. O sistema consiste num tubo com 600 metros que flutua no mar e que tem pendurada uma saia com três metros de profundidade. Tira partido de três forças naturais: correntes marítimas, vento e ondas. Tanto o System 001 como o plástico são movidos naturalmente pela corrente, sendo que o vento e as ondas só fazem o sistema funcionar se o tubo se mover e se houver plástico. Reunidas estas três forças, a corrente marítima pressiona a saia, o sistema adopta o formato de U e o plástico concentra-se no centro. O arrastar gerado pela saia actua como força estabilizadora, o que permite que o sistema se auto-redireccione ao sabor do vento e se desloque para as áreas com maior concentração de plástico. É expectável que a cada quatro a seis semanas um navio vá retirar o plástico acumulado para trazê-lo para terra.

O System 001 está equipado com iluminação solar, sistemas anti-colisão, câmaras, sensores e satélites. Comunica a sua posição em tempo real e gera uma quantidade enorme de dados de desempenho, como, por exemplo, se é altura de retirar o plástico. Este é o primeiro de uma frota de 60 sistemas que a Ocean Cleanup prevê que venham a limpar a superfície dos oceanos dentro de um ano e meio. Para cumprir a promessa, os 60 sistemas precisam de retirar 14 mil toneladas por ano.

O objectivo é tentador, sobretudo para um sistema que Boyan Slat não se cansa de chamar “beta”. No entanto, há uma quantidade de personalidades científicas que todos os dias se chega à frente para criticar e alimentar a desconfiança sobre o engenho de Slat. Algumas das “críticas” são muito divertidas. A ilha de lixo do Pacífico é só uma das cinco ilhas de lixo existentes: de que vale limpar uma se vão continuar a existir quatro? O lixo que flutua nestas cinco ilhas é apenas 10% do plástico que está nos oceanos: o que fazer com os outros 90%? O sistema pode pôr a vida marinha em perigo. É pouco provável que a reciclagem deste plástico resulte em algo útil. Mais vale trabalhar em terra para prevenir que o plástico não vá para os oceanos. O sistema não vai aguentar as tempestades oceânicas. A cobertura mediática é brilhante e pode posicionar a System 001 como panaceia para a crise mundial do plástico.

Divertidas, fantásticas e invejosas, estas críticas. Mas Slat responde: “Sabemos que não vamos retirar o plástico todo, mas removeremos tudo o que conseguirmos antes que seja tarde de mais.” Porque a saia é compacta e não de rede, as correntes do oceano empurram a vida marinha para baixo e dificilmente os peixes, tartarugas e plâncton ficarão presos à estrutura. Das missões de reconhecimento realizadas, a maioria do plástico a limpar são peças de grandes dimensões — algumas com 10 metros — e produzidas nas décadas de 70, 80 e 90. Retirar estes monos é garantir que não se fragmentam em microplásticos. Quanto à reciclagem, há uma oportunidade colossal para investigar novos métodos.

Em terra todos sabemos o que fazer: sensibilizar as pessoas e países que ainda não reciclam, pressionar os produtores de plástico a encontrar matérias-primas alternativas, investir em infra-estruturas de captura de plástico e eliminar plásticos de uso único. São só e apenas algumas medidas com impacto.

O System 001 vem juntar-se a outros projectos de sucesso. Na Holanda, a Plastic Whale faz barcos e mobiliário com o plástico que retira dos canais de Amesterdão e do Porto de Roterdão. A Ocean Conservancy já recolheu mais de 200 milhões de quilos de lixo das praias de mais de 100 países e, em Baltimore, o projecto Mr. Trash Wheel — uma roda de água colectora de lixo — já retirou mais de 1,8 milhões de quilos de lixo em Inner Harbor desde Maio de 2014.

Até provas em contrário, Boyan Slat será o novo mestre dos mares. O mestre que está a trazer alguma esperança aos oceanos. Boyan Slat, estou contigo!

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