"Não é meu": altos responsáveis da Casa Branca negam autoria do artigo de opinião do NYT

"Cobarde" e "mau actor": têm sido estas as expressões usadas pelos responsáveis da Casa Branca para descrever o autor do texto anónimo publicado no New York Times.

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"Traição", escreveu Donald Trump no Twitter Reuters/Carlos Barria

Vários altos responsáveis da Casa Branca vieram a público negar a autoria do texto de opinião que põe diz haver um movimento de “resistência” dentro da Casa Branca publicado, nesta quarta-feira, no New York Times.

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Vários altos responsáveis da Casa Branca vieram a público negar a autoria do texto de opinião que põe diz haver um movimento de “resistência” dentro da Casa Branca publicado, nesta quarta-feira, no New York Times.

No artigo – que jornal nova-iorquino publicou, a título excepcional, sob anonimato — revela-se que vários altos responsáveis da Administração Trump têm vindo a trabalhar para evitar a concretização de parte da agenda do Presidente norte-americano. O objectivo é proteger os Estados Unidos dos piores instintos de Trump, lê-se no texto.

A especulação sobre a identidade do autor do artigo começou pouco depois de o artigo ter sido publicado. Até o vice-presidente, Mike Pence, se viu obrigado a esclarecer que não o escreveu. “O vice-presidente assina os seus artigos de opinião”, escreveu Jarrod Agen, porta-voz do vice-presidente num tweet: “O New York Times devia envergonhar-se, assim como a pessoa que escreveu o artigo de opinião falso, ilógico e cobarde.”

O secretário de Defesa, James Mattis, o secretário de Estado, Mike Pompeo, o director dos Serviços Secretos Daniel Coats, o secretário do Tesouro Steven Mnuchin, a secretária da Segurança Interna Kirstjen Nielsen, o secretário para a Habitação Ben Carson, o procurador-geral Jeff Sessions, o secretário da Saúde e Serviços Sociais Alex Azar e a embaixadora nas Nações Unidas, Nikki Haley, também vieram negar a autoria do texto.

Mike Pompeo afirmou que o artigo não era seu, mas que “não é surpreendente” que o jornal o tenha publicado. Foi mais longe e atacou directamente o autor. Disse tratar-se de uma pessoa "descontente" e "com más intenções" e que, quando não se está confortável com um comandante, “só há uma opção — sair”. 

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, pediu aos jornalistas que deixassem de lado a sua “obsessão” com a identidade do alto funcionário que escreveu o artigo: “A obsessão selvagem dos meios de comunicação com a identidade do cobarde anónimo está a manchar de forma imprudente a reputação de milhares de norte-americanos que orgulhosamente servem o nosso país e servem o Presidente”.

Donald Trump foi o primeiro a reagir e usou termos semelhantes para qualificar o autor, ao qual chamou “cobarde”. Criticou o jornal nova-iorquino e voltou a defender a sua governação, argumentando que os recentes indicadores económicos positivos são prova do seu desempenho na Casa Branca.

Mais tarde, o próprio Trump escreveu na rede social Twitter a palavra "traição" e instou o jornal nova-iorquino a revelar a identidade do autor do artigo por motivos de segurança nacional.

O que diz o artigo?

“Faço parte da resistência dentro da Administração Trump” é o título do polémico artigo. Ao longo do texto, o autor explica que chegou a haver conversas discretas entre os membros do Governo de Donald Trump para o remover da presidência. No entanto, foi decidido não se avançar com essa medida para evitar uma crise constitucional.

O artigo de opinião surgiu após a publicação, na terça-feira, dos primeiros excertos do livro do jornalista Bob Woodward, no Washington Post, que descreve um ambiente de caos na Casa Branca.

"Dada a instabilidade que muitos testemunharam, surgiram rumores no interior do Gabinete da possibilidade de invocar a 25.ª Emenda, que daria início a um processo complexo com vista à destituição do Presidente. Mas ninguém queria precipitar uma crise constitucional. Assim, nós faremos o que pudermos para orientar a Administração na direcção certa", escreveu o responsável no artigo do New York Times.

De acordo com a 25.ª emenda à Constituição dos EUA, datada de 1967, o vice-presidente e a maioria dos responsáveis do Governo ou "outro órgão que o Congresso possa, por lei, designar”, podem declarar por escrito que o Presidente é incapaz de "cumprir os poderes e deveres de seu cargo”. Este mecanismo nunca foi usado para destituir um Presidente norte-americano e seria sempre um processo complexo.

"Queremos que o Governo tenha sucesso e acho que muitas das suas políticas já tornaram a América mais segura e mais próspera", disse o autor anónimo. "Mas acreditamos que o nosso primeiro dever é com este país, e o Presidente continua a agir de uma forma prejudicial para a saúde da nossa república".