Aline Frazão: “Morente é um daqueles génios abençoados que nunca perdeu o coração”

Voz celebrada da nova canção angolana, Aline Frazão escolheu o disco onde o cantaor flamenco Enrique Morente reflecte em música o fascínio monumental de Alhambra.

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Aline Frazão DR

Foi um disco que ouviu em Barcelona, numa das temporadas em que lá viveu, há uns quatro anos. E Aline Frazão, cantora e compositora bascida em Luanda, Angola, em 17 de Junho de 1988, deixou-se prender por este trabalho do cantaor  flamenco Enrique Morente (1942-2010): “Morente Sueña La Alhambra é um disco monumental no verdadeiro sentido da palavra. É uma homenagem musical à Alhambra e a Granada, cidade-casa de Morente. Foi o próprio cantaor que produziu e aceitou o desafio de reflectir em dez músicas aquele que é, na minha opinião, um dos monumentos mais fascinantes da Península, tendo em conta a sua história milenar, a belíssima arquitectura, a reverberação das estórias nas paredes de azulejos, a harmonia constante da água a fluir calmamente nos jardins, a paisagem de casas brancas sobre a cidade, a imagem da serra demarcada pela forma única das janelas. Tudo isso está ali inteiro, em verso e voz e coração e alma flamenca. Além disso tem a participação de um elenco de luxo, como Tomatito, Juan Habichuela, Estrella MorentePat Metheny e Cheb Khaled. É um álbum que nos coloca dentro da Alhambra e da biografia de Morente de uma forma comovente. Ganhou um significado maior para mim depois de ter conhecido Granada e a Alhambra no ano passado.”

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Foi um disco que ouviu em Barcelona, numa das temporadas em que lá viveu, há uns quatro anos. E Aline Frazão, cantora e compositora bascida em Luanda, Angola, em 17 de Junho de 1988, deixou-se prender por este trabalho do cantaor  flamenco Enrique Morente (1942-2010): “Morente Sueña La Alhambra é um disco monumental no verdadeiro sentido da palavra. É uma homenagem musical à Alhambra e a Granada, cidade-casa de Morente. Foi o próprio cantaor que produziu e aceitou o desafio de reflectir em dez músicas aquele que é, na minha opinião, um dos monumentos mais fascinantes da Península, tendo em conta a sua história milenar, a belíssima arquitectura, a reverberação das estórias nas paredes de azulejos, a harmonia constante da água a fluir calmamente nos jardins, a paisagem de casas brancas sobre a cidade, a imagem da serra demarcada pela forma única das janelas. Tudo isso está ali inteiro, em verso e voz e coração e alma flamenca. Além disso tem a participação de um elenco de luxo, como Tomatito, Juan Habichuela, Estrella MorentePat Metheny e Cheb Khaled. É um álbum que nos coloca dentro da Alhambra e da biografia de Morente de uma forma comovente. Ganhou um significado maior para mim depois de ter conhecido Granada e a Alhambra no ano passado.”

Há, ainda, a própria expressão do cantaor, criador de um estilo único: “Morente é muito impactante logo à primeira escuta. Outros discos dele já me tinham impressionado brutalmente, como Morente-Lorca e Omega, pela forma inovadora com que trata a matéria-prima do Flamenco tradicional, sem limites nem amarras e sempre verdadeiro, sempre profundamente directo ao coração, sendo genial do ponto de vista musical. A canção que abre Morente Sueña La Alhambra comoveu-me muito na primeira escuta. Meio épica, meio delicada, muito sensorial, com o eco que só as paredes antigas têm.”

De que forma um cantaor como Morente inspira uma cantora como Aline? “Morente inspira-me pela sua atitude de constante abertura e descoberta diante da música. Não tinha medo do rock, nem do jazz. Não temia a mistura e o impuro. É um daqueles génios abençoados que nunca perdeu o coração. É universal e, ao mesmo tempo, nunca deixou de ser de las callejuelas de Granada. A poesia está no centro, a voz é uma verdadeira força da natureza. Não se pode ser melhor do que isso. Morente é e será sempre um ponto cardeal para mim. Acho que teve uma influência directa no Insular e daí para a frente.”

Dentro da Chuva, o novo disco

Aline já tem quatro discos editados: A Minha Embala, um projecto colectivo (2009), Clave Bantu, o seu primeiro disco a solo (2011), Movimento (2013) e Insular (2015). Na próxima semana será publicado o quinto, Dentro da Chuva. “Vai ser editado dia 21 de Setembro (pela NorteSul). Estou muito animada e feliz com este trabalho. Foi gravado no começo do ano, no Rio de Janeiro, e inspira-se musicalmente numa certa tradição cantautora: palavra, voz e violão. É um disco muito minimalista, um quase voz e violão, que é de onde eu venho como compositora e como cantora. Tive a honra de poder contar com as participações do mago Jaques Morelenbaum, do guitarrista e compositor lisboeta João Pires, e da cantora e compositora baiana Luedji Luna. É um álbum muito pessoal que celebra também o meu regresso a Luanda, depois de 10 anos fora. Foi todo escrito lá.”

O novo disco tem já palcos marcados, diz Aline. E em Portugal ouvi-la-emos, ao vivo, em Novembro: “Além da digressão europeia e dos concertos de apresentação do Dentro da Chuva em Angola e no Brasil, vou estar a apresentá-lo também em Portugal, claro, em Novembro, na Casa da Música do Porto dia 9, em Coimbra dia 14 e em Lisboa dia 29, no Teatro São Luiz, do qual guardo lindas recordações.”