Faculdade de Letras do Porto mantém conferência do clima apesar de carta aberta

A directora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto insurge-se contra a carta aberta de um grupo de cientistas e investigadores: "A posição da academia nestas matérias só pode ser uma, a de ser um espaço aberto onde se possa discutir livremente ciência".

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Diogo Baptista

A directora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que acolhe na sexta uma conferência de negacionistas das alterações climáticas, disse nesta quinta-feira que o encontro se mantém apesar da carta aberta de protesto subscrita por mais de 30 cientistas.

Em declarações à Lusa, Fernanda Ribeiro lamenta que "cientistas e universitários considerem que a função da universidade seja impedir que outros colegas possam expor livremente as suas ideias".

A responsável daquela faculdade revela, aliás, que foi informada, esta tarde, de que a conferência será aberta ao público em geral e não apenas àqueles que estavam inscritos, como inicialmente estava definido, o que, no seu entender, "é uma manifestação de abertura total".

"Normalmente só quem paga a inscrição é que participa, mas informaram-me hoje à tarde que quem pagou recebe as actas e os materiais, mas que outras pessoas que queiram participar não estando inscritas podem entrar", afirmou.

Fernanda Ribeiro sublinha que, apesar do respeito e consideração que tem pelos signatários da carta aberta dirigida ao reitor da Universidade do Porto, não se revê nas críticas lá contidas, até porque, reitera, "a posição da academia nestas matérias só pode ser uma, a de ser um espaço aberto onde se possa discutir livremente ciência".

"Nós não temos que andar a fazer censura ou a escrutinar a pente fino todas as situações, porque senão não fazíamos mais nada. A faculdade tem mais 300 eventos por ano, está a imaginar se tivéssemos que ter aqui um serviço para escrutinar caso a caso", defende.

A directora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto lembra que foi uma professora catedrática da casa que pediu o espaço que, garante, fui cedido gratuitamente, contrariamente às informações que têm vindo a circular.

"Nós temos que confiar nas pessoas e dar espaço aos nossos docentes para desenvolverem as actividades científicas que entenderem. Eu não tenho que estar a tomar posição ou para um lado ou para o outro, independentemente da minha opinião pessoal", afirmou.

A conferência "Basic Science of a Changing Climate" que acontece sexta e sábado naquela faculdade é organizada pelo grupo Independent Committee on Geoethics, e tem como objectivo, como se lê no site da própria Universidade do Porto, "(des)construir algumas ideias sobre alterações climáticas".

Entre os oradores está Piers Corbyn, irmão do líder trabalhista britânico Jeremy Corbyn, que considera que a contribuição humana no aquecimento global é "mínima" e que o aumento da temperatura se deve a um aumento da actividade solar.

A realização desta conferência na Faculdade de Letras da Universidade do Porto levou já mais de 30 cientistas de várias instituições do país, a subscreveram uma carta aberta ao reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, em protesto contra a realização desta conferência.

Contactada pela Lusa, fonte da Universidade do Porto afirmou hoje não querer comentar esta carta e que nada mais adiantará sobre o assunto além do que já foi dito.

Em comunicado enviado à Lusa na terça-feira, a Universidade do Porto esclareceu que a realização da conferência deste encontro "não significa que as posições assumidas pelos seus oradores e participantes sejam um reflexo da visão da Universidade do Porto sobre o tema em debate".

Segundo as Nações Unidas, "as alterações climáticas estão a afectar todos os países em todos os continentes" e a perturbar as economias nacionais "hoje e ainda mais amanhã". Os padrões climáticos "estão a mudar, os níveis do mar estão a aumentar, os fenómenos climáticos estão a tornar-se mais extremos e as emissões de gases de efeito de estufa estão agora nos níveis mais altos da história".

Sem acção, alerta ainda a ONU, "a temperatura média da superfície do planeta provavelmente ultrapassará três graus centígrados neste século".

A conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas de Paris, em 2015, obteve o acordo de quase todos os países no sentido de travar o aquecimento global, limitando o aumento da temperatura a menos de dois graus celsius em comparação com a era pré-industrial.

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