Astrónoma doa prémio de 2,5 milhões de euros para físicos que pertencem a minorias

O dinheiro veio da atribuição de um prémio. Jocelyn Bell Burnell diz que não precisa dele e que será melhor usado para tentar acabar com a discriminação de mulheres, minorias étnicas e estudantes refugiados no acesso à ciência.

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Jocelyn Bell Burnell, durante a cerimónia de encerramento da assembleia-geral da União Astronómica Internacional, em 2006 David W Cerny/Reuters

Jocelyn Bell Burnell é uma das maiores astrónomas do Reino Unido e, nesta quinta-feira, soube que irá ser distinguida com o prémio Breakthrough, como reconhecimento da sua carreira científica. Ainda não o recebeu, mas a cientista já deu um destino para o prémio de 2,3 milhões de libras (cerca de 2,5 milhões de euros): servirá para financiar bolsas de investigação em física para minorias.

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Jocelyn Bell Burnell é uma das maiores astrónomas do Reino Unido e, nesta quinta-feira, soube que irá ser distinguida com o prémio Breakthrough, como reconhecimento da sua carreira científica. Ainda não o recebeu, mas a cientista já deu um destino para o prémio de 2,3 milhões de libras (cerca de 2,5 milhões de euros): servirá para financiar bolsas de investigação em física para minorias.

O dinheiro irá financiar mulheres, minorias étnicas e estudantes refugiados que se queiram tornar investigadores em Física. A antiga presidente do Instituto de Física britânico quer beneficiar esses grupos porque acredita que trarão novas ideias à disciplina: “Eu não quero nem preciso do dinheiro para mim e pareceu-me que este seria um melhor uso para o prémio”, disse à BBC.

A professora quer que o dinheiro do prémio sirva para acabar com o “tendência inconsciente” que, acredita, ainda existe na investigação em Física.

Bell Burnell foi distinguida com o prémio Breakthrough não só pela descoberta dos pulsares, estrelas de neutrões, mas também pela sua capacidade de liderança na comunidade científica.

“A professora Bell Burnell merece muito este reconhecimento”, disse Yuri Milner, um dos co-fundadores do prémio, em comunicado. “A sua curiosidade, observações diligentes e análise rigorosa revelaram uns dos mais interessantes e misteriosos objectos no universo”, cita o site Space.com.

A história de Bell Burnell tem servido de exemplo e inspiração para muitas cientistas. Foi durante a licenciatura que fez parte da equipa que descobriu os pulsares. Mas, apesar de ter sido a primeira a observar e analisar estes objectos astronómicos, o seu nome não constou na lista de nomeados para o Nobel da Física. O prémio acabaria por ser entregue aos seus colaboradores, todos homens, em 1974.

Sobre a questão do prémio Nobel, a antiga directora do Instituto de Física sempre adoptou uma postura diplomática: “Claro que há poucas mulheres entre os vencedores do Nobel, à excepção de áreas como a literatura”. “Acho que isso tem que ver com o perfil etário das mulheres que estão na área no momento. Os Nobel quase nunca são atribuídos a jovens; vão para pessoas estabelecidas na área e há muito poucas mulheres a esse nível na física”.

“Encontrei os pulsares porque fazia parte de um grupo minoritária”

Jocelyn Bell Burnell acredita que ter feito parte de um grupo minoritário a ajudou a ter novas ideias, necessárias para descobrir os pulsares, há mais de 50 anos, enquanto estudava na Universidade de Cambridge.

“Encontrei os pulsares porque fazia parte de um grupo minoritário e estava a sentir-me um pouco intimidada em Cambridge”, conta a professora à BBC. “Era mulher e vinha do Noroeste do país, e penso que a maioria das pessoas ali vinha do Sul”, continuou. “Tenho este pressentimento que quem vem das minorias tem um ângulo novo sobre as coisas, o que é muitas vezes uma coisa muito produtiva.”

A actual presidente do Instituto de Física, Julia Higgins, saudou a atitude da professora Burnell e felicitou-a pelo prémio: “Além do seu feito científico, Jocelyn tornou-se numa líder muito respeitada na comunidade. É uma peça fundamental no esforço de acesso à ciência de pessoas de grupos sub-representados”, cita a BBC.