Comissão de Fiscalização alerta para défice de tesouraria de 120 ME no Sporting

Relator dos processos disciplinares à anterior direcção de Bruno de Carvalho garante que o clube não está falido, mas que a situação financeira exige algum esforço

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Bruno de Carvalho pode ser suspenso de sócio por oito anos LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O membro da Comissão de Fiscalização (CF) do Sporting António Paulo Santos avisou esta quarta-feira que o futuro presidente do clube vai encontrar um défice de tesouraria de 122 milhões de euros (ME) até ao final do ano.

Em declarações aos jornalistas, o relator dos processos disciplinares impostos aos anteriores membros do Conselho Directivo, liderado por Bruno de Carvalho, reiterou que "o Sporting não está falido" ou "insolvente", mas salientou que o "milagre financeiro" anunciado no clube não passava de "um mito" e que "a situação financeira exige algum esforço".

"Está a decorrer uma auditoria e ela é que vai dar com exactidão o que se passa. Com base nos relatórios publicados, o grupo Sporting terá um défice de tesouraria até ao fim do ano de 122 ME. [O futuro presidente] Tem de ser alguém com capacidade para negociar com a banca ou outro parceiro", referiu, antevendo um "exercício de gestão muito rigoroso".

Estes 122 ME subdividem-se em 60 ME de défice do grupo Sporting, 32 de pagamentos aos bancos por venda de jogadores e outros 30 referentes ao empréstimo obrigacionista. O elemento da CF revelou ainda que "em termos de receitas futuras já foram adiantados 60 dos 68 ME" que havia a receber de direitos televisivos.

"Não há salvadores no Sporting. O clube tem de ter gestores para poder negociar com a banca. Pode-se ir buscar novos financiamentos, como no naming do estádio. O desafio enorme que se põe aos candidatos é a conciliação da gestão financeira com o projecto desportivo. Não se pode entrar em aventuras", disse, adiantando ainda que os actuais responsáveis - José Sousa Cintra e Artur Torres Pereira - já conseguiram uma diminuição de salários de cerca de 10 ME.

Já sobre os processos disciplinares e as consequentes suspensões aplicadas a Bruno de Carvalho e outros membros do CD que liderava, o relator dos processos defendeu o regresso da "normalidade na vida institucional e democraticidade interna" do Sporting e não deixou de vincar a "imparcialidade" do órgão a que pertence e que cessa funções nas eleições deste sábado.

Bruno de Carvalho foi suspenso de sócio por um ano e, em virtude dos processos que ainda correm contra o ex-presidente, este pode mesmo vir a incorrer numa eventual expulsão. A CF já não deve tomar essa decisão, mas deve, segundo António Paulo Santos, deixar um relatório de apreciação dos factos.

"Se for demonstrada a gravidade dos factos e a violação grosseira dos estatutos pode levar, efectivamente, a uma expulsão de sócio com um prazo de oito anos", disse António Paulo Santos, manifestando ainda dúvidas sobre o êxito da anunciada impugnação do acto eleitoral por parte de Bruno de Carvalho: "Tenho muitas dúvidas que tenha provimento um pedido de impugnação. A não ser por uma qualquer questão formal que desconheço".

Por fim, António Paulo Santos pronunciou-se sobre o processo em torno da Academia do clube, em Alcochete, para garantir que a imputação do crime de terrorismo aos acusados vem reforçar a posição do Sporting no dossier das rescisões unilaterais de contrato dos jogadores que deixaram a equipa de futebol durante este Verão.

"A decisão do Tribunal da Relação veio dizer que o crime é de terrorismo. Isto joga a favor do Sporting, porque não é um acto previsível, é um acto fortuito e vem acrescer à falta de fundamentação para a rescisão. Acredito que o Sporting vai vencer esses processos. Os jogadores não tinham justa causa", notou, sem deixar de admitir um prazo de um ou dois anos para a conclusão desses litígios.

Os órgãos sociais do Sporting vão ser eleitos neste sábado, num acto ao qual concorrem seis candidatos, na sequência da destituição de Bruno de Carvalho, em Assembleia Geral, em 23 de Junho.

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