Bispos portugueses mostram “total apoio” ao Papa Francisco

Reunidos em Fátima, os bispos portugueses dizem-se empenhados em "incrementar uma cultura de prevenção e protecção dos menores" abusados sexualmente por membros da Igreja.

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Bispos portugueses, presididos por D. Manuel Clemente, posicionaram-se ao lado do Papa Nélson Garrido

Os bispos portugueses demonstraram esta segunda-feira o seu “total apoio” ao Papa Francisco e comprometem-se a “seguir as suas orientações para erradicar” o “drama dos abusos de menores por parte de membros responsáveis da Igreja”.

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Os bispos portugueses demonstraram esta segunda-feira o seu “total apoio” ao Papa Francisco e comprometem-se a “seguir as suas orientações para erradicar” o “drama dos abusos de menores por parte de membros responsáveis da Igreja”.

“Também nós partilhamos o sofrimento do Santo Padre e de toda a Igreja e propomo-nos seguir as orientações para erradicar as causas desta chaga. Empenhar-nos-emos em incrementar uma cultura de prevenção e protecção dos menores e vulneráveis em todas as nossas comunidades”, escrevem os bispos portugueses, numa carta enviada a Bergoglio e divulgada nesta segunda-feira, dia em que os bispos se reuniram em Fátima, no Simpósio Nacional do Clero.

No documento, os bispos portugueses dizem-se solidários com o sofrimento do Papa “perante tentativas de pôr em causa a credibilidade do seu ministério”. É uma referência implícita ao ex-núncio do Vaticano em Washington, nos Estados Unidos, Carlo Maria Viganò, que acusou Francisco de ter ajudado a encobrir os abusos sexuais que foram ocultados pelo cardeal norte-americano Theodore McCarrick (num gesto que foi entendido como um "ataque" dos ultraconservadores interessados em obrigar à resignação de um Papa que tem demonstrado uma abertura inusitada em relação a questões como a homossexualidade e o acolhimento dos divorciados e recasados).

Os bispos aproveitam ainda para agradecer “a oportuna e corajosa” Carta ao Povo de Deus que Francisco divulgou a propósito dos abusos sexuais de menores tornados públicos pelo relatório da justiça norte-americana que mostra que no Estado da Pensilvânia mais de mil pessoas foram abusadas por membros da Igreja Católica ao longo de 70 anos. Naquele documento, Francisco qualifica os abusos não só como pecado mas como crime e tece violentas críticas ao clericalismo que tem levado a Igreja a querer proteger-se mais do que às vítimas de tais crimes. 

No sábado, numa carta que escreveu aos diocesanos, o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, pedira "comunhão profunda" com o Papa Francisco, elogiando-lhe a "coragem" e a "lucidez". No domingo, o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) voltou a referir-se ao assunto, para garantir que a Igreja portuguesa está em total sintonia com o ex-cardeal argentino na sua missão de "grande purificação" da Igreja.

Já antes, o cardeal de Leiria-Fátima, D. António Marto, aproveitara a missa dominical de domingo, em Fátima, para apelar à "profunda comunhão" com Francisco que considerou estar a ser vítima de "um ataque ignóbil e organizado" que visa "pôr em causa a sua credibilidade e criar uma divisão na Igreja". 

Colocando-se do lado dos que querem a reforma da Igreja, D. António Marto instou ao empenhamento de todos "na criação de uma cultura de protecção e prevenção dos menores, para que nunca mais se repitam estes escândalos na Igreja". 

Esta manifestação de apoio ao Papa surge numa altura em que, do grupo de nove cardeais que formam o chamado C9,  criado para assessorar o Papa na reforma da Igreja, três se encontram sob suspeita de terem abusado ou ajudado a encobrir casos de violência sexual contra menores por membros da Igreja.