Moradores da Póvoa de Santa Iria querem eliminar ciclovias

Entre as novas ciclovias e o estacionamento, na Quinta da Piedade exige-se lugares para estacionar. Câmara diz que não eliminou nenhum lugar para os carros.

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Rui Gaudêncio
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O projecto da Câmara de Vila Franca de Xira de instalação de troços de ciclovia nalgumas artérias da urbanização da Quinta da Piedade, na Póvoa de Santa Iria, está a gerar muita contestação dos moradores. Alguns lançaram mesmo uma petição e exigem a declaração de “nulidade” da deliberação que conduziu à criação destas ciclovias e medidas para o aumento dos lugares de estacionamento. A Câmara garante que não está a eliminar lugares de parqueamento existentes e que pretende apenas modernizar e melhorar as condições ambientais de uma das zonas mais densamente povoadas do concelho.

Certo é que, segundo os promotores, a petição contra as ciclovias na Póvoa já recolheu várias centenas de assinaturas e será entregue na sessão de Setembro da Assembleia Municipal. A Câmara mostra-se disponível para dialogar e para estudar a criação de mais bolsas de estacionamento na Quinta da Piedade, mas sublinha que em causa poderão estar apenas alguns espaços nas laterais das principais vias da urbanização que os moradores se habituaram a utilizar para estacionar as suas viaturas, mas que nunca foram lugares efectivos de parqueamento.

A edilidade vila-franquense lançou, em 2017, um plano alargado de criação de uma rede de cem quilómetros de ciclovias em todo o concelho. O projecto envolve investimentos faseados superiores a sete milhões de euros, mas a forma como alguns arruamentos existentes têm sido adaptados para a criação de faixas de circulação de ciclistas gerou contestação em Alhandra e está, agora, a motivar muitos protestos na Póvoa de Santa Iria – a cidade mais populosa do concelho, com cerca de 35 mil habitantes.

Paula Fonseca esteve na semana passada na sessão camarária de Vila Franca de Xira, para explicar aos eleitos locais que integra um grupo de moradores que reclama a “declaração de nulidade” do acto de aprovação da construção de ciclovias nas avenidas Afonso Valente, Américo Costa e Ernest Solvay, todas situadas na urbanização da Quinta da Piedade. Com ela estiveram mais uma dezena de moradores, com o mesmo objectivo.

Um deles, Amândio Videira, disse mesmo que, nas condições em que a ciclovia foi instalada no topo da Avenida Ernest Solvay, o futuro da sua família e do quiosque que ali explora ficam seriamente ameaçados, porque 50 por cento dos seus clientes paravam viaturas nas proximidades e, agora, deixam de o poder fazer.

Já Alfredo Gama lamentou que, “para uso de meia dúzia de ciclistas, estejam a prejudicar grandemente a população residente” na Quinta da Piedade. “Foram-nos retirados lugares de estacionamento, quando o estacionamento na Póvoa de Santa Iria é um grande problema. Gostaria de saber o que é que a Câmara vai fazer para repor estes lugares de estacionamento devidos aos moradores, para que os moradores tenham a qualidade de vida que merecem”, sustentou.

Paula Fonseca acrescentou que já escrevera uma carta ao executivo camarário e que foi uma das autoras de uma petição que, ao abrigo do Código de Procedimento Administrativo, da Constituição da República Portuguesa e do direito à habitação, exige a anulação da decisão camarária de instalar ciclovias naquela zona.

“A Quinta da Piedade tem uma elevada densidade populacional. A grande maioria dos habitantes trabalha fora e, alegam, necessita de veículo automóvel para efectuar as suas deslocações. A ciclovia que se encontra em fase de marcações impede o estacionamento e o acesso normal às habitações. Falta estacionamento nesta zona, isso é público e do conhecimento da Câmara e com a pintura daquelas ciclovias o problema da falta de estacionamento fica drasticamente agravado”, criticou a moradora.

Paula Fonseca recordou ainda promessas anteriores de responsáveis da edilidade de criação de mais lugares de estacionamento na Quinta da Piedade. “A situação agrava-se exponencialmente com a construção da ciclovia. É urgente, para além da nulidade da construção da ciclovia, que sejam implementadas soluções que permitam assegurar mais estacionamento nesta zona”, reclamou.

"Nunca conseguiremos ter um estacionamento para cada morador"

Alberto Mesquita, presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, sublinhou, por seu turno, que a autarquia não está a construir estas ciclovias “por capricho ou para aborrecer alguém”, mas porque está convicta que este projecto é importante em termos ambientais, procurando soluções para que os cidadãos utilizem mais a bicicleta e menos o veículo automóvel.

“Nunca conseguiremos ter um estacionamento para cada morador. As pessoas querem estacionar o carro o mais perto possível da sua própria residência, mas aquela urbanização foi construída na década de 90, quando o número de veículos por família era bem menor. E também é verdade que muitas pessoas até têm garagens mas não as utilizam como garagens”, observou o edil, considerando que no futuro a solução poderá ter que passar pela introdução de parquímetros e de estacionamento pago, com cartões de acesso gratuito apenas para moradores.

Depois, Alberto Mesquita garante que não é verdade que a instalação das ciclovias esteja a eliminar lugares anteriormente existentes e que o que está em causa são espaços laterais daquelas avenidas usados irregularmente para estacionar. “Não se pretende com este projecto eliminar nenhum estacionamento, isso é inequívoco", insiste.

O autarca assinala que "as pessoas têm consciência de que, por necessidade, estão ilegalmente a estacionar o carro na via pública, porque não são lugares de estacionamento, nem nunca estiveram ali criados lugares de estacionamento. Sei que à noite não há onde estacionar e que se vêem carros parados em todo o lado, mas também sei que só no mandato anterior criámos novas bolsas de estacionamento na Quinta da Piedade com mais 600 lugares”, afiançou Alberto Mesquita, frisando que “o território é o que é” e que, nesta altura, criar mais espaços de estacionamento na urbanização “só pode ser feito à custa de espaços verdes”.

O presidente da câmara mostrou-se disponível para visitar o local com os moradores e com técnicos municipais para explicar melhor as opções tomadas. “Eliminar estacionamento, não eliminámos. Que é necessário criar mais estacionamento, estamos absolutamente de acordo. Onde? Não conseguimos dizer. Já em tempos tentámos criar mais uma bolsa no Casal da Serra à custa de zonas verdes e houve um levantamento dos moradores, que não aceitaram. Isto é o que é e são os espaços que temos. Temos que procurar soluções de equilíbrio”, rematou o edil.

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