Cortes no orçamento obrigam o Teatro Viriato a adiar e cancelar espectáculos

Foto
MANUEL ROBERTO

A directora do Teatro Viriato, Paula Garcia, assumiu esta segunda-feira que o corte de 90 mil euros imposto pela Direcção-Geral das Artes (DGArtes) à instituição obrigou a reequacionar a programação prevista até ao final deste ano, tendo alguns projectos sido adiados e outros cancelados.

"Não sei precisar quantos foram cancelados, houve uma releitura de toda a programação que estava definida. Há projectos que foram adiados para 2019, há outros projectos que, efectivamente, não vão ser adiados", explicou Paula Garcia.

Na conferência de imprensa de apresentação da programação do Teatro Viriato para os últimos quatro meses deste ano, a directora adiantou que "havia projectos de elevado custo, com um volume grande de equipas artísticas a acolher, e que não foi possível" concretizar.

Paula Garcia disse que "é evidente que é um impacto grande na programação", mas considerou que "talvez seja difícil para o público em geral perceber esse impacto", embora, "obviamente", ele tenha sido sentido na casa, até porque houve a equipa perdeu dois elementos: um contrato, na área da comunicação não pôde ser renovado, e, na área técnica, "um elemento que era bastante importante foi dispensado".

"Ainda hoje não compreendemos como é possível que um projecto com um historial como o do Teatro Viriato (...) tenha sido submetido a um grande corte no orçamento", insistiu, lembrando que a candidatura ficou classificada "em primeiro lugar, a nível nacional", no concurso de apoio sustentado da DGArtes para a área dos cruzamentos disciplinares: "Para nós, é incompreensível. Este projecto foi alvo de um corte inadmissível", lamentou Paula Garcia.

O vereador da Cultura da Câmara Municipal de Viseu, presente na conferência de imprensa, disse que se "torna muito mais difícil o trabalho do Teatro Viriato" e, 'vestindo a pele' das estruturas que sofreram os cortes, assumiu que "é [preciso] saber desmontar um quebra-cabeças": "Não é sustentável, a médio e longo prazo, viver com limitações de financiamento do Estado central deste nível, e o país não esquece a promessa de uma política cultural assente em, pelo menos, salvo erro, 1% do Orçamento do Estado", apontou Jorge Sobrado.

O vereador lembrou que este ano a autarquia viseense "alocou 6% do seu orçamento à cultura", no "financiamento a actividades culturais ou instituições culturais", sem contar com o pagamento a funcionários, precisou. E acrescentou que mantém a "expectativa firme de uma revisão dos meios alocados à cultura e do cumprimento da promessa do reforço aos meios culturais (...), beneficiando projectos de qualidade e projectos descentralizados no território" nacional.

Para 2019, ano em que o Teatro Viriato celebra 20 anos, Paula Garcia admitiu que o financiamento da DGArtes possa de alguma forma vir a ser reforçado, embora talvez não no montante "suficiente". Por isso, confia num diálogo "mais cúmplice" com a autarquia.

A equipa está também a fazer "um trabalho junto do mecenato, para uma relação privilegiada aos 20 anos" da instituição cultural, que "é uma casa de Viseu, é um projecto simbólico no que toca à descentralização das artes performativas em Portugal", acrescentou Paula Garcia.

"Serão 20 anos que esperemos que venham a questionar e a trazer uma discussão pública sobre a descentralização cultural no país, porque nós sabemos falar sobre ela, nós temos essa experiência de vida", assumiu.

O Teatro Viriato concorreu ao Programa de Apoio Sustentado da DGArtes, na área de cruzamentos disciplinares, tendo ficado em primeiro lugar a nível nacional, com um apoio global de 1,320 milhões de euros, para o quadriénio 2018-2021, (os valores a atribuir anualmente estão entre os 307 mil e os 337 mil euros).

O montante solicitado pelo teatro ascendia a 1,599 milhões de euros, para o quadriénio.

Sugerir correcção
Comentar