Tenor português Luís Gomes vence dois prémios no concurso Operalia

O tenor de 31 anos conquistou dois dos oito prémios a concurso. A competição mundial é uma iniciativa criada pelo tenor e maestro espanhol Plácido Domingo, actual director-geral da Ópera de Los Angeles.

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O tenor Luís Gomes tem 31 anos DR

O tenor português Luís Gomes venceu este domingo na categoria de zarzuela e recebeu o prémio do público para melhor voz masculina, no concurso internacional de canto lírico Operalia, que decorreu no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa. A organização anunciou em comunicado a vitória do tenor português no prémio zarzuela (ex-aequo com Pavel Petrov) e no prémio do público para melhor voz masculina.

“Não tinha expectativas nenhumas, vim com o objectivo de fazer o melhor que podia e de pôr em prática o que estudei durante largos meses”, disse Luís Gomes em entrevista ao PÚBLICO antes de serem conhecidos os resultados do concurso. 

O principal desafio na competição, confessava o tenor de 31 anos, foi “gerir a pressão” e “tentar que o ambiente envolvente não interferisse” na sua concentração e naquilo que pretendia levar a palco. Luís Gomes assegurava que tem sido “uma alegria imensa e uma experiência inesquecível” estar na competição.

Como contou ao PÚBLICO, a zarzuela não tinha sido uma área muito explorada por si: “Sou de uma zona do país [freguesia de Sarilhos Grandes, Montijo] em que as bandas filarmónicas e o pasodoble estão presentes constantemente. Habituei-me àquele feeling espanhol e quando era pequeno ouvia os pasodobles que o meu pai ouvia. Apercebo-me agora que muitos eram de zarzuelas. Gosto imenso desta música e poder transportá-la para o palco de ópera então é ainda melhor!”

Música "no sangue"

Luís Gomes estudou no Conservatório Nacional de Lisboa, na Escola Superior de Música de Lisboa e na Guildhall School of Music and Drama em Londres, onde se licenciou em Canto e fez mestrado em Ópera. Passou pela Royal Opera House e, em Junho, estreou-se no palco do Teatro Nacional de São Carlos, em La Traviata, com um papel que vai voltar a interpretar em Outubro no Coliseu do Porto.

Começou aos 11 anos a estudar música em Portugal, sob a orientação de João Paulo Reya. A música, diz, corre-lhe “no sangue” e sempre esteve presente na sua vida. “Desde muito cedo que quis seguir uma carreira musical, desde que me lembro de ser gente que a música tem grande importância na minha vida”, dizia ao P3 em 2013.

À data, Gomes considerava que “a ópera não tem de ser um exercício intelectual para o ouvinte”, ainda que reconhecesse que existe música de compreensão mais difícil para ouvidos menos treinados. E ser cantor lírico envolve muita experiência e muito trabalho: a sua rotina divide-se entre aquecimentos vocais e cantos, com a devida preparação para o dia seguinte, sendo também preciso fazer traduções, estudar o texto e a fonética das línguas “para poder transmitir da melhor forma a mensagem para o público”, explicava o tenor ao P3.

Luís Gomes vive agora em Londres e não pretende participar em mais concursos do género: por um lado, porque está próximo dos 32 anos, habitual limite de idade e, por outro lado, porque pretende “abrir portas para fazer os papéis” que mais deseja “nas casas de ópera mais importantes”.

Os outros vencedores

Emily D'Angelo, representante do Canadá e de Itália, e o bielorrusso Pavel Petrov foram os vencedores do primeiro prémio do Operalia 2018, concurso internacional de canto lírico fundado por Plácido Domingo, realizado este ano pela primeira vez em Portugal. D'Angelo venceu ainda o prémio do público para melhor voz feminina, o prémio zarzuela e o prémio Birgit Nilsson.

Além de Luís Gomes, na final de Ópera estavam qualificados Migran Agadzhanyan (Rússia), Rihab Chaieb (Canadá), Emily D'Angelo (Canadá/Itália), Samantha Hankey (EUA), Johannes Kammler (Alemanha), Long Long (China), Pavel Petrov (Bielorússia), Sean Michael Plumb (EUA), Simon Shibambu (África do Sul), Marina Viotti (Suíça/França) e Arseny Yakovlev (Rússia).

Na final do prémio zarzuela estiveram Emily D'Angelo, Luís Gomes, Pavel Petrov, Josy Santos (Brasil) e Vanessa Vasquez (Colômbia/EUA).

O Concurso Mundial de Ópera Operalia, que já vai na 26.ª edição, é uma iniciativa criada por Plácido Domingo, actual director-geral da Ópera de Los Angeles (Califórnia).

O júri do concurso integra, sobretudo, directores-gerais de teatros de ópera internacionais, entre os quais Patrick Dickie (director artístico do São Carlos), Anthony Freud (da Ópera Lírica de Chicago), Joan Marabosch (do Teatro Real de Madrid) e a soprano Marta Domingo, mulher de Plácido Domingo.

A primeira edição do Operalia realizou-se em 1993, em Paris, tendo já acontecido em cidades como Tóquio, Hamburgo, Budapeste, Milão, Moscovo, Pequim, Verona, Los Angeles, Cidade do México, Londres, Madrid e Guadalajara.

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