O Tesla é como a miúda mais popular da escola

Há quem conduza um e fique logo apaixonado, querendo levá-lo para casa na hora. Pela parte que nos toca, limitámo-nos a experimentar dois modelos e concluímos que o S e o X são carros de outro mundo.

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Lembra-se da miúda mais popular da escola? Aquela que tinha a roupa mais gira, a mochila mais gira, o namorado mais giro? Aquela pela qual os rapazes ficavam a suspirar e as raparigas sentiam uma inveja profunda por não serem como ela? O Tesla, independentemente do modelo que se conduza, tem precisamente esse efeito — é a tal miúda que todos querem e de quem todos têm inveja.

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Lembra-se da miúda mais popular da escola? Aquela que tinha a roupa mais gira, a mochila mais gira, o namorado mais giro? Aquela pela qual os rapazes ficavam a suspirar e as raparigas sentiam uma inveja profunda por não serem como ela? O Tesla, independentemente do modelo que se conduza, tem precisamente esse efeito — é a tal miúda que todos querem e de quem todos têm inveja.

A Fugas foi convidado a experimentar dois modelos, o S e o X. O 3, já se sabe, é aquele que tem listas de espera e cujas entregas estão previstas para o próximo ano. Primeiro veio o S. A maior dificuldade é tirá-lo da garagem do El Corte Inglès, em  Lisboa, local onde os carros estão expostos e os interessados podem não só vê-los como experimentá-los. Há quem conduza um e se apaixone de tal maneira que o queira levar logo, como aquele cliente que foi experimentar e quando regressou insistiu com o vendedor — “Preciso mesmo deste carro para o fim-de-semana”, era quarta-feira — e foi de tal maneira perseverante que acabou por comprar o veículo de teste, conta o vendedor, enquanto sobe com todo o cuidado para que as jantes não se risquem nas voltas e mais voltas da saída do parque.

Já cá fora, a lição para conduzir o Tesla é simples e rápida porque, percebemos, tudo é muito intuitivo, entre as mãos que mexem nos manípulos por detrás do volante e um dos pés que decide entre o pedal do travão e o da aceleração. “Posso arrancar? Já está ligado?” Sim, a partir do momento em que nos aproximamos do carro e ele abre a porta do condutor porque, algures, detecta a chave — não precisa sequer de estar na mão, pode andar perdida na mala —, está pronto para arrancar.

Ajustamos o banco às nossas pernas curtas, subimo-lo levemente para ficarmos com um ar digno e vermos melhor o que se passa no exterior e os espelhos parece que se regulam sozinhos, embora tenhamos de dar um último jeito para ficarem perfeitos. Se quisermos podemos guardar estas alterações, uma função útil se partilhar a condução do mesmo veículo com outras pessoas. Agora é só fazer o pisca, pôr o pé no acelerador e lá vai ele, suave e silencioso a descer a rua, sem qualquer esforço e sem barulho.

Tudo parece uma novidade, a começar pelo ecrã táctil. Esse é imbatível, nenhum outro modelo de produção em série terá um tão grande — 17 polegadas —, cheio de cores e de opções, desde as mais óbvias, como o rádio, a ligação ao telemóvel via Bluetooth, abertura de portas, os mapas e a navegação por GPS ou as câmaras para ajudar a estacionar ou a fazer marcha-atrás, até às mais informativas, como a capacidade da bateria, actualizações do desempenho, a possibilidade de conduzir de forma mais suave ou mais desportiva, onde estão os pontos onde o carro pode ser carregado; passando pelas aparentemente mais inúteis mas, em simultâneo, as mais luxuosas, como o calendário sincronizado com a nossa agenda, acesso permanente à Internet e a uma assinatura Spotify.

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Assim que paramos no primeiro semáforo, escolhemos um álbum para ouvir; e no segundo digitamos www.publico.pt para dar uma vista de olhos ao que se passa no mundo. Para quem tem miúdos pequenos, não há propriamente filmes — pode sempre ir buscá-los ao YouTube, por exemplo — mas há criatividade para aplicar no ecrã onde se pode desenhar e colorir. Também se pode ver o carro a ser conduzido em tempo real ou, por exemplo, na superfície de Marte.

Anda sozinho

O pára-arranca é uma óptima altura para deixar o Tesla andar sozinho, ou seja, em piloto automático. Basta dar um toque num dos manípulos do lado esquerdo do volante e, se as câmaras exteriores identificarem as guias da estrada, o carro assume que pode ir sozinho. Ao todo, o veículo tem oito câmaras, visão 360º, radar, 12 sensores e isso ajuda a que faça uma condução autónoma. Sempre com os olhos na estrada e as mãos a fazer sombra no volante — não o podemos agarrar, assim como não podemos travar ou acelerar para que a magia não acabe. Se o fizermos, o piloto automático desliga-se, assim como se desliga se deixar de identificar guias na estrada — lá vamos nós, um pouco amedrontados.

Mas no ecrã vemos tudo, os carros que vão à nossa frente, atrás e dos lados. E ele lá vai, conservando sempre uma distância de segurança superior à que o condutor manteria. E lá segue, ganhando a nossa confiança, mesmo quando pomos o pisca e ele muda de faixa sozinho. Também tentamos o piloto automático na auto-estrada e lá vai ele, nunca excedendo os 120 km/h de velocidade, e tudo corre bem até ao momento em que começa a fazer a curva e somos vencidos pelo medo. Deitamos as mãos ao volante, como quem não permite que o seu destino fique nas mãos de uma máquina, e o piloto automático pára de imediato. Sabemo-lo porque ele avisa. Colocamos o pé no acelerador, fincamos bem as mãos no volante e lá vamos, experimentando a potência não de um, mas de dois motores. É que o Tesla tem um motor duplo, um à frente, mais pequeno, e outro maior atrás. Desta forma, diz a marca, “controla de forma digital e independente o binário das rodas dianteiras e traseiras”, resultando numa “tracção inigualável em todas as condições climatéricas”.

Outra das características de segurança sublinhada pela marca é o facto de a bateria ser instalada no piso do carro, o que baixa o centro de gravidade, “de modo a que o risco de capotamento” seja “de cerca de metade do de qualquer outro veículo desta classe”. A segurança reflecte-se ainda na bagageira dianteira — no sítio onde está na maioria dos casos o motor movido a gasóleo ou gasolina —, que “actua como uma gigantesca zona de absorção de impacto”.

E depois é preciso experimentar a promessa de chegar dos 0 aos 100km/h em 2,7 segundos — no caso do modelo S (o X, que é um SUV, reclama o tempo de 3,1 segundos). Não vamos fazê-lo dentro da cidade e aproveitamos uma estrada secundária por onde não passa ninguém, entre duas aldeias, para experimentar. O conselho é para que esteja bem instalado, recostado na cadeira e, se não for o condutor, com as mãos bem agarradas ao banco e os pés presos ao chão porque a sensação é a mesma de quem vai levantar voo. No final, o riso de nervoso e excitação toma conta de nós. “Outra vez!” Repetimos a façanha, prego a fundo, e a sensação é exactamente a mesma.

Não experimentámos a aplicação para o telemóvel que permite saber que temperatura está dentro do carro, abrir as bagageiras (tem uma à frente e outra atrás), as actualizações de software, mas também possibilita tirá-lo do estacionamento com o condutor à espera, imagine-se, junto às cancelas.

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Condicionados pelo carregador

Brincadeiras como acelerar dos 0 aos 100km/h não são amigas da bateria, que se gasta mais, como aliás acontece com os motores tradicionais quando se pisa o pedal do acelerador. Por isso, tentamos fazer uma condução mais amiga da bateria, que não só tem de ser carregada como se vai gastando ao longo dos anos. O Tesla tem uma garantia de oito anos com quilómetros ilimitados para a bateria e motores e quatro anos ou 80 mil quilómetros para o resto do carro.

A marca aconselha a que se faça uma revisão técnica anualmente, embora não seja um requerimento para manter a garantia, salvaguarda. “Uma questão importante é a drástica redução dos custos de manutenção, pois os carros eléctricos não têm líquidos para verificar e têm cerca de mil peças a menos que um carro de combustão”, diz a Tesla, em comunicado. Com preços de venda ao público que começam nos 100 mil euros — não se esqueça que há sempre elementos que vai querer acrescentar ao seu modelo, como o piloto automático (5400 euros) ou, no modelo S, mais dois lugares atrás, fazendo crescer o carro para sete passageiros, terá um valor acrescido de 4300 euros —, é preciso fazer bem as contas.

E para quem não tem garagem é aconselhável fazer esse investimento adicional porque o Tesla precisa de um lugar só seu. Sem garagem, os dias de experimentação dos dois modelos foram de stress. Se tivéssemos garagem, o carro carregar-se-ia durante a noite, como é apanágio dos eléctricos. Deixá-lo na rua, a carregar num dos vários carregadores disponíveis, é um convite aos curiosos para espreitarem, tocarem e até para se recostarem em cima do capot para tirar uma selfie, como aconteceu com um casal de namorados, logo da primeira vez que estacionámos o carro na rua e voltámos atrás por nos termos esquecido de uma mala no seu interior. Ali estavam eles, ela com os ombros encolhidos e a fazer olhinhos e ele agarrado a ela e de braço no ar a segurar o telefone. “Desculpe, nunca tínhamos visto um”, justificaram, deslizando até ao chão.

Decidimos carregar no El Corte Inglès, durante uma noite. Como o parque de estacionamento abre à mesma hora que o estabelecimento, regressámos no dia seguinte, às 10h, e pagámos cerca de 20 euros do parque — o que equivale a um terço de um depósito de gasolina, fazemos o cálculo. Também experimentámos na garagem de um amigo e descobrimos no mapa que surge no ecrã quais são os hotéis onde podemos fazê-lo. “Mas não pode lá deixar durante a noite”, avisa a assessora da Tesla, pois esses carregadores estão pensados para os clientes, justifica. O veículo carrega até 80km por hora.

Em resumo, pode ser carregado em casa; nos carregadores na rua ou em estabelecimentos públicos, como centros comerciais; na rede de supercarregadores que existem em Braga, Fátima e Montemor-o-Novo e agora em Alcácer do Sal (em 20 minutos carrega 250km); e em hotéis e restaurantes (actualmente existem 92 pontos em Portugal).

E voltamos à miúda gira da escola porque o exterior (e o interior) dos dois modelos suscitam enorme curiosidade, talvez por se verem pouco, mas sobretudo por terem um design muito apelativo. Com o modelo S, um sedan, há quem pare mesmo no meio da passadeira, com duas crianças pela mão, e fique a admirar o carro demoradamente, enquanto as meninas puxam o pai para chegar ao outro passeio. Ou quem vá de encontro a outro transeunte porque ambos caminham em sentidos contrários com os olhos postos no Tesla. Ou quem, dentro de outro carro, procure acompanhar a nossa velocidade como se de uma competição se tratasse: “Ei, miúda, estás a ver como eu sou bom?” Há outros veículos que atrasam o andamento do pára-arranca da cidade só para espreitarem para o interior do Tesla.

O modelo X, embora maior e com o seu pára-brisas panorâmico, passa mais despercebido — e confunde a portagem da auto-estrada, que fica na dúvida se aquele é um veículo classe 1. É — ou então já nos habituámos a ser o centro das atenções. Mas causa mais furor quando estacionamos e as portas traseiras, as chamadas “portas de asas de falcão”, sobem e mantêm-se no ar. Estas têm seis sensores cada uma, que lhes permite abrir de maneira diferente. Por exemplo, numa garagem com o tecto muito baixo, elas não batem; e estacionado ao lado de outro carro, a porta abre só até onde consegue, sem tocar no outro. Em suma, se tiver algum obstáculo à frente, a porta é muito cuidadosa, caso contrário sobe por aí acima, deixando antever um interior de luxo onde cabem até sete bancos. “Uau… Imagina-te a fazer ali o Kiki Challenge…”, comenta um grupo de amigos que, no parque das ruínas do restaurante panorâmico de Monsanto, em Lisboa, está a filmar o saltar do carro em andamento para dançar e regressar ao seu interior. Um vídeo que talvez sirva para impressionar a namorada que será, certamente, a miúda mais gira da escola.

A Fugas experimentou os modelos S 100D (com autonomia de 613km) e X P100D (com autonomia de 542km) a convite da Tesla