Poderá o design gráfico salvar os jornais?

Algo com o qual todos concordamos também é que as primeiras leituras, aquelas na diagonal, são muito visuais. São mancha, são cor, são grafismo. Quero apenas dizer que fazem falta mais designers numa redação. Muitos mais!

No verão leem-se jornais. Ou melhor, eu no verão compro jornais!

Leio as notícias no velho formato do papel, com o vento e a areia a bater nas páginas, que tanto trabalho dão a dominar se fizermos praia na Ericeira ou em Santa Cruz.

Não quer isto dizer que defendo o papel ou seu fim. Que defendo o digital ou que prefiro o analógico. Não!

Quer isto dizer que as alternativas para nos informarmos, para sabermos do mundo, são várias. Analógicas, digitais, papel, site, app, redes socias, enfim... um sem fim de opções.

Li eu numa conceituada revista de design que num estudo recente do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, que entrevistou cerca de 18 mil pessoas em todo o mundo, 67% dos entrevistados disseram que não confiam nos media.

Alguns especialistas apontam o dedo à rapidez com que os meios digitais disparam notícias e informação.

Será mesmo essa a razão? Não sabemos.

Outros dizem que o problema é o volume. Ou seja, para além da velocidade, a quantidade de informação que nos chega é demasiada para processar. Eu diria até que é demasiada para ler ou até mesmo só para lhe passar os olhos na diagonal. Demasiada!

Algo que temos todos que concordar é que as narrativas digitais, ou impressas, são o pilar dos jornais. E algo com o qual todos concordamos também é que as primeiras leituras, aquelas na diagonal, são muito visuais. São mancha, são cor, são grafismo.

E se o primeiro sinal é visual, a primeira informação a passar é também ela... visual!  

E então? Isso traduz-se ou não em mais designers numa redação? E isso poderá ou não traduzir-se numa aposta na formação de profissionais híbridos que dominem texto e imagem? E, por conseguinte, isso traduzir-se-á ou não em melhores notícias? E terá ou não mais cliques, mais vendas, mais leitores? Também não sabemos!

A globalização e o mundo digital estimularam alguns jornais a investir em novos meios de distribuição dos seus conteúdos para os leitores. Em apenas quatro anos o gigante Times, com três milhões de assinantes no formato digital, é agora uma publicação decididamente e assumidamente... digital em primeiro lugar. O Times colocou o jornalismo visual em primeiro lugar e está a redefinir os conteúdos de forma a serem o mais visuais possível. Se bem que em 2016 apenas 12% dos artigos continham um componente visual. O objetivo é, no entanto, atingir 50% o mais rápido possível, o que significa (e é aqui onde eu queria realmente chegar) que não só fazem falta mais designers nas redações, mas também mais designers em posições de liderança.

O Times começou cedo a sua “revolução visual”. Não a começou há quatro anos, mas sim há cerca de 40, quando nos anos 70 deu a direcção de arte do jornal a Louis Silverstein. Este designer aboliu o tradicional, sem nunca o descurar, adoptou as manchas tipográficas, sem nunca as exagerar, adicionou o branco, sem nunca o banalizar.

Uma das marcas de Silverstein foi o uso da informação visual de dados, ou seja, as infografias, ou o data visualization se preferirem algo mais trendy.

Otto Neurath, um sociólogo que preconizou o movimento Isotype no início do século XX já defendia que a informação visual permite chegar a muitos mais, com descodificação muito mais fácil, gastando-se muito menos tempo. Eu diria que nos tempos que correm, esta visão ganha força. Muita força!

Não só no Times, mas também em exemplos nacionais como o PÚBLICO, o tom, a linguagem, os grafismos têm vindo a mudar ao longo dos anos. Muitas das narrativas visuais prestam-se a um estilo de escrita mais conversacional, menos tradicional. Diria até, mais visual.

Não quero com isto dizer que “o texto” está morto. Não!

Quero com isto dizer que só o texto não é suficiente.

Quero com isto dizer que proprietários, editores, jornalistas e designers precisam entender o relacionamento que existe entre a gestão de um jornal e o seu produto resultante.

Quero com isto dizer que proprietários, editores, jornalistas e designers têm que se entender!

Quero apenas dizer que fazem falta mais designers numa redação. Muitos mais!

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