A voz da paz israelo-palestiniana

Morreu Uri Avnery, considerado uma constante voz do chamado “campo da paz” em Israel, designado pela comunicação social israelita “guerreiro pela paz” e defensor da solução de dois Estados.

No passado dia 20 de Agosto, faleceu, aos 94 anos, num hospital de Telavive, Uri Avnery, considerado uma constante voz do chamado “campo da paz” em Israel, designado pela comunicação social israelita “guerreiro pela paz” e defensor da solução de dois Estados: um israelita e outro palestiniano.

Como manifestação de paz, recorda-se um encontro com Yasser Arafat, por ocasião da invasão do Libano por Israel. Para o efeito, passou de Beirute oriental, controlado por Israel, para a parte ocidental, onde ocorreu a entrevista. Tal facto valeu-lhe a acusação de “traidor”.

Critico das acções militares israelitas nos territórios ocupados, através da sua organização, “Bloco da Paz”, fundada em 1993, enviou várias cartas aos chefes militares nos territórios ocupados acusando-os de “serem culpados de crimes equivalentes a crimes de guerra”. Alguns dias antes de morrer, criticava num artigo publicado no jornal Hàaretz, a celebre lei do Estado-Nação que determina “Israel como pátria histórica do povo judaico e, nela, ele tem o direito exclusivo à autodeterminação nacional” (PÚBLICO, de 21.08.18) Esta lei, sobre a qual escrevi neste jornal, em artigo de 27.07.18, foi duramente criticada pela comunidade internacional, considerando-a antidemocrática e racista.

Recorde-se que Uri Avnery junta-se a muitos outros insignes cidadãos judeus que ao longo dos tempos têm criticado severamente as políticas dos diversos governos de Israel. Já aqui falei de outras importantes figuras do judaismo, como, por exemplo, Theodor Herzl, Nahum Goldmann (presidente do Congresso Mundial Judaico), o filósofo religioso Martin Buber, Avraham Burg, antigo presidente do Knesset, que escreveu, em 2003, um artigo, com título "O colapso de uma sociedade israelita falhada” (International Herald Tribune, 6/7 Setembro de 2003). Todos eles se opuseram ao terror e à guerra e defenderam a colaboração entre judeus e árabes.

Merece também destaque Sigi Feiguel, presidente honorário da Comunidade de Culto Israelita de Zurique dizendo que a política Israelita está a ser cada vez mais rejeitada também pelos judeus europeus. Numa carta ao então primeiro ministro, Ariel Sharon, dizia: “Ninguém causou mais insegurança e ninguem colocou mais em perigo a paz do que o senhor, ninguem envergunhou mais Israel nem o comprometeu e isolou mais do que o senhor, primeiro ministro”.

As exigências de Sigi Feiguel merecem também destaque: “O muro deve desaparecer; os actos excessivos de represálias do exército devem terminar; os colonatos devem ser eliminados; Jerusalém deve ser partilhada com os Palestinianos”. E conclui que estava consciente de que a paz para Israel envolve riscos e sacrifícios, mas, de qualquer maneira, eles são certamente mais reduzidos do que os riscos da actual situação” (Neue Zurcher Zeitung, 04.01.2004).

Como se vê, Uri Avnery não está só na sua luta pela paz.

Recorde-se que a hostilidade entre muçulmanos e judeus não é uma inevitabilidade histórica, pois, em muitos aspectos, estão mais próximos entre si do que em relação aos cristãos. Ao longo dos séculos conviveram bem, por exemplo, em Espanha, Istambul e Balcãs. O profundo antagonismo surgiu apenas no século XX, com o conflito do Médio Oriente, entre israelitas e palestinianos, pelo que a paz não será possivel sem se resolver este conflito. Torna-se, portanto, fundamental que os políticos de Israel tenham em atenção o pensamento não só das mencionadas figuras do sionismo, mas também de outras figuras importantes do judaismo.

                           

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