Ruas do centro histórico de Coimbra têm nova morada na Internet

Arquivo Digital que agrega informação em vários formatos resulta de uma parceria entre Jazz ao Centro Clube e Universidade de Coimbra.

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O arquivo inclui documentos visuais e sonoros sobre a cidade Diogo Baptista

Há mais uma entre as inúmeras hipóteses de percurso para aceder ao centro histórico de Coimbra. De uma parceria entre o Jazz ao Centro Clube (JAC) e vários braços da Universidade de Coimbra (UC) nasceu o Arquivo Digital do Centro Histórico de Coimbra (ADCHC), uma plataforma que pretende reunir informação de vários formatos sobre a área mais antiga da cidade.

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Há mais uma entre as inúmeras hipóteses de percurso para aceder ao centro histórico de Coimbra. De uma parceria entre o Jazz ao Centro Clube (JAC) e vários braços da Universidade de Coimbra (UC) nasceu o Arquivo Digital do Centro Histórico de Coimbra (ADCHC), uma plataforma que pretende reunir informação de vários formatos sobre a área mais antiga da cidade.

A plataforma que foi apresentada esta quinta-feira no Convento São Francisco agrega fotografia, som, vídeo e documentação e requer a colaboração da comunidade. “Um dos objectivos do arquivo é que seja alimentado pelos contributos de qualquer pessoa”, explicou Catarina Pires, do serviço educativo do JAC, ao PÚBLICO, à margem do lançamento. A responsável refere que o site “é o primeiro objecto para a materialização da ideia do ADCHC e para a disponibilização online do arquivo sonoro do centro histórico de Coimbra”.

Quem acede ao site encontra um polígono de perímetro vermelho desenhado por cima do mapa de Coimbra, numa zona que vai do Jardim da Sereia e se estende à Baixa e à margem do Mondego. Os vários pontos dispersos pelas ruas indicam a informação existente. Todos os conteúdos estão datados e georreferenciados, sendo que os documentos disponíveis neste momento de arranque vão de 1902 a 2018. Parar inserir a sua própria informação, basta criar um perfil e submetê-la, estando apenas sujeita a aprovação dos curadores do site.

Para montar o projecto, o JAC, que tem as suas instalações no Salão Brazil, no coração da Baixa da cidade, articulou-se com o Departamento de Engenharia Informática e com a Faculdade de Economia da UC, que ajudaram a moldar plataforma. A concepção do site ficou a cargo do estudante Daniel Lopes, aluno de mestrado em Design e Multimédia. “O meu papel foi desenhar e programar a plataforma e desenhar a imagem gráfica”, descreve o estudante de 23 anos que foi orientado por Pedro Martins e João Bicker. Os dois docentes estavam já ligados a um outro projecto desenvolvido pelo JAC e pela UC, de mobiliário interactivo que dá a ouvir paisagens sonoras do centro histórico de Coimbra.

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Imagem do novo repositório digital de Coimbra DR

O ADCHC teve o ponto zero no Museu Temporário de Memórias, um espaço efémero que esteve aberto durante o Verão de 2016 , na Baixa. No âmbito desse projecto foi empreendido um “levantamento de informação muito relevante de história da cidade”, recorda Catarina Pires. Juntando essa recolha ao trabalho desenvolvido pelo paisagista sonoro Luís Antero para a criação do arquivo sonoro da cidade, “havia interesse em reunir muita informação dispersa sobre o centro histórico”, afirma Catarina Pires.

Utilização artística e académica

Quando se fala em reunir informação dispersa, fala-se também em teses de mestrado ou doutoramento ou outro tipo de trabalhos académicos produzidos sobre a Baixa de Coimbra. É neste campo que entra a FEUC, com a pesquisa, produção e inserção de conteúdos. A docente de Sociologia, Sílvia Ferreira, fala na “recolha e sistematização da produção científica sobre o centro histórico”, como uma primeira fase da colaboração.

Sílvia Ferreira sublinha o potencial da plataforma e do seu papel de agregador de trabalhos de diagnóstico e identificação de problemas levados a cabo pelos estudantes. “Os alunos podem vir a fazer levantamentos estatísticos, de histórias de vida ou biográficos que depois podem ser canalizados para o arquivo”, exemplifica.

Mas a plataforma vai funcionar em dois sentidos. Se se alimenta dos contributos da comunidade, também se pretende que contribua para a difusão do conhecimento, servindo como base de dados. E como pode essa informação ser trabalhada? A socióloga exemplifica com a cadeira de Gestão de Projectos, que lecciona na FEUC: “Os estudantes podem desenhar projectos de intervenção social orientados para aquele território, a partir da informação que está na plataforma”. E esses projectos até podem não se cingir apenas a Coimbra. Para a docente, o centro histórico de Coimbra “retrata muitos dos processos que estão a acontecer noutros sítios” com a “turistificação, envelhecimento e abandono”, pelo que os trabalhos poderão ter um valor “demonstrativo e de problematização”.

O momento seguinte do projecto vai incluir o convite a “pensar artisticamente a plataforma”, para que os conteúdos disponíveis possam ser trabalhados, explica Catarina Pires. Um exemplo de o que pode ser feito foi dado na apresentação do ADCHC, com o concerto do projecto @C (Miguel Carvalhais e Pedro Tudela), com uma composição criada a partir das paisagens sonoras do arquivo.