Fatima Al Qadiri, Foxy Moron e Alex Baczynski-Jenkins baralham formatos e ideias em Serralves

A quarta edição de O Museu como Performance, dias 8 e 9 de Setembro, apresenta projectos de artistas nacionais e internacionais que transitam livremente entre a dança, a performance, a música e as artes visuais.

Fotogaleria
Fatima Al Qadiri
Fotogaleria
Hannah Catherine Jones

Dar espaço a “formas mais ou menos inclassificáveis, poliédricas e híbridas” é uma das principais premissas da quarta edição do programa O Museu como Performance, que no fim-de-semana de 8 e 9 de Setembro activa o Museu de Serralves, no Porto, com uma série de propostas multifacetadas e orgulhosamente inconformistas no que toca a rótulos e denominações estáveis. A equipa de programadores, constituída por Cristina Grande, Pedro Rocha e Ricardo Nicolau, procurou trazer criações de artistas nacionais e internacionais que “cruzem de facto os universos da dança, da performance e da música, sem pertencer exclusivamente a nenhum deles”, explicam ao Ípsilon.

Este posicionamento “contra a normatividade” encontra “uma reverberação evidente” em alguns criadores e respectivos projectos. É o caso de Fatima Al Qadiri, artista visual, compositora e produtora de música electrónica que vem apresentar, em modo drag e no dia 9, o seu último disco, Shaneera, onde explora identidades e expressões de género no Golfo Pérsico fora da cisheteronorma e dos pressupostos queer das culturas ocidentais. O questionamento identitário do género e das sexualidades sustenta também o trabalho de Alex Baczynski-Jenkins: Us Swerve é uma performance duracional (dia 8, 17h30-20h30) sobre o desejo e o afecto, em que os intérpretes, de patins em linha, vão recitando e reformulando em movimento um arquivo queer de poemas de autores como Eileen Myles ou Langston Hughes.

Em destaque nesta edição está igualmente Hannah Catherine Jones, aka Foxy Moron, compositora, investigadora, apresentadora de rádio e fundadora da Peckham Chamber Orchestra, em Londres. Vem ao Porto com dois trabalhos, Owed to White Noise (dia 8) e Owed to Suspension (dia 9), nos quais recorre a instrumentos, à voz e ao vídeo para reflectir sobre as heranças ainda muito vivas e ainda muito mortíferas da escravatura e do colonialismo. De ascendência afro-caribenha, Jones serve-se do afro-futurismo para fazer um trabalho pessoal e político de descolonização e auto-reparação.

Foi esta dimensão da linguagem artística polifónica de compromisso político que conduziu a equipa de curadores a apostar em Dance is Ancient, uma performance duracional-versão-pista-de-dança de Frédéric Gies, em colaboração com Fiedel, DJ residente do club Berghain, meca da música techno em Berlim (dia 9, 18h-21h30). Neste projecto, “à história canónica da arte, de raiz greco-romana, e da dança clássica, vêm-se juntar referências a culturas musicais underground e ao estabelecimento de comunidades reunidas em torno da música electrónica e das raves”, dizem os programadores de O Museu como Performance. “Esta ligação ao arcaico, ao ritualístico, ao transe” também “se pressente” nas propostas da coreógrafa Catarina Miranda, Mazezam (dias 8 e 9), e do artista multimédia e multi-instrumentista Xavier Paes, que se apresenta em dose dupla com Berrante (dia 8) e Metal Locker Acoustics (dia 9).

“A possessão e o transe são duas palavras que servem ainda para caracterizar o trabalho de Nora Turato”, acrescentam os programadores. A partir de fragmentos de textos sacados das redes sociais e de uma performance spoken word intensa e provocadora, a jovem artista croata “coloca em questão as ‘políticas de intimidade’ na era digital” e discorre sobre a internet enquanto “depósito de frustrações pessoais e políticas” (dias 8 e 9).

Asuna, Nina Santes, Vera Mota (com uma peça em estreia) e Rui Penha/ João Dias completam O Museu como Performance 2018.

Sugerir correcção
Comentar