Funcionário acusa Facebook de intolerância com ideias conservadoras

Engenheiro que trabalha na rede social há seis anos diz que não é possível expressar opiniões contrárias à “ideologia com pendor de esquerda”. Não é o primeiro caso do género.

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Foram poucos os funcionários que aderiram ao grupo de protesto Toby Melville/Reuters

As inclinações políticas do Facebook, uma plataforma que se define como um espaço para todo o tipo de ideias, voltaram a ser questionadas – mas, desta vez, a contestação é interna.

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As inclinações políticas do Facebook, uma plataforma que se define como um espaço para todo o tipo de ideias, voltaram a ser questionadas – mas, desta vez, a contestação é interna.

Um engenheiro do Facebook criou um grupo na rede social em protesto com o que diz ser uma cultura de intolerância da empresa face a ideias que não sejam de esquerda. No primeiro dia, o grupo contava com a adesão de cerca de 120 funcionários, uma gota no oceano de 30 mil pessoas que a multinacional emprega. Mas a iniciativa acabou por correr as notícias em todo o mundo e é mais um sinal de como as grandes plataformas de informação online têm tido dificuldades em manter a ideia de que são ideologicamente neutras.

Numa nota escrita numa ferramenta interna da empresa e dirigida aos colegas, o mentor daquele grupo, que trabalha há mais de seis anos no Facebook, disse que há uma cultura empresarial que não aceita opiniões divergentes, levando a que muitas pessoas prefiram ficar em silêncio para não porem em risco a carreira.

“Somos uma monocultura política que é intolerante a diferentes pontos de vista. Apregoamos que somos abertos a todas as perspectivas, mas somos rápidos a atacar – muitas vezes em grupo – qualquer pessoa que apresenta uma visão que pareça opor-se à ideologia com pendor de esquerda”, lê-se na mensagem, que foi revelada pelo jornal The New York Times.

A mensagem também refere que foram retirados do Facebook cartazes de apoio a Trump e que os funcionários frequentemente propõem que o empresário Peter Thiel, um ultralibertário apoiante de Donald Trump, saia do conselho de administração da empresa (Mark Zuckerberg já afirmou publicamente que pretende manter Thiel, porque este ajuda a que haja diversidade daquele órgão).

O texto termina a dar conta da criação de um grupo fechado no Facebook, chamado “FB’ers for Political Diversity” (Facebookers pela Diversidade Política) e que tem como objectivo “ajudar o Facebook a tornar-se numa empresa mais tolerante e ciente das diferentes perspectivas ideológicas e políticas”.

Em resposta às notícias, a empresa afirmou que dá instruções aos novos funcionários para terem respeito pelas posições dos outros. “No primeiro dia de orientação das novas contratações em Menlo Park [a sede da empresa, na Califórnia], toda a gente ouve o nosso director de diversidade sobre a importância da diversidade e sobre como ter conversas com respeito pelas pessoas que têm diferentes pontos de vista”, disse um porta-voz do Facebook à imprensa.

Este não é um caso único de um funcionário de uma grande empresa tecnológica a revoltar-se contra o que é apresentado como uma cultura instalada de censura de opiniões.

No ano passado, o Google despediu o engenheiro James Damore, depois de este ter escrito uma nota interna a argumentar que a disparidade salarial entre homens e mulheres tinha raízes biológicas.

Damore, cujo caso foi alvo de intensa cobertura mediática, decidiu contestar o despedimento em tribunal, argumentando que o Google discrimina contra homens brancos e conservadores.

Pouco depois, um outro funcionário do Google queixou-se de ter sido despedido por ter expressado opiniões (que incluiu expressões como "rapazes branquelas" e "dar murros a nazis"). Numa postura em parte contrária à de Damore, acusou a empresa de “definir o que é apropriado ao discurso no trabalho com base no que é confortável para alguém cisgénero, heterosexual, branco, homem, de classe média-alta".

Mais do que uma questão interna

As inclinações políticas – bem como a diversidade – dentro destas empresas tem suscitado preocupações, incluindo por parte de políticos, e não é vista apenas uma questão de gestão interna. As plataformas geridas por multinacionais como o Google e o Facebook decidem a informação a que milhares de milhões de pessoas são expostas diariamente e as ideologias dos funcionários podem acabar por ter efeitos nos serviços que prestam e na forma como os poderosos algoritmos são programados.

Há dois anos, por exemplo, o Facebook foi acusado de ter sobretudo funcionários com ideias de esquerda e liberais, e de, por isso, filtrar conteúdos conservadores das listas de temas mais relevantes que eram mostradas a cada utilizador. Na altura, Mark Zuckerberg negou as críticas, dando como exemplo o então candidato Donald Trump, que tinha mais seguidores no Facebook do que qualquer dos seus rivais políticos.

Já nesta terça-feira, o Google foi acusado enviesamento precisamente por Trump. O Presidente americano afirmou que o motor de busca privilegiava notícias de esquerda, escondia cobertura que era favorável à sua administração e filtrava os media republicanos e conservadores.