"Um criminoso não pode ser tratado como um ser humano normal", diz Bolsonaro

Candidato de extrema-direita faz declarações chocantes em entrevista televisiva, onde não avança grande coisa sobre os seus planos.

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Bolsonaro recebido por apoiantes no aeroporto de Porto Alegre, em Rio Grande do Sul Diego Vara/REUTERS

Um criminoso “não pode ser tratado como um ser humano normal”, disse Jair Bolsonaro, candidato de extrema-direita às eleições presidenciais brasileiras, numa entrevista ao Jornal Nacional da Globo, o de maior audiência. É preciso “ir com tudo para cima deles”, declarou. “O polícia entra, resolve o problema, se matar dez, 15 ou 20 com dez ou 30 tiros cada um, tem que ser condecorado e não processado”, afirmou.

Bolsonaro lidera as sondagens sobre as intenções de voto – se se descontar o ex-Presidente Lula da Silva, que é o favorito mas está preso a cumprir pena, no âmbito das investigações da operação Lava-Jato, e cuja candidatura não deve ser aceite pela justiça eleitoral.

O elogio à ditadura, a proposta de combater a violência nas grandes cidades ligada ao narcotráfico com mais violência ainda e a recusa em combater a discriminação salarial entre homens e mulheres foram momentos fortes da entrevista – a segunda da série feita pela Globo aos cinco candidatos melhor colocados na última sondagem Datafolha (na verdade são quatro, porque Lula está preso).

O ex-capitão do Exército, que gosta de puxar dos galões mas na verdade é deputado há 27 anos, foi visto com uma cábula escrita na mão – e não é a primeira vez. Dizia "Deus, família, Brasil".

Bolsonaro fugiu a todas as perguntas dos jornalistas que procuravam tirar dele algo de concreto. Promete uma política nova, o que seria? Embandeira em arco com a sua honestidade, provada por não ter sido indiciado na Lava-Jato, gastando quase sete minutos de uma entrevista que não poderia durar mais que 27. Sobre economia, assume que não sabe nada. “Dilma Rousseff, que entendia de economia, levou o Brasil ao caos. Eu parto do princípio que tem que se confiar nos homens e nas mulheres”, disse, para explicar que deixará tudo nas mãos do economista Paulo Guedes, doutorado pela Universidade de Chicago, que será uma espécie de primeiro-ministro, num país onde não existe tal cargo.

“Acredito nas propostas dele. Se não as implementar todas é porque temos um filtro chamado Câmara e Senado. Não poderemos aprovar tudo que ele quer ou o que eu quero, porque passa pelo Parlamento”, disse Bolsonaro.

Mas quanto a conquistar o voto feminino – a maior fatia do eleitorado indeciso, e aquela que é mais hostil a Bolsonaro – é legítimo pensar que o candidato de extrema-direita não fez avanços. Como Presidente, não faria nada para promover maior igualdade salarial entre homens e mulheres, depreende-se da entrevista. Chuta para outras instâncias: “É só as mulheres denunciarem, o Ministério Público do Trabalho vai actuar” no assunto. Se se queria referir à justiça ou aos serviços de emprego, não ficou claro.

Num momento em que o desemprego atinge números preocupantes – falta trabalho para 27,6 milhões de brasileiros –, Jair Bolsonaro frisou o que os empresários lhe têm dito: "Um dia o trabalhador vai ter que decidir: menos direito e emprego ou todos os direitos e desemprego". Mas reconheceu que há direitos previstos na Lei Fundamental, que só com uma revisão constitucional poderiam ser mudados – o que não se mostrou disposto a propor ao Congresso.

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