Rohani censurado no Parlamento em debate sobre economia do Irão

Deputados rejeitam explicações do Presidente, dias depois de terem votado a demissão do ministro da Economia e Finanças.

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O Presidente Rohani respondeu às questões dos deputados mas não os conseguiu convencer ABEDIN TAHERKENAREH/EPA

O Presidente iraniano, Hassan Rohani, foi esta terça-feira dar explicações ao Parlamento sobre a situação económica no país – em declínio acentuado acelerado por novas sanções americanas. Os deputados rejeitaram as suas explicações em quatro das cinco áreas sobre as quais questionaram o Presidente, na primeira vez em cinco anos que Rohani foi chamado ao Parlamento.

A acção é ainda mais significativa porque se segue à votação, também pelo Parlamento, para o afastamento do ministro da Economia e Finanças, Masoud Karbasian, numa sessão em que apoiantes e críticos do ministro quase chegaram a agredir-se. Semanas antes, os deputados afastaram o ministro do Trabalho. 

O Irão não conseguiu recolher os benefícios esperados do acordo sobre o nuclear em 2015, que deveria ter resultado num crescimento económico assinalável. Mas não só o país não conseguiu capitalizar no início, como depois da eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos, com a sua opinião contrária ao acordo, a incerteza levou a maior cautela de empresas americanas e europeias quanto a potencial investimento no país. Quando Trump retirou os EUA do acordo sobre o nuclear e, de seguida, repôs algumas sanções, tudo piorou.

Desde Dezembro tem havido protestos, reprimidos pelo regime, contra a difícil situação económica do país, a corrupção de longa data, e também o gasto de recursos do Irão em guerras fora do seu território, da Síria ao Iémen, ao apoio ao movimento xiita libanês Hezbollah. “Não por Gaza, não pelo Líbano, só dou a minha vida pelo Irão”, gritaram recentemente manifestantes, segundo a BBC.

A economia está neste momento a sofrer com uma enorme queda da moeda iraniana, o rial, que perdeu 70% do seu valor desde Maio, quanto Trump denunciou o acordo, nota a agência Bloomberg, o que é problemático num país onde as importações têm muito peso.

Nas últimas semanas, uma subida da temperatura que quebrou recordes, falhas de energia, falta de água, junto com um aumento de 50% em alguns produtos alimentares, voltaram a provocar pequenos protestos.

As sanções agora aplicadas pelos EUA não foram, no entanto, ainda as mais duras. Em Novembro deverão entrar em vigor novas restrições à venda de petróleo, que deverão ter um efeito muito mais profundo na economia.

Vários analistas ressalvam que os problemas económicos do Irão têm origem bastante anterior às sanções, apontando para má gestão e corrupção que foram sempre toleradas. Mas os efeitos destas sanções serão duros e o regime não tem grande margem de manobra. O director de um jornal de tecnologia, Imam Baik, disse, citado pela Bloomberg, que “as rédeas do mercado têm estado nos últimos meses praticamente nas mãos de Trump”.

O modo do regime lidar com tudo isto tem sido “reactivo”, aponta o economista Said Laylaz, do campo reformista, que foi conselheiro do antigo presidente Mohammad Khatami. “Estão a lidar com a crise enquanto esta vai acontecendo”, criticou, sem ter uma estratégia coerente. 

O que se segue à votação no Parlamento não é claro – os próprios media iranianos sugeriam versões diferentes quanto a uma referência do Presidente aos tribunais, que poderia acontecer só depois de mais debate entre os deputados. Mas muitos analistas concordam que, apesar de a situação ser grave, Rohani não está em risco, porque não há alternativa por agora. O Presidente foi reeleito há pouco mais de um ano, e os eleitores rejeitaram o principal candidato alternativo, um conservador populista.

A luta de poder travar-se-á sobretudo nos bastidores e no palco de quem tem real poder, o “líder supremo”, e na escolha de quem o irá substituir, o ayatollah Khamenei. Este tem 79 anos e saúde descrita como “frágil”, o que tem levado a especulação sobre a sua sucessão.

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