Orbán foi a Itália dar força a Salvini para “travar os migrantes no mar”

Primeiro-ministro da Hungria desfez-se em elogios ao ministro da Administração Interna italiano, num encontro que serviu mais para dar um sinal de força a Bruxelas do que para anunciar propostas concretas.

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Os governantes criticaram Macron, a quem chamaram "o chefe dos partidos pró-imigração" EPA/DANIEL DAL ZENNARO

Ninguém esperava que o primeiro encontro entre dois governantes como Matteo Salvini e Viktor Orbán corresse mal, mas o ministro da Administração Interna italiano e o primeiro-ministro húngaro não pouparam esforços para mostrarem aos seus eleitores, e à União Europeia, que a liga dos partidos e governos anti-imigração está cada vez mais forte e unida. Ontem, no final de um encontro em Milão dominado pelo tema da imigração, Salvini e Orbán surgiram juntos numa conferência de imprensa marcada por sorrisos de cumplicidade e olhares desafiadores na direcção de Bruxelas: "Estamos próximos de um ponto de viragem para o futuro da Europa", disse o ministro italiano.

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Ninguém esperava que o primeiro encontro entre dois governantes como Matteo Salvini e Viktor Orbán corresse mal, mas o ministro da Administração Interna italiano e o primeiro-ministro húngaro não pouparam esforços para mostrarem aos seus eleitores, e à União Europeia, que a liga dos partidos e governos anti-imigração está cada vez mais forte e unida. Ontem, no final de um encontro em Milão dominado pelo tema da imigração, Salvini e Orbán surgiram juntos numa conferência de imprensa marcada por sorrisos de cumplicidade e olhares desafiadores na direcção de Bruxelas: "Estamos próximos de um ponto de viragem para o futuro da Europa", disse o ministro italiano.

Pouco antes do início da reunião, a meio da tarde de ontem, o primeiro-ministro húngaro desfez-se em elogios quando foi questionado sobre o que esperava da conversa com Matteo Salvini. Nem o ministro italiano chegara tão longe nas palavras, nas várias ocasiões em que também declarou a sua admiração por Orbán: "Ele é o meu herói, é um dos meus companheiros de destino", disse o primeiro-ministro húngaro. Depois, como que a validar a ideia de que o professor Orbán ia ter com o aluno Salvini, veio a frase que marcou o tom para o resto do dia: "Sou um grande admirador dele e tenho algumas experiências que talvez possa partilhar com ele."

Essas experiências viriam a ser resumidas por Orbán na conferência de imprensa, quando os governantes tentavam apresentar-se como a nova dupla de pesos-pesados na UE — uma espécie de Angela Merkel e Emmanuel Macron ao contrário.

"A Hungria é a prova de que os migrantes podem ser travados em terra, e é aqui que entra a missão de Salvini", disse Orbán, para depois concluir: "Ele tem de mostrar que estes migrantes também podem ser travados no mar."

Para vincarem as divergências com Bruxelas, Orbán e Salvini puxaram para a conferência de imprensa o Presidente francês, Emmanuel Macron, que o primeiro-ministro húngaro descreveu como "o chefe dos partidos pró-imigração". "O Presidente Macron está em mínimos históricos no seu país e passa o tempo a dar lições a governos estrangeiros", acusou Salvini.

Quanto à ideia, lançada pelo ministro italiano, de a Europa vir a ter uma aliança soberanista (com Itália, Hungria e os quatro de Visegrado — República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia), Salvini confirmou que há negociações a decorrer, referindo-se aos termos de um possível acordo em termos gerais. "Estamos a trabalhar, cada um no seu campo, para construirmos uma aliança que exclua socialistas, e cada um com a sua história. Queremos unir energias diversas com um objectivo comum."

O apoio do chefe do Governo húngaro ao ministro da Administração Interna italiano surge numa semana marcada por mais um braço-de-ferro entre Matteo Salvini e Bruxelas.

No fim-de-semana, os quase 200 migrantes que seguiam a bordo do navio de resgate Diciotti puderam finalmente entrar em Itália, ao fim de dez dias de impasse, mas só depois de a Igreja Católica, a Albânia e a Irlanda terem aceitado acolhê-las. Ontem, a ONU disse que muitos desses migrantes sofreram torturas e violações na Líbia, onde estiveram retidos dois anos por traficantes, e a Justiça italiana lançou uma acusação formal contra Salvini por rapto e detenção ilegal.

Apesar das críticas da oposição contra a visita de Orbán, e de um protesto que juntou algumas centenas de pessoas em Milão, a popularidade de Salvini, que já era alta, subiu ainda mais. E não é só a popularidade de Salvini que continua a subir — a do seu partido, a Liga, há muito ultrapassou o seu parceiro de coligação nas sondagens, rondando os 30%. Há quatro meses, nas eleições legislativas, a Liga obteve 17% dos votos e o Movimento 5 Estrelas quase o dobro, 33%.