França: ministro do Ambiente diz que política do Governo é insuficiente e demite-se

A decisão de Nicolas Hulot foi anunciada pelo próprio, esta terça-feira, numa entrevista em directo num programa da emissora de rádio France Inter.

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As dúvidas de Nicolas Hulot sobre manter-se no Governo aumentaram ao longo do Verão, ao ver as respostas políticas à seca na Europa LUSA/CHRISTOPHE PETIT TESSON

O ministro do Ambiente francês, Nicolas Hulot, anunciou a sua demissão esta terça-feira, em directo, numa entrevista na rádio France Inter. "Não quero dar a ilusão de que a minha presença no Governo significa que estamos a avançar e, por isso, demito-me", disse o ministro. "Não quero mais mentir a mim próprio."

Nicolas Hulot garantiu que, antes do anúncio em directo, não avisou nem o Presidente Emmanuel Macron, nem o primeiro-ministro Édouard Philippe da sua resolução: "É uma decisão entre mim e mim". E sublinhou: "Espero que ele [Macron] aprenda [com a renúncia]."

Nicolas Hulot disse que "embora as questões ambientais condicionem todas as outras", não sente que a ecologia seja prioridade do Governo. Durante a entrevista, o ministro demissionário, um conhecido ecologista em França, reconheceu que o seu país "faz muito mais [pelo ambiente] do que outros países". Porém, são "pequenos passos".

A relação com o ministro da Agricultura também não foi fácil. "Não posso passar o meu tempo em querelas com Stéphane Travert."

Um conselheiro do Presidente disse à agência Reuters que Macron manifestou surpresa com o anúncio e assumiu que ainda não tinha conversado com Nicolas Hulot.

"O trabalho de um ministro, especialmente vindo da sociedade civil, é ao mesmo tempo entusiasmante e frustrante", disse o conselheiro de Macron. "Compreendemos perfeitamente que deve haver frustração, até mesmo exaustão, o que não retira a qualidade do trabalho alcançado."

O jornal francês Le Monde diz que Nicolas Hulot já tinha estado à beira de se dimitir noutras alturas. Hulot foi nomeado em Maio de 2017, depois de desistir de uma candidatura à eleição presidencial um ano antes. Entretanto, arrecadou algumas "vitórias simbólicas", como o abandono do projecto do aeroporto em Notre-Dame-des-Landes, ou a proibição progressiva do uso do herbicida glifosato na agricultura em França.

Por outro lado, diz o Le Monde, teve de aceitar o adiamento da meta de reduzir para 50% a utilização de energia nuclear para gerar electricidade até 2025 e a entrada em vigor provisória do Acordo de Livre Comércio entre a União Europeia e o Canadá (CETA).

O anúncio de Hulot acontece um dia depois de o Governo prometer afrouxar as leis sobre a caça – uma medida que foi vista como uma tentativa do Governo de Macron de tornar as zonas rurais mais atractivas.

Para o ministro demissionário, os “pequenos passos” dados pela França e os outros países contra as alterações climáticas são inadequados, e ele tem esperança que esta demissão “provoque uma introspecção profunda na sociedade sobre a realidade do mundo”.

As suas dúvidas sobre manter-se no Governo aumentaram ao longo do Verão quando, face às secas devastadoras que se registaram na Europa e noutros países, houve uma resposta política tépida, diz a Reuters. “Além do burburinho político inevitável, espero que esta decisão encoraje todos nós a pensar e a mudar”, escreveu Nicolas Hulot no Twitter.

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