Joe Arpaio, o "xerife mais duro da América”, não deve chegar ao Senado

O polémico adversário da imigração, condenado por discriminação racial e perdoado pelo Presidente Trump, não está a ter bons resultados na sua tentativa de chegar ao Congresso.

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Joe Arpaio em campanha no Arizona Conor Ralph/REUTERS

Joe Arpaio construiu uma reputação nacional como oponente convicto da imigração ilegal enquanto xerife do maior condado do Arizona e encontrou no Presidente Donald Trump um poderoso aliado, que o perdoou no ano passado depois de este ter tido alguns problemas com a justiça.

Mas enquanto o homem que se autodenominou “o xerife mais duro da América” se apressa a recolher votos no Arizona para as nomeações de terça-feira para uma das mais competitivas corridas para o Senado dos EUA, os analistas dizem que a sua candidatura ficará aquém dos objectivos. Todas as sondagens feitas desde Junho têm colocado Arpaio, de 86 anos, em terceiro lugar entre os Republicanos que querem o cargo do senador republicano Jeff Flake, que se irá reformar depois de dois anos a discutir com Trump.

Os outros dois candidatos – a representante dos EUA Martha McSally e a antiga senadora estadual Kelli Ward – têm maioritariamente ignorado Arpaio e concentrado os seus ataques uma na outra. Trump ainda não mostrou preferência por nenhum dos candidatos em liça.

“Têm mais probabilidades de encontrar um duende com um pote de ouro no fim do arco-íris do que de verem Joe ganhar isto”; disse o especialista em sondagens republicano Mike Noble. Activistas republicanos acusam o antigo xerife de querer estragar tudo, dividindo o voto conservador e dando mais hipóteses a McSally, a candidata mais moderada.

"Sou conhecido no mundo inteiro"

A falta de atenção por parte dos seus oponentes e meios de comunicação frustra Arpaio – tal como a teoria de querer estragar tudo, o que considera um insulto. “Sou conhecido no mundo inteiro”, disse numa entrevista em Lake Havasu City, onde organizou um comício com cerca de uma dúzia de apoiantes. “Seria de esperar que os meus oponentes viessem atrás de mim impiedosamente. Tudo o que dizem é: 'Ele é um bom tipo.'”

O vencedor da primária republicana irá provavelmente defrontar a democrata Kysrten Sinema numa corrida que poderá determinar que partido controla o Senado dos EUA depois das eleições de 6 de Novembro. Ganhar a maioria permitiria aos democratas parar a agenda legislativa de Trump.

A morte do senador republicano John McCain no sábado deixou um lugar vazio no estado e que será preenchido por um republicano escolhido pelo governador do Arizona Doug Ducey.

Roupa interior cor-de-rosa e cidades de tendas

Durante um mandato de 24 anos como xerife do condado de Maricopa no Arizona, Arpaio construiu uma reputação nacional como um disciplinador rígido que supervisionava rusgas a suspeitos de imigração ilegal e forçava prisioneiros a usar roupa interior cor-de-rosa e a dormir em tendas num calor sufocante.

Arpaio foi destituído em 2016, prejudicado por uma série de julgamentos que deixou os contribuintes locais a deverem 126 milhões de dólares. Foi considerado culpado por um crime de desobediência ao tribunal em 2017 por ter desafiado uma ordem do tribunal que ordenava que a sua esquadra parasse com a discriminação racial. Mas foi perdoado por Trump antes de sair a sentença.

Como candidato ao Senado, Arpaio diz que irá apoiar os planos de Trump a cem por cento. Devido às preocupações com a sua idade, disse que irá apenas cumprir um mandato de seis anos.

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Arpaio teve de explicar a sua presença no programa do cómico Sacha Baron Cohen, onde discutiu o porte de armas com um donut de brincar Conor Ralph/REUTERS

Má figura ao lado de Sacha Baron Cohen

Arpaio tem tido dificuldades em expressar a sua opinião sobre assuntos como as trocas comerciais e os negócios estrangeiros. Também já teve de explicar a sua participação pouco lisonjeadora no programa do cómico Sacha Baron Cohen, onde Arpaio debateu sobre as leis das armas com um donut de brincar e disse que poderia aceitar sexo oral de Trump. Mais tarde, o candidato disse que não percebera as perguntas.

Disse que a sua notoriedade iria despertar a atenção no Senado. “Quando lá chegar, irei à casa de banho e terei todas as câmaras em cima de mim – todos me conhecem”, disse à Reuters.

No seu comício na cidade turística Lake Havasu City, Arpaio comeu hambúrgueres com os seus apoiantes que utilizavam autocolantes a dizer “Xerife Joe”. Muitos disseram estar preocupados que o número de imigrantes ilegais esteja a ultrapassar o número de cidadãos nascidos nos EUA. “Toda a minha vida vivi com estrangeiros ilegais e não está certo”, disse Donnel Cook, de 70 anos. “Tenho sete netos e preocupo-me com eles, e fico verdadeiramente emocionado porque quero que sejam capazes de viver livres e ter trabalho. E agora eles não vão ter isso.”

A imigração continua a ser uma das grandes preocupações dos republicanos do Arizona, como mostram as sondagens. Mas alguns eleitores disseram que Arpaio já não era o melhor candidato para resolver o problema. “Ele já tem idade suficiente para se reformar e ficar em casa ou fazer outra coisa”, disse Sally Kaizer, presidente do Colorado River Tea Party, um grupo popular. “Preferíamos que desistisse, mas ele não parece querer fazê-lo.”

Tradução de Ana Silva

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