O "efeito Amazon" pode estar a pesar na inflação dos EUA

Um estudo comparou os preços praticados offline e online e concluiu que na maioria das vezes são idênticos. Esta dinâmica parece ser uma das causas dos baixos níveis de inflação nos Estados Unidos.

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Uma das lojas físicas da Amazon nos EUA Jeffrey Dastin/Reuters

A Amazon e outros grandes retalhistas online estão a nivelar os preços praticados em lojas físicas – o que pode ter ajudado a manter a inflação baixa. As conclusões são retiradas de um estudo académico, levado a cabo pelo professor assistente da Universidade de Harvard Alberto Cavallo, apresentado neste sábado, numa conferência de banqueiros centrais, no Wyoming, nos Estados Unidos.

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A Amazon e outros grandes retalhistas online estão a nivelar os preços praticados em lojas físicas – o que pode ter ajudado a manter a inflação baixa. As conclusões são retiradas de um estudo académico, levado a cabo pelo professor assistente da Universidade de Harvard Alberto Cavallo, apresentado neste sábado, numa conferência de banqueiros centrais, no Wyoming, nos Estados Unidos.

Como é que os preços online se traduzem para o offline? Alberto Cavallo foi o autor da primeira comparação do género em larga escala, usando os preços que recolheu dos sites de grandes retalhistas e em lojas físicas, como o americano Walmart. Entre 2014 e 2016, foram analisados dados de 56 grandes retalhistas, em dez países diferentes: Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Alemanha, Japão, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos.

“Os dados foram usados para comparar nos níveis de preços, o comportamento das mudanças nos preços e a selecção de produtos disponíveis para venda nas lojas online e offline”, lê-se no estudo, publicado no site do projecto The Billion Prices Project. “A descoberta principal é que os níveis de preços online e offline são idênticos 72% das vezes”, conclui. Cavallo também descobriu que os preços mudam mais rapidamente: a duração média dos preços nos Estados Unidos caiu de 6,5 meses para 3,7 meses.

“Nos últimos dez anos, a competição aumentou a frequência das mudanças dos preços e o nível de uniformidade de preços entre as localizações”, disse o autor, citado pela agência Reuters, durante a apresentação do estudo.

Há pelo menos dois factores de peso que ajudam a explicar a redução na disparidade dos preços: os algoritmos e a maior transparência introduzida pela Internet. Afinal, os consumidores cada vez mais usam os preços que encontram na Internet como ferramenta de comparação. E, por isso, os retalhistas são obrigados a baixar preços para se manterem competitivos, mesmo que isso signifique uma margem de lucro mais reduzida.

A apresentação do estudo levou responsáveis da Reserva Federal a levantarem a possibilidade de que os níveis baixos de inflação registados nos Estados Unidos nos últimos anos, apesar da economia forte, possam dever-se em parte à capacidade de uniformização de preços de empresas como a Amazon. A inflação norte-americana está nos 2% pela primeira vez em seis anos, cumprindo os objectivos do banco central. Segundo a Reserva Federal, é improvável que o cenário registe alterações significativas – mesmo que a taxa de desemprego se mantenha nos 3,9%.

“Os custos de trabalho, a informação limitada e até os ‘custos de decisão’ (relacionados com a falta de cuidado e a capacidade limitada de processar dados) tenderão a desaparecer porque cada vez mais retalhistas usam algoritmos para tomar decisões sobre preços”, disse Cavallo na apresentação.

Por outro lado, “os preços de combustíveis, flutuações nas taxas de câmbio, e qualquer outra força que afecte os custos e que possa entrar nos algoritmos de preços usados por essas empresas” terão “um impacto mais rápido e maior nos preços do que no passado”, concluiu, citado pela Bloomberg.