Croácia: nós e Dubrovnik rodeados de água por todos os lados

As ilhas de Kolocep, Lopud e Sipan estão à distância de uma app. À nossa mercê, um mar sereno de águas claras e um ferro pronto para ser lançado. Lá chegaremos a Dubrovnik — ou será King’s Landing?

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Pedaço de terra rodeado de água por todos os lados. A definição ganha forma quando temos à nossa frente o mapa que assinala as ilhas Elafiti, um arquipélago composto por 13 ilhas a noroeste de Dubrovnik, na Croácia. Temos um par de dias e, por isso, o nosso plano de contingência prevê o encurtamento de distâncias — três ilhas, seja — e a maximização dos recursos que temos à mão.

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Pedaço de terra rodeado de água por todos os lados. A definição ganha forma quando temos à nossa frente o mapa que assinala as ilhas Elafiti, um arquipélago composto por 13 ilhas a noroeste de Dubrovnik, na Croácia. Temos um par de dias e, por isso, o nosso plano de contingência prevê o encurtamento de distâncias — três ilhas, seja — e a maximização dos recursos que temos à mão.

Antun tinha trabalhado em cruzeiros, mas só no ano passado decidiu trabalhar por conta própria, investindo no seu próprio barco de recreio. Conhecêmo-lo através da Uber e da funcionalidade UberBOAT, um serviço sazonal de lancha com capacidade até oito passageiros que estará disponível na Croácia até ao início de Outubro. Manual de instruções: abrir a aplicação tradicional, inserir o destino, deslizar até substituir o carro pela opção barco, escolher entre transfer ou "passeio", optar entre "tempo real" ou "reserva com antecedência", confirmar e esperar. Antun está a três minutos de distância.

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Antun é um dos marinheiros UberBOAT Sérgio Azenha

Depois de ter ocupado as estradas de 65 países em seis continentes (o lançamento da aplicação aconteceu em 2010) e de ter criado a plataforma de entrega de comida (primeiro ensaio em Dezembro de 2016, em São Paulo, no Brasil), a Uber lançou à água o seu primeiro barco no ano passado para a época balnear, repetindo a dose em 2018. Em 2017, a opção UberBOAT foi utilizada por pessoas de mais de 39 países, sendo que a "renovada" frota para este ano, fruto de parcerias estabelecidas com 50 empresas em toda a Croácia, conta com mais de cem barcos (um aumento de 15% em relação ao ano passado). "Praticamente só transportamos turistas. Os locais têm os seus próprios barcos", diz, mais ou menos a brincar, o capitão da nossa embarcação que normalmente faz "uma viagem por dia", "às vezes de um dia inteiro, mas geralmente de meio dia".

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Este ano, o serviço UberBOAT oferece duas opções: transfer de sentido único ou um passeio de barco. Os transfers de sentido único têm capacidade máxima para oito pessoas do continente para qualquer ilha ou de ilha para ilha (por um preço médio de 350 euros). A segunda opção oferece aos utilizadores a oportunidade de reservar o barco por meio dia ou dia inteiro para uma viagem pelas ilhas mais próximas (o preço médio varia mediante o tempo despendido). Optámos por esta última e sublinhámos em pleno mar Adriático Kolocep, Lopud e Sipan, as três ilhas habitadas do arquipélago (menos de mil habitantes entre as três), uma escapada perfeita a uma distância segura das multidões que o Verão atrai a esta zona (segundo dados do Ministério do Turismo da Croácia, estão previstas para este ano 20 milhões de chegadas e 110 milhões de dormidas).

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Praias arenosas — uma raridade na costa croata, de escarpas e praias rochosas —, florestas de pinheiros densas e paz. Esses são os denominadores comuns entre as três ilhas, mencionadas pela primeira vez no século I, no trabalho de Caio Plínio Segundo, naturalista romano também conhecido por Plínio, o Velho. Aqui, o nosso único inimigo é o relógio e a forma como geriremos o lançar do ferro nas baías de água transparente.

A bordo, como num carro Uber, e para além da devida palamenta — convém referir que todos os motoristas do UberBOAT activos na plataforma são capitães profissionais, com carta de marinheiro e acima de 18 anos de idade —, dispomos de alguns extras à medida do capitão que nos acompanha. Neste caso, toalhas, bebidas frescas e material de snorkeling, que aos poucos, como guelras que vamos desenvolvendo, se vai tornando indispensável à nossa exploração. Na versão boat os utilizadores também podem dividir o custo da viagem com os amigos (split the ride com o máximo de oito pessoas por barco), sendo que as embarcações estão autorizadas a realizar viagens 24 horas por dia, sete dias por semana. O comandante poderá cancelar a viagem em virtude de más condições climatéricas. E os barcos partem apenas das plataformas específicas de embarque/desembarque localizados na costa e nas ilhas, que receberam o nome da palavra grega "elafos", que significa veado, aparentemente principais habitantes noutros tempos.

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Ilhas e aldeias

Na Croácia "faz sentido", sublinha o nosso comandante. Apesar de ser uma actividade sazonal, para Antun "já é um modo de vida". À nossa direita, limite de seis nós na baía, vamos deixando para trás os mais de 550 metros de comprimento (e um poste gigantesco em forma de A) da Ponte Franjo Tudman (primeiro presidente da Croácia independente), cuja obra esteve parada durante a guerra da independência. Pela proa avista-se quase de imediato o arquipélago, sob o controlo da República de Dubrovnik a partir de 1272, um ponto no mapa estratégico para mercadores e piratas na Idade Média, para histórias de saques, de grutas secretas e de heróis populares, tudo excelentes pretextos para ancorar e mergulhar no mar salgado — e ancorar e mergulhar e ancorar e mergulhar.

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O mais provável é que as pequenas aldeias só nos sejam desvendadas depois de entrarmos em contacto com outra face da ilha, mais agreste, mais selvagem e de difícil — ou impossível — acesso a pé. A famosa Caverna Azul será uma das sugestões de qualquer skipper. Só depois, devidamente contornada, nos é apresentado o pouco movimento (e construção) de Kolocep (já se chamou Calaphodia na altura em que era um importante estaleiro grego), a ilha deste arquipélago mais próxima de Dubrovnik (a cerca de 35 minutos), com cerca de 300 habitantes entre as aldeias de Celo de Cima (Gornje) e Celo de Baixo (Donje). Kolocep tem sido um popular retiro de Verão para os moradores de Dubrovnik desde o século XVI. É airosa e pontilhada com um número de igrejas pré-românicas (a ver: Igreja de São Sérgio, Igreja de São Nicolau e Igreja da Santíssima Trindade) em diferentes estados de decadência. A ilha, que tem apenas 230 hectares, é praticamente coberta de árvores e de vegetação subtropical e podemos chegar de uma aldeia à outra em menos de uma hora — já com desvios nas plantações de oliveiras e nas ruínas das igrejas dos séculos XI e XII.

"A ilha do meio", como é conhecida Lopud — pela sua geografia e também pelo seu tamanho —, fica a minutos de distância. Era Delaphodia para os gregos e Lafota para os romanos e pouco mais há a dizer deste pequeno paraíso, cuja única aldeia é... Lopud. Espreite-se as ruínas da reitoria e um pequeno mosteiro que sobressai na paisagem. Teste-se a preciosa areia clara de Sunj Beach e aproveite-se para um bom passeio de bicicleta ou até uma volta à ilha de caiaques, um dos "desportos" preferidos dos visitantes de Dubrovnik. Deixámos para o fim, para junto da hora do almoço, Sipan e as suas duas localidades (Sudurad e Sipanska Luka) ligadas por uma estrada, onde circulam meia dúzia de carros, que aqui chegaram via ferry (esta é a única onde a circulação automóvel é permitida), e apesar de ser aconselhável a visita a pé através de um vale verdejante composto por oliveiras e figueiras, vinhas e pomares de frutas cítricas. Pelo caminho avistam-se casas da aristocracia e algumas igrejas, entre elas a Igreja do Espírito Santo, construída em 1569.

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Miami Vice ou Guerra dos Tronos?

Última paragem (obrigatória). Rumo ao Bowa. Atraídos pelo canto das sereias atracámos no outro lado da ilha, o lado B, um cais de madeira polida numa pequena baía em forma de meia-lua que é uma pérola. O projecto nasceu da paixão de três jovens pelo mar, pela gastronomia e pelo estilo de vida mediterrâneo simples. A estrutura das cabanas, que acompanham a baía de água clara e seixos irregulares, veio do que a ilha poderia oferecer (e da ajuda de um "habilidoso carpinteiro": figueiras, pinheiros, carvalhos, ciprestes e faias). A primeira surpresa é a baía. As seguintes são preparadas na cozinha e servidas, uma a uma, num cardápio de degustação que joga com o que nos rodeia, o que floresce nas árvores e no mar. O que será servido? Só saberemos no próprio dia — uma selecção de peixe fresco, vegetais escolhidos a dedo, fruta da horta, azeite da ilha e pão caseiro. O menu de degustação (de sete pratos) custa 100 euros por pessoa (bebidas não incluídas). Idealmente, o Bowa aconselha que reserve seis horas para esta refeição. No mínimo, dizemos nós, que não fazemos pausas de segurança entre garfadas e mergulhos, quatro horas.

A viagem de volta a Dubrovnik pode ser feita de duas formas: versão Miami Vice em lancha voadora ou versão Guerra dos Tronos, como se regressássemos a Kings Landing, a capital e maior cidade dos Sete Reinos, de uma aventura em Dragonstone, a sede ancestral da Casa Targaryen. A entrada no Porto Velho da cidade croata, antiga Ragusa (fundada no século VII), será sempre imponente, circundada a muralha, erguida no século XII para se defender das ameaças de invasões de oriente e de ocidente e concluída no século XVI, e atracada a embarcação num dos seus pontões, porto seguro de muitos barcos privados de locais e de todo o tipo de barcos fretados.
A muralha tem quase dois quilómetros de comprimento que deve percorrer (sentido único obrigatório para evitar atropelos), sob pena de perder a essência da cidade velha, concentrada no seu casario de telhados alaranjados e de ruas estreitas de pedra reconstruídas depois do tremor de terra de 1667. Precisará de cerca de duas horas para completar essa "circunferência" de vistas inacreditáveis — para o interior e para o exterior da muralha. Se possível comece a visita o mais tarde possível (entrada até às 18h30; 150 kuna, cerca de 20 euros por pessoa) para poder apreciar a golden hour do cimo da Torre Minceta.

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Para além de um pequeno roteiro pelas igrejas, mosteiros e catedrais da cidade, e de um passeio ziguezagueante pelas ruelas e becos dos raios mais afastado do centro, não perca a qualquer hora do dia a vida no pontão Porporela, construído para proteger os barcos ancorados no Porto Velho e hoje também usado como ponto recuado de lazer onde locais e turistas se juntam para partilhar banhos de sol, ensaiar saltos para a água das escarpas rochosas, desfrutar do campo de pólo aquático ou simplesmente para estar.

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