Jeremy Corbyn quer um serviço público estilo Netflix para o Reino Unido

O líder do Partido Trabalhista britânico falou no Festival Internacional de Televisão de Edimburgo e também sugeriu taxar os gigantes da tecnologia para financiar a BBC.

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Jeremy Corbyn falou no Festival Internacional de Televisão de Edimburgo RUSSELL CHEYNE/reuters

Desde 1997 que o Festival Internacional de Televisão de Edimburgo tem a palestra Alternative MacTaggart, destinada a propor, como o nome indica, uma perspectiva alternativa sobre o futuro do funcionamento dos media. Este ano, a MacTaggart original foi dada por Micaela Coel, a criadora e protagonista da sitcom Chewing  Gum, que revelou ter sido sexualmente agredida enquanto trabalhava na série, e a alternativa foi dada por Jeremy Corbyn, o actual líder do Partido Trabalhista britânico.

No discurso, o político propôs uma ideia: a criação de uma “British Digital Corporation” (corporação digital britânica), um organismo público-irmão da BBC – que tem o seu próprio serviço de streaming limitado ao Reino Unido, o iPlayer. Corbyn não foi o primeiro a falar de algo do género: como o próprio ressalvou, este conceito já tinha sido exposto por James Harding, director da BBC News até Janeiro deste ano, numa palestra em Março.

“A BDC poderia usar todas as nossas melhores mentes, a mais recente tecnologia e os nossos activos existentes não só para transmitir informação e entretenimento para rivalizar com o Netflix e a Amazon, mas também para aproveitar dados para o bem público", detalhou Corbyn.

A BDC que propõe estaria disponível internacionalmente e o seu financiamento proviria de taxas de licenciamento aplicadas a gigantes da tecnologia e da Internet. Também poderia servir para distribuir conteúdos dos arquivos da BBC, da British Library e do British Museum. “Quero que sejamos o mais ambiciosos possível. O domínio público não tem de ficar parado a ver enquanto um punhado de mega-corporações da tecnologia suga os direitos digitais, os activos e, por fim, o nosso dinheiro.”

O discurso, cuja transcrição está disponível na íntegra no site do Partido Trabalhista, centrou-se muito no estado do jornalismo. O líder da oposição britânica lembrou os seus inícios nesse meio, quando trabalhou no Newport and Market Drayton Advertiser e foi líder do grupo parlamentar da União Nacional de Jornalistas.

“Os media britânicos não estão prontos para os desafios do século XXI e portanto não podem servir propriamente os interesses de uma sociedade verdadeiramente democrática”, alegou. Se a programação no Reino Unido é “fantástica” em termos de drama, entretenimento, documentários e filmes, a comunicação social está "a falhar" no que concerne "a notícias e actualidade, tão vitais para a sociedade democrática".

Os monopólios e a estreita relação entre os jornalistas e os ricos e poderosos, bem como a pouca confiança que o público britânico tem nos media, foram outros tópicos mencionados. Para combater isso e fomentar a diversidade nos media, o líder da oposição britânica propôs quatro medidas: o apoio ao jornalismo de interesse público, local e de investigação; a aposta numa "BBC mais democrática, representativa e independente”; a "promoção da afirmação dos jornalistas e do público do sector privado”, contrariando o poder dos chefes dos media; e, por último, a criação da BDC.

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