Uma mulher marcou um encontro com cem homens para mostrar quão “mesquinhos” somos no Tinder

Uma mulher combina um encontro com um homem pelo Tinder. E repete o mesmo pedido cem vezes. Quando todos lhe aparecem à frente, sobe a um palco e trata-os como se estivesse na aplicação de namoros. É um encontro em grupo ou uma experiência social?

Cem homens são convidados no Tinder para um encontro com a mesma mulher. Sem o saberem, encontram-se todos na mesma praça, em Nova Iorque, à mesma hora. Um DJ actua para a plateia masculina que troca olhares confusos entre si. Até que a mesma mulher que já conheciam da aplicação de encontros sobe a um palco, pega no microfone e diz: “Aplicações de namoro são muito difíceis e eu pensei que podia trazer toda a gente para o mesmo sítio e ver como corre.”

No domingo, 19 de Agosto, nenhum deles percebeu o que estava a acontecer, mas o aparato do encontro deu que falar nas redes sociais quando um dos homens convidados contou a história no Twitter. Esta quinta-feira chegou a explicação. Num vídeo publicado no YouTube, a pretensa pretendente Natasha Aponte, que é afinal uma actriz norte-americana, aparece lado a lado com Rob Bliss, conhecido produtor de vídeos de experiências sociais — é dele o popular filme que denunciou o assédio sexual mostrando uma mulher a andar durante dez horas nas ruas de Nova Iorque, com uma câmara oculta. E juntos desvendam o mistério e o objectivo da acção: pôr a nu os preconceitos que nos levam a descartar uma pessoa numa aplicação de encontros sem realmente a conhecer.

No vídeo acima, Bliss descreve todo o plano. Primeiro, Natasha fez swipe right, ou seja, aprovou aleatoriamente cem homens na aplicação. Assim que havia um match, uma correspondência, enviou através do chat um número de telemóvel com um pedido apenas: "Manda-me mensagem".

Depois, através de um serviço de automatização de mensagens, combinou um encontro com cada um deles. No mesmo dia, à mesma hora, no mesmo sítio. Para evitar conversas longas, terminava-as abruptamente, com a desculpa que teria de trabalhar num projecto demorado. Se alguém tentasse telefonar, iria imediatamente ouvir uma mensagem de voicemail: “Olá, é a Natasha. Não estou disponível de momento.”

As correspondências no Tinder materializaram-se, assim, num encontro (assim pensavam eles). A data: 19 de Agosto. Às 18h em ponto. Só faltava uma localização. Bliss criou um evento falso na Union Square, em Manhattan, com direito a uma equipa de vídeo, palco e um DJ, Nick AM — que, dizia Natasha, era seu amigo. Todos os homens deveriam esperar por ela junto ao palco. O plano era, depois, irem tomar um copo a um bar próximo dali. 

À medida que o tempo passava, mais público o DJ ganhava — todos homens, jovens, sozinhos. Todos a pensar o que estariam ali a fazer. Pouco depois da hora combinada, Natasha chega. Entre dois guarda-costas. Sobe ao palco e confirma as suspeitas: este não era um encontro como os outros. 

As expressões faciais de quem a ouve vão, rapidamente, da surpresa ao choque. Ouvem-se assobios e gritos de protesto. Há quem vá embora, mas muitos ficam. Sorridente, Natasha remata: “Tens o que é preciso para ganhar um encontro comigo?” E é aqui que começa a verdadeira “experiência social” planeada por Rob Bliss.

A proposta de Natasha é que os homens compitam por ela, numa espécie de Jogos de Fome dos engates online. Mas nem todos podem entrar no jogo: “Metade das pessoas aqui estão em relações amorosas e essas pessoas devem sair agora”. "Elimina” também quem tenha menos de 1,80 metros, “barriga de cerveja”, “barbas compridas”, seja careca ou use calças caqui. “Se tens menos de quinze centímetros também tens de ir”, exige, desencadeando várias gargalhadas na audiência. Uma última exigência: quem se chama Jimmy também pode seguir caminho. “Não gosto do nome, só isso”, justifica.

O grupo que fica é depois convidado a fazer 30 flexões, enquanto Natasha as conta. Depois, ordena-os numa fila e começa, com a mão, a deslizar para a esquerda ou para a direita — um swipe right ou left na vida real. Fá-los ainda entrar numa corrida e faz-lhes várias perguntas (é neste momento que é interrompida por um homem, que rouba o microfone e critica “o espectáculo”, acusando-os de não terem pensado em “quem tinha mais do que fazer”).

No fim da acção, a que Rob Bliss chamou Tinder Trap, restou um vencedor. E uma mensagem: “Só porque alguém não corresponde a tudo o que achamos atraente, não quer dizer que não o seja”. “É absurdo julgarmos pessoas por coisas tão mesquinhas como o facto de gostarem de usar calças caqui. Vejam como isto deixa as pessoas tão irritadas. E, ainda assim, é exactamente isto que fazemos o tempo todo.”

Já agora, o encontro aconteceu mesmo — e, imaginamos, não faltou tema de conversa à mesa.

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