Hoje o Brasil ganha mais um imortal: Zuza

A Academia Paulista de Letras acolhe Zuza Homem de Mello, um nome indispensável à história da música brasileira.

Tornar-se imortal é, para a maioria dos mortais, uma coisa de contos de fadas. Porque todo o ser vivente morrerá um dia e é isso que, desde os princípios dos tempos, completa o ciclo da vida. Porém, no Brasil, ser imortal é outra coisa: corresponde, numa tradição secular, a ser membro de uma Academia. É esse o título de cada académico, após ocupar solenemente a sua cadeira. Não só no Brasil. Também em França. Há uma frase, bastante citada, do filme O Acossado, de Jean-Luc Godard (À Bout de Souffle, 1960), que tem a ver directamente com isto. É quando o actor, também cineasta, Jean-Pierre Melville, que no filme interpreta o célebre escritor Parvulesco, é entrevistado por Jean Seberg (Patrícia, no filme) e esta lhe pergunta: “Qual é a maior ambição da sua vida”? Ele responde: “Tornar-me imortal e depois morrer.” Soa heróico, mas não corresponde à verdade: quem ocupa uma cadeira académica desejará ocupá-la pelo maior número possível de anos, até para dar continuidade àquilo que o levou até ali, a sua obra.

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Tornar-se imortal é, para a maioria dos mortais, uma coisa de contos de fadas. Porque todo o ser vivente morrerá um dia e é isso que, desde os princípios dos tempos, completa o ciclo da vida. Porém, no Brasil, ser imortal é outra coisa: corresponde, numa tradição secular, a ser membro de uma Academia. É esse o título de cada académico, após ocupar solenemente a sua cadeira. Não só no Brasil. Também em França. Há uma frase, bastante citada, do filme O Acossado, de Jean-Luc Godard (À Bout de Souffle, 1960), que tem a ver directamente com isto. É quando o actor, também cineasta, Jean-Pierre Melville, que no filme interpreta o célebre escritor Parvulesco, é entrevistado por Jean Seberg (Patrícia, no filme) e esta lhe pergunta: “Qual é a maior ambição da sua vida”? Ele responde: “Tornar-me imortal e depois morrer.” Soa heróico, mas não corresponde à verdade: quem ocupa uma cadeira académica desejará ocupá-la pelo maior número possível de anos, até para dar continuidade àquilo que o levou até ali, a sua obra.

A que propósito vem tudo isto? É que hoje, pelas 19 horas no Brasil (23h em Lisboa), a Academia Paulista de Letras acolhe um novo imortal: Zuza Homem de Mello. Quem ele é, e o que faz, já aqui se escreveu: é um nome indispensável à história da música brasileira. Jornalista, crítico, investigador, radialista, musicólogo, produtor e, em início de carreira, também contrabaixista (estudou nos Estados Unidos, na School of Jazz e na Julliard School of Music), nascido em São Paulo em 20 de Setembro de 1933, tem vindo a publicar ao longo dos anos vários títulos que se tornaram referência: Música popular brasileira cantada e contada (1976), A canção no tempo (em dois volumes, em co-autoria com Jairo Severiano, 1997-98), João Gilberto (2001), A Era dos Festivais (2003), Música nas veias: memórias e ensaios (2007), Eis aqui os bossa-nova (2008), Música com Z (2014) e, o mais recente, concretizando uma ideia surgida em 2002, Copacabana: a trajetória do samba-canção (1929-1958), editado em 2017.

Ora Zuza vai ocupar a cadeira n.º 17 de Academia, num total de 40 (também são 40 os lugares de imortal na Academia Brasileira de Letras, por exemplo). Quem o antecedeu, naquele mesmo lugar? Por ordem de tomada de posse, Sílvio de Almeida (em 1909, ano da fundação da Academia), Otoniel de Campos Mota (1929), Afrânio do Amaral (1954), Ernâni Silva Bruno (1983), Marcos Rey (1987) e Massaud Moisés (2000). Nas restantes 39 cadeiras sentam-se, ainda hoje, personalidades como a contista e romancista Lygia Fagundes Telles (cadeira n.º 28), o jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão (cadeira n.º 37), o humorista e actor Jô Soares (cadeira n.º 33), o autor de BD, criador da Turma da Mônica, Maurício de Sousa (cadeira n.º 24), o actor e dramaturgo Juca de Oliveira (cadeira n.º 8) ou o maestro e compositor Júlio Medaglia (cadeira n.º 3); e será este que fará a cerimonial saudação a Zuza, como novo membro, na tomada de posse que decorre no Teatro da Academia Paulista de Letras.

Tudo isto para quê? Leiamos o que a Academia diz de si mesma, no seu site: “Somos 40 interessados em proteger o idioma e em partilhar experiências literárias sob a inspiração de um ritual longevo. As Academias nasceram no helenismo, porém sua forma remonta ao século XVII na França inigualável. Temos 107 anos [já são 109, em 2018] e nos mantemos vigorosos, ancorados na tradição, mas abertos à acelerada mutação desta era. Uma Academia, ensinou Machado de Assis, criador da Academia Brasileira de Letras, tem de ser integrada por três espécies: literatos, personalidades – para conferir visibilidade à instituição – e jovens, para trazer alegria. Uma Academia é, sobretudo, uma casa de bom convívio.” Bom, se é mesmo uma casa de convívio então o convite a Zuza é perfeito. Na convivência, alegre e descontraída, mesmo quando erudita, ele dá cartas. E esperemos que as dê por muitos anos. Pois se já o fazia muito antes do reconhecimento académico, o que não fará com esta justa imortalidade?