Santana, o animal político

Santana não é Macron, não é novo na política e não tem nada em marcha tirando a sua própria cabeça irrequieta

Santana Lopes é um animal político, mas da espécie a quem tudo corre mal.

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Santana Lopes é um animal político, mas da espécie a quem tudo corre mal.

Um animal político como Mário Soares ganhou e perdeu, mas no essencial a democracia que hoje temos foi construída com as bases que ele tinha definidas quando desembarcou a 26 de Abril em Santa Apolónia. Nem sempre o seu feroz instinto de animal político acertou, como aconteceu na segunda candidatura a Presidente da República.

Cavaco Silva foi também um animal político, ainda que de um género radicalmente oposto: percebendo primeiro que ninguém a crescente desconfiança do cidadão comum em relação aos protagonistas políticos, fez de um mito — o de que não era um político — um manifesto. O mito-manifesto e o crescimento do início dos anos 90 rendeu duas maiorias absolutas e mais tarde dois mandatos presidenciais. O facto do fim da Presidência de Cavaco Silva ter sido confrangedor não apaga a história: os portugueses acharam-no o homem certo para lugares de topo do Estado durante 20 anos intercalados.

Na história da invenção do novo partido é o Santana animal político a funcionar, correndo o risco de que se repita o karma — e tudo novamente correr mal. Com o anúncio do Aliança, Santana replica o maior dos problemas da sua “marca política” — a falta de credibilidade junto do eleitorado — ao lançar o seu projecto pessoal poucos meses depois de ter jurado, no congresso da vitória de Rui Rio, “unir o PSD”, com críticas violentas àqueles que na época se posicionavam como alternativa ao atual líder.

Santana pode ver-se a si mesmo como um novo Macron — mas os sonhos pessoais de cada um não são sempre adaptáveis à realidade. Macron era novíssimo na política e beneficiou da circunstância excepcional de ter um partido socialista desfeito depois de anos de inoperância de Hollande. A criação do En marche antecede muito a sua candidatura presidencial. Santana não é Macron, não é novo na política e não tem nada em marcha tirando a sua própria cabeça irrequieta. Ao afirmar preto no branco que não será candidato às eleições europeias, perde a sua janela de oportunidade, numas eleições mais favoráveis a “Marinhos e Pinto”. E, no entanto, nem sequer Marinho e Pinto Santana Lopes é. Santana continua a ser, como sempre foi, um homem do sistema e do “PPD/PSD”. Se avançar em Maio de 2019, voltará a ser acusado de dar o dito por não dito.

A espécie de animal político que Santana Lopes é pode estar em risco de extinção.