A Grécia salvou-se da troika e isso é “lamentável”

A reacção ao vídeo em que Mário Centeno festejada o fim da troika na Grécia mostra que a mitologia ainda impera sobre a realidade na análise da crise do euro.

O que disse o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, no vídeo com o qual o Conselho Europeu quis celebrar a saída da Grécia do seu programa de assistência financeira? Disse basicamente que “todos nós aprendemos” com o que se passou; disse que a Grécia pagou erros cometidos no passado e que era bom que esses erros não fossem repetidos; disse que a economia se reformou e modernizou, que o desemprego está a diminuir, que se regista um excedente fiscal e comercial, que Atenas reconquistou o controlo dos seus destinos. Em jeito de síntese, Centeno limitou-se a uma banal declaração de simpatia para sinalizar o fim de um ciclo de quase dez anos de péssimas notícias para os gregos.

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O que disse o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, no vídeo com o qual o Conselho Europeu quis celebrar a saída da Grécia do seu programa de assistência financeira? Disse basicamente que “todos nós aprendemos” com o que se passou; disse que a Grécia pagou erros cometidos no passado e que era bom que esses erros não fossem repetidos; disse que a economia se reformou e modernizou, que o desemprego está a diminuir, que se regista um excedente fiscal e comercial, que Atenas reconquistou o controlo dos seus destinos. Em jeito de síntese, Centeno limitou-se a uma banal declaração de simpatia para sinalizar o fim de um ciclo de quase dez anos de péssimas notícias para os gregos.

É por isso que a reacção de uma das mais proeminentes personalidades do bloco da esquerda socialista, João Galamba, custa a perceber. Um vídeo “lamentável, que ignora a realidade do que aconteceu”, disse Galamba. Um monumento de propaganda digno dos melhores “vídeos coreanos”. Será lamentável o quê? O caminho da economia que, passado o pesadelo, começa a dar os primeiros sinais de vida? Ou a satisfação de Centeno em tentar veicular uma mensagem positiva? Tudo junto, certamente. Mas não é nem a boa notícia para a Grécia nem o esforço do ministro das Finanças em a valorizar que gera o desconforto de João Galamba. O que o incomoda é ver um membro do seu Governo tolerar, com um toque de aprovação até, a ortodoxia fiscal, da austeridade e do custo moral dos erros do passado. Ou, por outras palavras, é vê-lo fazer o jogo do inimigo ideológico que ainda paira por aí sob o espectro de Passos Coelho.

O ajustamento grego fez-se com o custo da devastação da economia e da sociedade. Podia ter sido diferente, mesmo que as causas (a manipulação das contas, a irresponsabilidade política, o deleite de viver à custa de outrem) exigissem sempre um enorme esforço. A Grécia esteve à beira do caos e conseguiu uma saída limpa. O pesadelo não acabou, mas a troika deixará de aterrar em Atenas. Festejar a nova era será assim tão lamentável? Sim, é-o para os que olham para o passado recente não como uma crise difícil de resolver, mas como uma invenção imposta pelos mercados, pelos alemães e pelo FMI. Centeno não subscreve essa mitologia. “Lamentável”, diz Galamba.