A saladificadora

Com o bacalhau pede um dente de alho e meia cebola cortada aos quartos. Se o restaurante se recusa a trazer estes banais apetrechos, levantamo-nos e vamos a outro.

Nos restaurantes a Maria João olha para o prato que recebe como um puzzle: qual será o prato delicioso escondido neste vulgar bacalhau com grão e batatas?

Uma estratégia que ela segue no Verão é a saladificação de tudo. Numa carteira tem microbisnagas com o melhor azeite e vinagre, flor do sal, óregãos selvagens e coentros fresquinhos.

Com o bacalhau pede um dente de alho e meia cebola cortada aos quartos. Se o restaurante se recusa a trazer estes banais apetrechos, levantamo-nos e vamos a outro.

Começa a salvação do prato. Desfaz o bacalhau em lascas e junta o grão. Dá uns trambolhões com o dente de alho. Corta e mistura um quarto de cebola. Esfrega e polvilha com orégãos. Tempera com azeite e vinagre. Dá um extraordinário número de voltas à salada, deixando-a arrefecer até ficar tépida.

Tempera a salada de tomates com a mesma mão infalível. Tira uma boa parte deste molho, já muito tomatado, para envolver as batatas cozidas, redimensionadas para cubinhos. Acerta o azeite, visita os orégãos, prova e volta a tornar — a salada de batata com molho de salada de tomates está pronta.

Isto leva 15, 20 minutos, bastante trabalho, alguma lata e muito jeitinho. Em dias já idos, de incompreensão e estupidez, eu chegava a acabar o meu vulgar bacalhau careta antes da Maria João ter concluído os preparativos.

Hoje beneficio descaradamente. Eis o almoço de hoje: uma saladinha bacalhoeira, uma saladinha de tomates e uma saladinha de batatas, tudo coberto de orégãos, a saber a Maria João.

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