Marina Silva apanhou Bolsonaro pelo seu ponto fraco, o eleitorado feminino

As mulheres representam 52% dos votos no Brasil e são a fatia dos eleitores mais indecisos. O candidato de extrema-direita precisa de as conquistar para progredir nas sondagens, mas a fama de machista precede-o.

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Paulo Whitaker/Paulo Whitaker

Marina Silva é considerada nestas eleições presidenciais no Brasil uma candidata frágil. Mas foi ela quem protagonizou o primeiro ataque frontal a Jair Bolsonaro, o ex-militar de extrema-direita, em directo, na televisão, no segundo debate entre os presidenciáveis, atacando pelo flanco eleitoral em que ele é mais vulnerável: o voto feminino.

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Marina Silva é considerada nestas eleições presidenciais no Brasil uma candidata frágil. Mas foi ela quem protagonizou o primeiro ataque frontal a Jair Bolsonaro, o ex-militar de extrema-direita, em directo, na televisão, no segundo debate entre os presidenciáveis, atacando pelo flanco eleitoral em que ele é mais vulnerável: o voto feminino.

Foi Bolsonaro que chamou Marina para um momento de frente-a-frente no debate na Rede TV, desafiando-a a dizer se era a favor do porte de armas – uma bandeira da sua campanha. Mas a candidata da Rede disse simplesmente "não" e aproveitou o tempo que lhe restava para confrontar Bolsonaro, que tem 26% das preferências dos homens, mas apenas 8% do voto feminino. Recuperou declarações dele em que dizia não achar mal que as mulheres recebam um salário mais baixo do que os homens.

"Você disse que a questão dos salários menores para as mulheres é uma coisa com que a gente não precisa se preocupar porque já está na Consolidação das Leis do Trabalho. Só uma pessoa que não sabe o que é ganhar um salário menor do que um homem tendo as mesmas capacidades, as mesmas competências, e ser a primeira a ser demitida” pode dizê-lo, afirmou Marina Silva.

Bolsonaro tentou negar que tenha defendido salários mais baixos para as mulheres. Mas numa entrevista televisiva em 2016 afirmou: "Eu não empregaria [homens e mulheres] com o mesmo salário. Mas tem muita mulher que é competente", recorda a agência Lupa, que verifica a veracidade de declarações e notícias. Disse ainda o agora candidato à presidência: "Entre um homem e uma mulher jovem, o que o empresário pensa? 'Poxa, essa mulher está com aliança no dedo. Daqui a pouco engravida. Seis meses de licença-maternidade' (…) Por isso que o cara paga menos para a mulher."

Uma referência a mulheres no programa eleitoral

O passado do candidato de extrema-direita brasileiro persegue-o, com uma justificada fama de machista – por interacções como quando, em 2014, insultou uma jornalista, dizendo que ela até era "bonita, mas uma idiota", ou a declaração de que "fraquejou" ao quinto filho e saiu uma menina.

Isto é especialmente importante porque as mulheres representam 52% do eleitorado brasileiro e a popularidade de Bolsonaro estabilizou. Precisa de conquistar o eleitorado feminino se quiser chegar a algum lado nestas presidenciais. Mas tropeça nos próprios pés: no seu programa eleitoral há apenas uma referência a mulheres – num quadro sobre violações, um crime que é citado para justificar o endurecimento das penas, diz a edição brasileira do El País.

As mulheres são, tradicionalmente, as eleitoras mais indecisas, ou que pelo menos levam mais tempo a decidir em quem vão votar. Um inquérito telefónico do site Poder360, divulgado em Junho, avançava que em cenários sem o ex-Presidente Lula da Silva na competição (o candidato preferido do eleitorado feminino brasileiro), 42% das mulheres diziam que podiam votar branco, nulo ou simplesmente diziam-se indecisas.

O objectivo dos candidatos é mudar esta situação – por isso há tantas mulheres candidatas a vice-presidente. Mas Bolsonaro não conseguiu aproveitar essa onda, embora tenha tentado, e compôs o ticket presidencial com outro ex-militar de características duras, igualmente acusado de simpatias pela ditadura, Hamilton Mourão.