O Pyramids FC quer chegar depressa ao topo da pirâmide

Com um investimento que rivaliza com alguns clubes de topo da Europa, o clube do Cairo já despediu o treinador por este se recusar a seguir as ordens do seu dono saudita.

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O Pyramids FC mudou o nome, o emblema e as cores: antes era azul e amarelo, agora é azul e branco LUSA/KHALED ELFIQI

Parece um nome inventado, como se alguém chamasse Big Ben FC a clube que fica ao lado do famoso relógio que marca as horas em Londres (existe um clube com este nome, mas na Índia). Mas é absolutamente verdadeiro. A principal liga de futebol do Egipto tem, a partir desta temporada, um clube chamado Pirâmides FC, em rigor Pyramids FC, o nome anglófono que está no emblema (que também tem uma esfinge) e facilmente reconhecível se um dos propósitos for a criação de uma marca internacional, e que tem um dono saudita absolutamente determinado em tornar-se o faraó do futebol egípcio. É exactamente o que ele está a fazer. Injectou muito dinheiro, mas já despediu o treinador, não por incompetência, mas por falta de subserviência.

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Parece um nome inventado, como se alguém chamasse Big Ben FC a clube que fica ao lado do famoso relógio que marca as horas em Londres (existe um clube com este nome, mas na Índia). Mas é absolutamente verdadeiro. A principal liga de futebol do Egipto tem, a partir desta temporada, um clube chamado Pirâmides FC, em rigor Pyramids FC, o nome anglófono que está no emblema (que também tem uma esfinge) e facilmente reconhecível se um dos propósitos for a criação de uma marca internacional, e que tem um dono saudita absolutamente determinado em tornar-se o faraó do futebol egípcio. É exactamente o que ele está a fazer. Injectou muito dinheiro, mas já despediu o treinador, não por incompetência, mas por falta de subserviência.

É no fundo uma versão egípcia de algo que se tem visto muito na Europa. Dono milionário compra clube, investe no clube e quer que tudo no clube seja como ele quer, incluindo quem joga. E foi o que aconteceu com o xeque árabe Turki al-Sheik no Pyramids FC. Investiu como nunca se tinha visto no futebol egípcio (cerca de 35 milhões de euros em contratações) e só queria que o treinador lançasse quem ele queria a jogar. Isso não aconteceu e o treinador foi despedido, apesar de ter conseguido resultados, duas vitórias e um empate nas três primeiras jornadas do campeonato e a liderança partilhada com mais três equipas.

Vamos ao início da história. Antes de ser Pirâmides Futebol Clube, chamava-se e Al Assiouti Sport, fundado em 2008 e promovido à principal liga egípcia pela primeira vez em 2014. Foi despromovido na época seguinte, voltou ao escalão principal em 2017 e terminou esta época em nono lugar, com menos de metade dos pontos do Al Ahly, campeão egípcio pela 40.ª vez em 59 temporadas. Em Junho passado foi anunciado que o dono do Al Assiouti tinha vendido o clube a um xeque árabe que antes tinha sido presidente honorário do Al Ahly (e investidor no clube) e que é directo da Autoridade Desportiva da Arábia Saudita, na prática ministro do desporto do país.

Mudou a equipa para o Cairo, mudou-lhe o nome, mudou-lhe as cores (passou de azul e amarelo para azul e branco) e começou a fez o que achava que tinha de ser feito. Foi buscar o treinador do Al-Ahly, Hossam El-Badry, para ser o director executivo do clube, convencendo-o com um salário anual de 2,5 milhões de euros, contratou o antigo seleccionador do México, o argentino Ricardo La Volpe, para conselheiro técnico, e foi ao Brasil buscar o seu treinador, Alberto Valentim, um jovem e promissor técnico de 38 anos que tinha sido poucos meses antes campeão carioca com o Botafogo.

E também foi no Brasil que o Pyramids FC recrutou os seus quatro estrangeiros, jogadores já com alguns créditos. O mais caro de todos foi Keno, um extremo contratado ao Palmeiras por 8,5 milhões. Carlos Eduardo, outro extremo (ex-Goiás), custou 5,2 milhões, tal como Rodriguinho, um médio ofensivo do Corinthians que já foi internacional por duas vezes. Quatro milhões foi quanto custou Ribamar (ex-Atlético Paranaense), um jovem avançado que já passou pelo futebol alemão. Para além dos brasileiros, o Pyramids foi agressivo no recrutamento interno e em clubes árabes, garantindo o concurso de vários internacionais egípcios.

Parecia estar tudo no lugar para levar este Pyramids FC ao topo da pirâmide do futebol egípcio. E as coisas até não começaram mal, com uma vitória por 1-0 sobre o Enppi (com um golo no último minuto), mas a equipa engasgou na segunda jornada (1-1 em casa com o El-Entag) e o xeque começou a fazer exigências ao treinador. Tanto a imprensa brasileira, que tem dado muita cobertura ao caso, como a egípcia, garantiram que o dono do clube exigiu a Alberto Valentim que não utilizasse Ribamar no jogo seguinte.

O técnico brasileiro manteve o seu compatriota no “onze” e este até marcou os dois golos no triunfo por 2-1 na terceira jornada, mas Turki al-Sheik avançou mesmo para o despedimento de Valentim, segundo jornais brasileiros e egípcios, por este não ter feito o que o “faraó” queria. Valentim terá chegado a acordo para receber a indemnização pela totalidade do contrato e já publicou um comunicado nas redes sociais a dizer que sai “sem atrito, briga ou desavença com a directoria”. Mas com os bolsos cheios.