Marcelo dá última lição a 20 de Setembro

A três meses de completar os 70 anos, o Presidente vai formalmente dar por finda a carreira docente. Não tem intenção de voltar a dar aulas depois de terminar o mandato e não quer beneficiar de uma lei que terá de promulgar.

Marcelo Rebelo de Sousa conversa com alunos da Escola Secundária de Camarate durante uma aula-debate
Fotogaleria
Marcelo Rebelo de Sousa conversa com alunos da Escola Secundária de Camarate durante uma aula-debate LUSA/JOÃO RELVAS
Aula sobre Mário Soares dada pelo Presidente da Republica Portuguesa, aos alunos do Colégio Moderno
Fotogaleria
Aula sobre Mário Soares dada pelo Presidente da Republica Portuguesa, aos alunos do Colégio Moderno Enric Vives-Rubio
Marcelo dá a última aula na Faculdade de Direito antes de tomar posse em Belém
Fotogaleria
Marcelo dá a última aula na Faculdade de Direito antes de tomar posse em Belém evr Enric Vives-Rubio

Marcelo Rebelo de Sousa não tem intenção de voltar a dar aulas depois de terminar o mandato presidencial e dará a última lição a 20 de Setembro na Universidade de Lisboa, aceitando o convite do reitor. 

O actual chefe de Estado, que completa os 70 anos a 12 de Dezembro, tem já marcada a última lição como professor da Faculdade de Direito na abertura do ano lectivo da Universidade de Lisboa, a 20 de Setembro. Não deverá, pois, tirar proveito de uma lei que venha a permitir continuar a trabalhar após os 70 anos de idade. "Já tinha tomado uma decisão quando o senhor reitor da Universidade de Lisboa, que é a minha universidade, fez o convite na eventualidade de dar a minha última aula na abertura do ano lectivo, o que aceitei", disse esta sexta-feira, citado pela Lusa. 

Na verdade, a questão nem se colocaria já hoje, pois na Faculdade onde é professor (como noutras) os docentes com mais de 70 anos só não podem leccionar na licenciatura, mas pode ensinar no mestrado e doutoramento, ainda que a título gracioso. Se a lei for aprovada, como é intenção do Governo, a diferença seria que esses docentes teriam direito a remuneração, o que hoje não acontece.

Mas o Presidente da República, seja ou não reeleito, não tenciona prolongar a sua actividade docente além dos 70 anos. Admite apenas poder vir a ajudar outros docentes em mestrados e doutoramentos, se para tal for convidado, e sempre de forma gratuita, sabe o PÚBLICO. Ou seja, não irá beneficiar da lei que ele próprio tem de promulgar.

Em 1 Março de 2016, uma semana antes de tomar posse como Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa despediu-se dos seus alunos numa aula muito participada – havia 235 estudantes a assistir, além de um grande grupo de repórteres que só pôde manter-se durante os minutos iniciais. Foi uma aula “comovente”, descreveram os alunos, sem dar grandes pormenores sobre as “lições para a vida” que o professor partilhou. Não seria a última.

Mais tarde, já como Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa voltou à escola. Não uma, nem duas vezes. Nessas ocasiões, por vezes especiais (aniversários de mandato) aproveitou para deixar mensagens políticas, incluindo ao Governo.

As lições de Marcelo

Foi o que aconteceu em Abril de 2017, numa aula de homenagem a Mário Soares. Perante a plateia de alunos do Colégio Moderno, o Presidente recordou o histórico político do PS mas aproveitou também para falar sobre António Costa. "Eu, às vezes, digo: 'não, o senhor primeiro-ministro irrita-me um bocadinho, porque é evidente que há problema e está a tentar explicar-me que não há esse problema, e não me entra na cabeça'. E depois recorro a um argumento de autoridade, a que não se deve recorrer: é que eu ando a analisar a política portuguesa há 50 anos”, contou.

Na Universidade dos Açores, em Outubro do mesmo ano, o Presidente deu uma aula de 45 minutos em que falou sobre a elite distante do povo. Reconheceu que era no papel de professor que se sentia bem e aconselhou os jovens na assistência a não se fecharem. “Se o fizerem, nascem os populismos, fruto de as pessoas não saberem, de terem medo, de se sentirem marginalizadas”.

Meses antes, quando cumpriu um ano de mandato, foi ao liceu da sua juventude – o Pedro Nunes, em Lisboa – falar e responder a perguntas, incluindo sobre uma eventual recandidatura. Não deu pistas, não levantou nenhuma ponta do véu, disse apenas que “no Verão de 2020, portanto, daqui a três anos e meio, mais coisa menos coisa”, há-de “pesar a situação que existir em Portugal”.

O segundo aniversário foi passado no Laranjeiro, em Almada. Aí, Marcelo não esqueceu o momento traumático que foi para o país o incêndio de Pedrógão Grande, mas também os fogos de Outubro. Foram “o ponto mais doloroso” da Presidência, assumiu perante a assistência.

Já havia dito algo semelhante em Janeiro, em Camarate, numa lição dinamizada por duas perguntas que fez aos alunos: “Quais são os principais problemas de Portugal?”; e “o que é que cada um de vocês pode fazer para ajudar a resolver esse problema?”

No dia 20 de Setembro, Marcelo dará a sua última aula como professor da Faculdade de Direito. As suas lições, contudo, vieram para ficar. com S.S.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários