Amnistia denuncia "operação de limpeza" pela polícia da Indonésia que mata dezenas de pessoas

A operação insere-se numa acção de segurança conduzida pelas autoridades antes dos Jogos Asiáticos, mas a Amnistia Internacional denuncia abusos de força.

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O número de mortes resultantes de operações policiais aumentou 64% em relação a período homólogo do último ano Reuters/STRINGER

A polícia da Indonésia está a matar dezenas de pessoas numa acção que está a ser descrita como uma “operação de limpeza”. O pretexto é a realização dos Jogos Asiáticos, uma competição desportiva que junta os países asiáticos de quatro em quatro anos, e que este ano é recebida na Indonésia. Os dados são revelados num relatório da Amnistia Internacional publicado nesta quinta-feira. Os números recolhidos contam pelo menos 77 mortes resultantes de acção policial, 31 das quais em cidades que recebem a competição.

A organização internacional de direitos humanos garante que a operação é “desnecessária e excessiva” e denuncia abusos policiais contra pequenos delitos. De acordo com os dados recolhidos pela Amnistia Internacional, só este ano, entre Janeiro e Agosto, foram contabilizados 77 mortes resultantes de acção policial sobre pequenos criminosos. Comparativamente ao mesmo período em 2017, os números revelam um aumento de 64% das mortes.

Diz ainda o relatório, que as mortes ocorreram durante operações que visavam explicitamente preparar as cidades para receber o evento desportivo. Em Jacarta, capital do país, para além das mortes, as operações policiais balearam 41 pessoas nas pernas e levaram à condenação de 700 pessoas por ofensas criminais.

“Estes números chocantes revelam um padrão desnecessário e excessivo de uso de força policial”, avalia Usman Hamid, director da Amnistia Internacional da Indonésia. “As autoridades prometeram melhorar a segurança de uma vez por todas. Em vez disso vemos tiroteios e dezenas de pessoas mortas no país sem que a responsabilidade e circunstâncias dessas mortes sejam apuradas”, acusa o mesmo responsável.

As autoridades indonésias argumentam que as mortes resultam de uma crescente preocupação com o aumento de crimes violentos nas cidades. No entanto, a explicação não convence a Amnistia Internacional, que denuncia a prática de uma “licença para matar” e a política de “disparar primeiro, perguntar depois”.

O uso de força excessiva durante protestos ou operações de segurança é uma das violações de direitos humanos apontadas pela Amnistia, que lembra ainda que a Indonésia deve, por imposição do direito internacional, respeitar e proteger o direito à vida e que o uso de força só pode ser usado quando for estritamente necessário e enquanto último recurso.

Os Jogos Asiáticos arrancam este sábado e prolongam-se até 2 de Setembro.

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