Elevado desempenho na colheita e transplantação de órgãos

É exigível que esta dinâmica seja mantida. Exigem-no todos os nossos concidadãos que precisam de um órgão para viver com qualidade.

No último ano, a transplantação em Portugal atingiu um nível de actividade de que nos podemos orgulhar. É a face de uma história de trabalho de excelência das equipas, desde a colheita ao ato da transplantação.

Desde o primeiro transplante de órgãos, realizado em Portugal em 20 de julho de 1969 pelo professor Linhares Furtado, que a transplantação leva um percurso de sucesso no nosso país, de que os excelentes resultados de 2017 são exemplo. A atividade de transplantação tem sido diferenciadora para muitos hospitais do SNS, assumida como prática de rotina, permitindo dar resposta aos doentes portadores de falência terminal de órgão sem outra alternativa terapêutica senão o transplante.

O número de transplantes realizados tem registado um aumento significativo; em 2017 foram transplantados 895 órgãos, mais 3,5% do que em 2016, o maior número dos últimos oito anos. A transplantação renal alcançou valores superiores aos dos últimos cinco anos, com um número de transplantes a partir de dador vivo nunca registado. Significativos são também o maior número de transplantes pulmonares e o aumento do número de transplantes do pâncreas. A transplantação hepática e cardíaca mantêm assinalável atividade.

Estes resultados colocam Portugal no “mapa” da transplantação mundial. A dinâmica da atividade de doação de órgãos levou Portugal ao 2.º lugar mundial em número de dadores falecidos, em 2017, sendo que nesse ano atingimos o maior número de dadores falecidos de sempre e o maior número de órgãos colhidos. Nesta área é muito relevante a doação de órgãos em paragem cardio-circulatória (PCC) iniciada em 2016 no Centro Hospitalar de S. João, que registou 21 dadores no ano passado quando em 2016 tinha registado apenas dez. Espera-se que a extensão do Programa de Doação em PCC aos Centros Hospitalares de Lisboa Norte e de Lisboa Central, que ocorreu no final de 2017 possa aumentar a doação de órgãos e, por conseguinte, a sustentabilidade dos programas de transplantação.

É exigível que esta dinâmica seja mantida. Exigem-no todos os nossos concidadãos que precisam de um órgão para viver ou viver com qualidade.

O desenvolvimento e êxito da doação e da transplantação em Portugal nos últimos anos devem muito ao esforço de todos os profissionais envolvidos, desde a Coordenação Nacional da Transplantação até aos hospitais, cujo empenho para além das estritas obrigações profissionais é uma atitude louvável de parceria solidária com os doentes que precisam de um órgão e a quem o SNS não pode defraudar legítimas expetativas.

Por razões socialmente relevantes de maior longevidade e de melhoria de cuidados de saúde, vamos assistir nos próximos anos a uma maior escassez de órgãos para transplantação a partir de dadores em morte cerebral. Interessa, por isso, acautelar o futuro, intensificando a identificação de possíveis dadores, quiçá alargando os programas de doação em PCC.

Podemos viver tempos em que continuaremos a aumentar o número de dadores, mas paradoxalmente teremos menos órgãos para transplante por falta de qualidade, associada muitas vezes à idade dos dadores.

Há que olhar a doação a partir do dador vivo, sobretudo de rim, como um dos caminhos do futuro para suprir a escassez de órgãos. Os hospitais do SNS com esta responsabilidade saberão dar a necessária resposta.

Em 2019, quando o SNS comemora os seus 40 anos, celebram-se os 50 anos do primeiro transplante de órgãos em Portugal. Uma convergência de efemérides, que deve ser assinalada pela trajetória de prestígio que a transplantação tem granjeado para o SNS.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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