A rede de Metropolitano

De um modo ou de outro as populações de Odivelas serão sempre as mais prejudicadas com a criação da linha verde circular.

1. No passado dia 31 de Julho teve lugar no Auditório do Alto dos Moinhos uma sessão de esclarecimento no âmbito do processo de consulta pública do Estudo de Impacto Ambiental das alterações da rede do Metropolitano de Lisboa.

Um bom número das questões aí levantadas e debatidas teve a ver com a opção manifesta nas referidas alterações e que é a criação de uma linha verde circular que absorve a actual da mesma cor, do Campo Grande ao Cais do Sodré e o troço da actual linha amarela entre Campo Grande e o Rato, fazendo-se o fecho do círculo entre o Cais do Sodré e o Rato com duas novas estações na Estrela e em Santos.

O Metropolitano, nesta sessão, procurou assinalar as virtualidades da nova linha circular, basicamente invocando uma melhor distribuição do serviço da sua empresa em Lisboa, com retirada de veículos do centro da cidade e também uma melhoria dos tempos de percurso.

2. Ora, uma das alterações que o projecto supõe, é o desaparecimento do desenho actual da linha amarela entre Odivelas e o Rato, com a sua transformação num autêntico ramal, o ramal de Odivelas.

Os clientes com origem nesta linha serão obrigados a transbordos.

Um para todos, dois para uma boa parte.

O primeiro será no Campo Grande, quer para os que se dirigem para o percurso actual da linha verde, em direcção à Baixa e ao Cais do Sodré, quer para os que se dirigem às zonas servidas pela linha azul.

Estes serão obrigados a um segundo transbordo no Marquês de Pombal.

Nessa sessão questionei o Metropolitano se tinha dados sobre o volume de clientes que utilizam cada uma daquelas duas direcções e que serão obrigados a um ou a dois transbordos.

O Metropolitano não tinha.

Também perguntei se tinham dados sobre os tempos de percursos expectáveis - incluídos esperas, trajectos e transbordos - para aquelas duas direcções, mas também não houve respostas concretas, apenas que tudo tinha sido tido em consideração.

Ora, mesmo passando por cima do facto de os tempos de passagem dos comboios, em todas as linhas, serem uma questão difusa, tantos são os dias em que as sacrossantas "perturbações na circulação" estão presentes nos placards das estações, ficou patente para os presentes naquela sessão que as "grandes vantagens" que a nova linha circular comporta e os seus reflexos no encurtamento da linha amarela, se transformam, para os clientes da linha amarela a montante do Campo Grande, em grandes inconvenientes traduzidos em mais transbordos e mais demoras.

E que o desiderato de tirar carros de Lisboa se vai transformar no seu contrário, no que às redondezas do Campo Grande diz respeito.

3. Perante a já natural revolta dos clientes de Odivelas, existe uma iniciativa da autarquia de Odivelas junto do Ministério do Ambiente no sentido da manutenção da linha amarela no desenho actual, Odivelas/Rato.

Segundo o respectivo Presidente da Câmara, presente e interveniente na sessão, o Ministro ter-lhe-ia garantido a possibilidade da partilha da linha verde circular com a linha amarela entre Campo Grande e Rato.

O que lhe foi respondido na sessão, em termos diplomáticos, foi que, em teoria, a referida partilha seria possível, mas não estava prevista.

Digam-se em abono da verdade três coisas:

A primeira é que a partilha de linhas não existe actualmente no Metropolitano de Lisboa e certamente que a sua hipotética adopção levantará novas questões que terão de ser equacionadas a menor das quais não será certamente a necessidade de mais carruagens.

A segunda é que, se numa mesma via férrea vão circular comboios de duas linhas isso implicará uma maior demora, mais tempos de espera, e aquilo que era um inconveniente para uns, passa a sê-lo para todos.

Finalmente temos que concordar que existe algum absurdo na utilização de um mesmo percurso, Campo Grande/Rato, por comboios de duas linhas.

De um modo ou de outro as populações de Odivelas serão sempre as mais prejudicadas com a criação da linha verde circular.

4. Finalmente dizer que a adopção de uma linha circular seria uma primeira medida para colocar a rede do Metropolitano de Lisboa no mapa das redes de metropolitano, pelo menos da Europa, não fora o facto de só ser circular por ser redonda, ou quase, mas falta-lhe o essencial: ser uma verdadeira nova linha e não um conjunto de enxertos das linhas existentes.

Quanto ao resto, aquilo que o Metropolitano tem feito para "expansão" da rede é esticar as linhas existentes quase até ao infinito, em vez de criar novas linhas num desenho em teia como acontece com os principais metros da Europa.

Tenha-se como exemplo a linha azul.

Já sofreu vários processos de esticamento, chegando-se ao cúmulo de a levar ao interface com a CP na Reboleira onde se despeja para cima dos clientes do percurso a jusante, Amadora, Pontinha, Colégio Militar, etc., com cada vez mais gente.

Não teria sido mais racional criar uma nova linha da Reboleira, passando por Venda Nova, Estrada de Benfica, 2ª Circular, com cruzamentos com as linhas azul, amarela e verde, por exemplo.

A sessão no Alto dos Moinhos também teve o seu momento humorístico quando um dos elementos da mesa referiu como uma das justificações para a criação da estação de Santos a presença dos muitos jovens que frequentam os bares da zona, numa ajuda para a solução da difícil contradição entre beber e conduzir.

O piadético da questão é que quando estes potenciais clientes terminam as suas "actividades" os portões do Metropolitano já estão fechados.

Jurista e membro da Assembleia Municipal de Odivelas

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