Dez canções essenciais de Aretha Franklin

De I never loved a man (The way I love you), de 1967, que marcou o início da colaboração de Aretha Franklin con a Atlantic Records, até ao funk de Rock steady ou ao gospel de Amazing Grace, nos anos 70, uma escolha de dez canções inesquecíveis da rainha do soul.

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MIKE NELSON/EPA

I never loved a man (The way I love you) (1967)

Lançado a 10 de Fevereiro de 1967, I never loved a man (The way I love you), o primeiro single que Aretha Franklin gravou para a Atlantic Records foi também o seu primeiro disco a atingir o top ten nas tabelas de popularidade. A canção foi expressamente composta para ela por Ronnie Shanon. No vídeo abaixo, Aretha interpreta I never loved a man (The way I love you) num lendário concerto em Amesterdão, no Concertgebouw, em 1968.

Do right woman, do right man (1967)

Lado B de I never loved a man (The way I love you), um single do qual se pode bem dizer que tinha dois lados A, Do right woman, do right man, de Chips Moman e Dan Penn, é uma melodia com influências gospel que antecipa a temática de Respect, mas o que neste será já exigência revoltada, é ainda aqui um aviso sereno: “They say that it's a man's world/ But you can't prove that by me/ And as long as we're together baby/ Show some respect for me”. Em Novembro de 1967, Aretha Franklin interpretou esta canção ao vivo na televisão, no Merv Griffin Show.

Respect (1967)

A canção é de Otis Redding, que a gravou em 1965. A sua versão atingiu o Top 40 e provavelmente merecia ter chegado mais alto. Mas quando Aretha Franklin pegou em Respect, deu-lhe uma volta tal que transformou uma boa canção numa peça central do património cultural americano. Adoptado como hino tanto pelo movimento de luta pelos direitos civis dos negros como pelas organizações feministas, Respect, tema de abertura do álbum que tornou a cantora uma estrela mundial, I Never Loved a Man (The Way I Love You), foi depois lançado em single em Abril de 1967 e ficou duas semanas no topo da tabela. Mal ouviu a versão de Aretha Franklin, Redding percebeu o que tinha acontecido: “That girl stole that song from me”. Aretha interpreta aqui a canção num concerto em Rhode Island, em Novembro de 1967.

(You make me feel like) A natural woman (1967)

Carole King e Gerry Goffin compuseram (You make me feel like) A natural woman para a voz de Aretha Franklin e a canção, lançada em single em Setembro de 1967 e integrada uns meses mais tarde no álbum Lady Soul, de 1968, transformou-se rapidamente num seus temas mais populares. Mas se este hino de gratidão a um amor feliz, tópico algo invulgar no seu reportório, poderia estar a atingir aquele ponto em que, de tão ouvido, se arriscava já a parecer um pouco gasto, esta fabulosa interpretação de Aretha Franklin na homenagem a Carole King – a tal que levou Obama às lágrimas –, restituiu-lhe toda a sua vitalidade original e voltou a fazer de Natural woman um das canções icónicas da rainha da soul.  

Chain of fools (1967)

Integrado em Lady Soul (1968), este tema de uma mulher que descobre que o seu homem a trai com outras mas não consegue abandoná-lo – "But I found out, I'm just a link in your chain/ Oh, you got me where you want me/ I ain't nothin' but your fool" – foi lançado em single ainda em 1967, um ano em que Aretha Franklin se reinventou, a ela e à música soul. Com a guitarra de Joe South e o coro das Sweet Inspirations, onde cantava Cissy Houston, mãe de Whitney Houston e tia de Dionne Warwick, Chain of fools, composta por Don Covay, chegou ao segundo lugar dos tops. Mais uma das canções que Arteha Franklin levou para o concerto de Amesterdão, em 1968.

Think (1968)

Aretha Franklin compôs Think na ressaca do assassinato e do funeral de Martin Luther King. Se a cantora não imaginou que a sua versão de Respect se tornaria um hino feminista e um grito de guerra contra o racismo, a dimensão política de Think é deliberada. “Let your mind go, let yourself be free”, canta Aretha antes de o coro gritar uma dúzia de vezes, em crescendo, a palavra “freedom”. Tema de abertura do álbum Aretha Now e lançada em single em Maio de 1968, a canção chegou ao top ten. Em 1980, John Landis convidou a cantora a interpretar Think no filme Blues Brothers, onde encarna a personagem de Mrs. Murphy.

I say a little prayer (1968)

Composto pela dupla Burt Bacharach e Hal David, I say a little prayer já era um sucesso na voz de Dionne Warwick, que gravou a canção em 1967, quando Aretha Franklin lhe pegou no ano seguinte e a incluiu no seu álbum Aretha Now, lançado em Junho de 1968. E conseguiu, como em tantos outros casos, tornar inteiramente sua uma canção alheia. Ambas as versões, a de Warwick e a sua, chegaram ao top ten. “Aretha levou a canção para um sítio muito mais profundo”, ajuizou o próprio Bacharach quando ouviu a sua versão. É de 1970 esta notável interpretação ao vivo.

Rock steady (1971)

Foi um dos grandes sucessos de Aretha Franklin no início dos anos 70. Escrita pela própria Aretha Franklin, mas que sempre fez questão de dividir os louros da composição com o compositor e pianista Donny Hathaway, Rock steady é um dos temas mais energéticos e dançáveis de Aretha Franklin. A canção foi lançada em single em Outubro de 1971 e chegou ao top ten, tendo depois integrado o álbum Young, Gifted and Black, que saiu em Janeiro do ano seguinte. Como o título do álbum sugere, esta é também uma música com intenções políticas. Quando Barack Obama divulgou, em 2015, a playlist que ia levar para férias, foi justamente este o tema que escolheu para representar Aretha Franklin. Em 1971, a cantora interpretou Rock steady no programa televisivo Flip Wilson Show.

Amazing Grace (1972)

No mesmo ano em que sai Young, Gifted and Black, Aretha Franklin regressa às suas raízes, aos espirituais negros que cantava em Detroit na igreja baptista do pai, e lança o álbum duplo Amazing Grace, uma obra-prima gravada ao vivo numa igreja com o Southern California Community Choir. O álbum vendeu mais de dois milhões de exemplares só nos Estados Unidos, tornando-se o álbum mais vendido de toda a sua extensa carreira. A peça central do disco é Amazing Grace, um hino cristão cujo texto se deve a um poeta, clérigo e esclavagista inglês dos século XVIII, John Newton, e que Aretha Franklin faz durar quase 11 minutos. Abaixo a versão do disco de 1972, mas só com o registo áudio, sem imagens.

Until you come back to me (That’s what I’m gonna do) (1974)

Aretha Franklin lançou esta canção de uma amante determinada a reconquistar o homem que a abandonou em Outubro de 1973, num single que vendeu um milhão de exemplares. Depois incluída no álbum Let Me In Your Life, de 1974, a canção tem uma história invulgar: co-escrita por Stevie Wonder, com Morris Broadnax e Clarence Paul, o cantor gravou-a em 1967, mas nunca a lançou em single, e só veio a recuperá-la para o triplo álbum Anthology em 1977, quando Until you come back to me (That’s what I’m gonna do) já era irremediavelmente uma canção de Aretha Franklin. Ela própria conta, nesta actuação ao vivo, como Stevie Wonder lhe telefonou uma noite a dizer: “Aretha, tenho uma canção para ti”.

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