Universidade de Coimbra deixa de estar entre as 500 "melhores" do mundo

Resultados do chamado ranking de Xangai já são conhecidos. Em relação a 2017 há poucas mudanças a assinalar e uma delas diz respeito a Portugal.

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O reitor da Universidade de Coimbra está confiante de quem 2019 recuperará o lugar da insttuição no ranking de Xangai
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O reitor da Universidade de Coimbra está confiante de quem 2019 recuperará o lugar da insttuição no ranking de Xangai ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

Bastaram nove décimas para a Universidade de Coimbra saltar fora do chamado “ranking de Xangai”, que anualmente apresenta o que considera serem as 500 melhores universidades do mundo. Os resultados de 2018 desta lista, que oficialmente se chama Academic Ranking of World Universities (ARWU), foram conhecidos nesta terça-feira.

Nos primeiros dez lugares mantêm-se as mesmas universidades que ocupavam estas posições em 2017. Oito são dos Estados Unidos e duas do Reino Unido. A lista é encabeçada pela Universidade de Harvard, como, aliás, tem acontecido desde 2003, altura em que este ranking começou a ser feito.

Também as quatro universidades portuguesas que permanecem na lista das 500 “melhores” (Lisboa, Porto, Aveiro e Minho) mantêm a mesma posição do ano passado. A surpresa foi Coimbra, que entrou neste ranking em 2013 e agora ficou de fora.

Para a avaliação feita pela empresa de consultoria ShanghaiRanking Consultancy contam, entre outros factores, o número de antigos alunos e de professores contemplados com o prémio Nobel ou com as medalhas Fields, respeitantes à investigação em matemática, o número de artigos publicados nas revistas Nature e Science, o número de citações de artigos científicos de investigadores das universidades e o desempenho per capita da universidade em todos estes indicadores.

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Por comparação com 2017, a Universidade de Coimbra, que ocupava o último intervalo do ranking (401-500), desceu oito décimas no tópico respeitante ao número de publicações nas revistas atrás referidas e uma décima no indicador que avalia a performance per capita, tendo em conta o número de professores da instituição a tempo inteiro.

“Embora constitua sempre um sinal de preocupação, a oscilação registada é muito pequena e, por isso, estou convencido que está ao nosso alcance regressarmos, já no próximo ano, ao top 500”, disse ao PÚBLICO o reitor da Universidade de Coimbra, João Gabriel Silva, que, no entanto, se manifestou “surpreendido” pelo resultado.

Gabriel Silva atribui o afastamento da sua universidade a um fenómeno que se tem vindo a consolidar nos últimos tempos: “A entrada muito significativa das universidades asiáticas [nesta análise anual] que tem levado a que várias instituições norte-americanas e europeias percam um lugar entre as 500 melhores.” Só num ano, entre 2017 e 2018, entraram mais oito para a lista de Xangai, elevando para 106 o número de universidades asiáticas ali representadas.

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“É na Ásia que está agora uma parte substancial da riqueza do mundo, o que faz com que as condições para desenvolver a investigação sejam muitas”, acrescenta o reitor. Muito longe de ter os recursos de que dispõem outras instituições de ensino superior do mundo, a Universidade de Coimbra tem de investir na “qualidade da massa humana” para se manter competitiva a nível internacional e isso está a ser feito, garante. Um exemplo: “Alterámos de forma muito substancial as condições de recrutamento, subindo o peso da investigação científica do mínimo de 40% para 70%.”

Gabriel Silva considera ainda que a “produtividade média das universidades portuguesas representadas na lista é muito similar e que, por isso, a diferenciação é feita pela dimensão”, a que o ranking de Xangai dá grande importância. “Foi o que se passou com a fusão das universidades Clássica e Técnica de Lisboa. As mesmas pessoas a fazer as mesmas coisas conseguiram de repente dar um salto”, especifica.

A lista de Xangai só discrimina os lugares das instituições até ao 100.º lugar. A partir daí, estas são colocadas em grandes intervalos, por exemplo, 201-300 em vez de 201.º, 202.º, 203.º e por aí fora. A primeira vez que a “nova” Universidade de Lisboa (UL), resultante da fusão entre a Clássica e a Universidade Técnica, apareceu neste ranking foi em 2014, tendo subido na altura para o intervalo de lugares entre o 201 e o 300. No ano anterior a este, a Clássica estava no intervalo 301-400 e a Técnica figurava no 401-500. Em 2016 conseguiu subir para o patamar entre os lugares 151 e 200, posição que manteve até agora. 

“Há um impacto da fusão, mas os resultados que alcançámos vão além disso”, afirma o reitor da Universidade de Lisboa (UL), António Cruz Serra, frisando que a instituição está 50 lugares acima daquele que resultaria da soma das duas antigas universidades. E se “não é fácil manter a universidade na posição que actualmente ocupa”, também não será conseguir “subir ainda mais”.

Embora considere que tal “não está fora das possibilidades” da UL, lembra que neste ranking se compete com universidades, como a de Harvard, que “têm um orçamento por ano que é quase três vezes superior ao de todas as universidades portuguesas em conjunto”. 

“Não é fácil subir com o nível de financiamento actual que temos”, insiste, para apontar que a aposta da UL passa, sobretudo, pela “renovação do corpo docente” e, neste âmbito, garantir que se “contratem os melhores investigadores disponíveis e sobretudo os que são jovens”. Mas mesmo aqui há constrangimentos: “Temos poucos investigadores estrangeiros, porque os salários que podemos pagar são muito baixos para eles.”

Ter um Nobel conta

Apesar de considerar o ranking de Xangai “muito fiável, por medir de facto a produção científica realizada e não se basear em inquéritos”, Cruz Serra chama a atenção para uma das particularidades desta listagem, que afasta muitas universidades da competição. E esta particularidade tem que ver com o peso que assume na cotação total (30 pontos em 100) a existência, entre os antigos alunos e professores, de galardoados com o prémio Nobel ou com as medalhas Fields.  

Neste aspecto, e por comparação com as outras instituições portuguesas, a UL tem cartas a dar. É a única que tem um Nobel entre os seus antigos professores. Trata-se de António Egas Moniz, que recebeu o Nobel da Medicina em 1949, quando leccionava naquela universidade. No ranking de Xangai este passado tem valido oito pontos à UL.

Por comparação com 2017, a instituição de Lisboa subiu na pontuação relativa ao número de artigos publicados em revistas científicas, ao número de citações e ao desempenho per capita. E desceu no indicador relativo “ao número de investigadores muito citados”, um parâmetro que também tem sido levado em conta na avaliação das universidades de Aveiro e do Minho, que entraram em 2016 para o ranking de Xangai. Ambas mantêm-se entre os lugares 401 e 500. À sua frente continua a Universidade do Porto, que continua no patamar entre as posições 301 e 400.

A Europa continua a ser a região com mais universidades representadas no ranking de Xangai (195), logo seguida pelas Américas (167).

Apesar da superioridade numérica do continente europeu, são as universidades do outro lado do Atlântico, com destaque para as dos Estados Unidos, que ocupam metade dos primeiros 100 lugares do ranking. A Europa tem 34 universidades neste top 100, sendo oito do Reino Unido, o mais representado neste grupo.

Este ano, para além do tradicional ranking das 500 "melhores" do mundo que é sempre divulgado por esta altura, a ShanghaiRanking Consultancy disponibilizou ainda uma lista com as 500 que não entraram neste grupo: e lá estão as universidades de Coimbra e Nova de Lisboa, ambas no intervalo 501-600. Pode tudo ser consultado neste link do ARWU.

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