Bonga tem uma "festa com amigos" em Setembro para celebrar os seus 76 anos

Espectáculo na Aula Magna contará "com algumas participações surpresa".

Fotogaleria
Fotografado em Lisboa enric vives-rubio
Fotogaleria
Concerto no Coliseu do Porto em 2016 paulo pimenta
Fotogaleria
MARTIM RAMOS

O músico angolano Bonga celebra 76 anos no palco da Aula Magna da Universidade de Lisboa a 5 de Setembro com um espectáculo ao qual se referiu como "uma festa com amigos".

Em entrevista à agência Lusa, Bonga disse que o espectáculo na Aula Magna "vai ser antes de mais um dia de festa" porque é o seu 76.º aniversário.

"Vou lá ter as pessoas que frequentam a minha casa, os familiares, os amigos e os fãs, que são uns miúdos incríveis. Vamos recordar o que se canta lá em casa, desde o Corrumba às Frutas de Vontade, fazendo vibrar num espectáculo que é um reencontro com pessoas que me querem muito", disse o músico que recordou a carreira de mais de 40 anos.

Uma carreira que se confunde com a música angolana e a história do país, que retrata nas suas canções, e é feita de "muitas cumplicidades musicais".

Bonga recordou "os tempos difíceis" que viveu, tendo chegado "a ser proibido de actuar, até em Angola", e quando a música angolana, "de forma pejorativa, era chamada de folclore".

"Houve um período de preconceito, em que chamavam [à música angolana] o folclore, o que era um bocado pejorativo, e [houve] obstáculos que tive de enfrentar, porque era uma música diferente, que não era valorizada, menos ouvida, e hoje, mais do que nunca, tenho a consciência de ter posto um tijolo nessa grande construção que é a divulgação, consequente, desta nossa música angolana/africana", afirmou o músico, acrescentando que a música angolana, actualmente, "é mais reconhecida e conceituada do que há 20 anos".

Referindo-se às actuais fusões musicais como os ritmos kizomba com kuduro, o músico considerou que "correm o risco de passar depressa", ao contrário do género que sempre cantou, "o semba, que está definido, que é angolano, e é intemporal, aliás, mesmo os que fazem essas fusões acabam por vir bater ao semba".

Bonga referiu-se ao semba como uma música "que tem uma expressão própria e uma vivência muito forte em relação a todo um povo que fez disso a sua forma de vida".

Relativamente ao povo angolano, o cantor disse "que as populações continuam carentes e com grandes problemas".

Inscrito na Federação Portuguesa de Atletismo, Bonga fugiu da repressão do Estado Novo
Aos 23 anos, conquistou em Angola o título de campeão nos 100, 200 e 400 metros
Gravou o seu primeiro disco em Roterdão com Humberto Bettencourt 8à esquerda) e Mário Rui Silva
Em 1975, esteve nos Estados Unidos a tocar nos festejos do primeiro aniversário da independência da Guiné-Bissau
Destaque no Le Monde: a aclamação internacional veio sobretudo de França
Fotogaleria
Inscrito na Federação Portuguesa de Atletismo, Bonga fugiu da repressão do Estado Novo

"É degradante saber que há crianças que morrem diariamente", mas reconheceu que, actualmente, "há uma vontade política, com vista a uma melhor redistribuição da riqueza".

No palco da sala da Cidade Universitária, Bonga vai ser acompanhado pelos músicos Betinho Feijó (guitarra e direcção musical), Ciro Bertini (acordeão), Hernani Lagross (baixo) e Estêvão Gipson (bateria), e pela bailarina Joana Calunga.

No espectáculo, que contará "com algumas participações surpresa", o alinhamento será feito pelos "temas de sempre", como Kissueia, que definiu como uma "balada nostálgica, cheia de profundidade e recordação da terra de origem", assim como Mariquinha, Mulemba  Xangola, Kambua, Patxi Ni Ngongo ou Uma Lágrima no Canto do Olho.

Bonga comparou-se ao Vinho do Porto, afirmando que "quanto mais velho melhor" e daí "continuar hoje a ser cantado pelos mais novos".

José Adelino Barceló de Carvalho, de seu nome de registo, adoptou na adolescência o nome de Bonga Kuenda, que apontou como o seu "verdadeiro eu".

A sua estreia musical, em 1972, foi com o álbum Angola'72, ao qual se sucederam vários outros e, como disse à Lusa, continua "a ser muito solicitado", nomeadamente em França, país que o distinguiu com a Ordem das Artes e Letras, grau de Cavaleiro, em 2014.

Por Portugal, o músico angolano actuou, este ano, no Rock in Rio, em Lisboa, no Festival Med, em Loulé, recentemente, em Braga, e foi um dos participantes no espectáculo de final do ano, em 2017, na Praça do Comércio, em Lisboa.

Sugerir correcção
Comentar