Estudantes americanos atrás dos colegas europeus na aprendizagem de línguas estrangeiras

O estado norte-americano com mais estudantes a aprender uma segunda língua, a Nova Jérsia, está atrás do país europeu com o pior resultado, a Bélgica. Não existe uma estratégia nacional para o ensino de idiomas estrangeiros.

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Norte-americanos não consideram importante aprender uma língua estrangeira, apesar dos benefícios profissionais, pessoais e cognitivos LUSA/DAVID ARQUIMBAU

Os Estados Unidos têm uma vantagem e uma desvantagem no que diz respeito à língua. A vantagem: o inglês é a língua franca mundial do século XXI, sendo o idioma oficial de 59 países. A desvantagem: os seus estudantes do ensino básico são dos que menos dominam um qualquer idioma estrangeiro num conjunto de países desenvolvidos, sobretudo quando comparados com os europeus. A conclusão é do Pew Research Center, que confrontou números dos sistemas de ensino norte-americanos e europeus, apontando sérias falhas ao ensino de línguas estrangeiras nos EUA.

Em média, 92% dos alunos de 29 países europeus do primeiro e segundo ciclos de ensino estão a aprender uma língua estrangeira, iniciando o seu estudo, regra geral, entre os 6 e os 9 anos. Nos Estados Unidos, este valor cai para 20%.

Para além de a exposição a uma língua estrangeira acontecer cedo na generalidade dos sistemas de ensino europeus, em mais de 20 países é ainda obrigatório aprender uma segunda língua estrangeira durante pelo menos um ano.

Nos EUA, por seu turno, não existem requisitos a nível nacional, sendo a obrigatoriedade de estudo de uma língua estrangeira decidida a nível estadual ou local.

O estado norte-americano da Nova Jérsia destaca-se pela positiva, com 51% dos alunos a aprenderem um segundo idioma. Ainda assim, é um valor inferior ao pior resultado registado num país europeu — o da Bélgica (com 64%). No outro pólo estão Liechtenstein, Luxemburgo, Malta, Noruega, Áustria, Roménia e França, onde a totalidade (100%) dos estudantes está a aprender uma segunda língua.

No conjunto de 30 países analisados, Portugal não surge bem classificado, com apenas 69% dos alunos do primeiro e segundo ciclos a estudar uma língua estrangeira. A média sobe no entanto para quase 90% se for incluído o ensino secundário, onde um aluno tende a aprender duas ou mais línguas estrangeiras, destaca o Pew.

A análise do Pew demonstra ainda padrões regionais na escolha de uma língua estrangeira nas escolas norte-americanas. No Nordeste dos EUA, sobretudo junto à fronteira com as regiões francófonas do Canadá, o francês é mais popular. A Sul, domina o espanhol.

Mandarim e linguagem gestual são outras opções populares nos Estados Unidos.

O Pew nota contudo que, em alguns países europeus, os bons índices registados estão relacionados com o uso de diversos idiomas no mesmo território, como é o caso da Suíça (onde são idiomas oficiais o francês, o alemão, o italiano e o romanche). 

Tal como aponta o Quartz, o domínio de uma língua estrangeira traz vantagens muito para além do contacto pessoal e profissional com outros povos, trazendo benefícios cognitivos, promovendo agilidade cerebral e podendo até influenciar a percepção do tempo. Mas as vantagens parecem não convencer os norte-americanos. De acordo com um inquérito realizado pelo Pew em 2016, apenas 36% norte-americanos consideraram importante ou muito importante o conhecimento de uma língua estrangeira para o sucesso no mercado de trabalho — tão importante, diziam à data, como saber usar uma rede social.

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