Ruby Rose, a Batwoman, deixa o Twitter após críticas à sua sexualidade

Actriz australiana, que assumiu a homossexualidade aos 12 anos, foi acusada de não ser "suficientemente lésbica" para representar o papel de Batwoman.

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Ruby Rose ficou conhecida pelo seu papel na série Orange Is The New Black Reuters/MARIO ANZUONI

A actriz australiana Ruby Rose abandonou o Twitter depois de ter sido atacada naquela rede social por ter sido escolhida para interpretar a heroína Batwoman numa série televisiva. A actriz de 32 anos, que se identifica como gender fluid  [ou seja, quer com o género masculino, quer com o feminino], foi acusada de "não ser lésbica" e por isso não ser "indicada" para representar aquele papel, uma vez que a Batwoman é uma personagem homossexual.

Rose, que na verdade se assumiu como lésbica aos 12 anos, apagou a sua conta não sem antes responder às críticas. "Quando as mulheres e as minorias juntam forças, somos inseparáveis. Quando nos deitamos abaixo uns aos outros é muito mais prejudicial do que quando é qualquer outro grupo a fazê-lo", escreveu. 

"De onde raio é que veio o 'A Ruby não é lésbica logo não pode ser a Batwoman'?", indagou. "Eu saí do armário aos 12 anos. E durante os últimos cinco anos fui acusada de ser 'demasiado gay'", escreveu, antes de anunciar a sua "pausa" na rede social para "se focar no trabalho".

A actriz desactivou ainda a possibilidade de adicionar comentários à sua conta no Instagram. "Se precisarem de mim, estarei no meu Bat Phone", rematou na mensagem de despedida.

A personagem de Kathy Kane/Batwoman foi introduzida nos livros de banda desenhada da DC Comics, em 1956, como namorada de Batman, com o propósito de afastar a ideia de que o super-herói e o seu parceiro Robin eram um casal. Foi "morta" em 1979 e regressou neste século como uma personagem lésbica, numa altura em que a preocupação com a diversidade passou a ter maior peso junto de consumidores, críticos e activistas.

Rose mostrava-se entusiasmada com a oportunidade de interpretar uma personagem que, segundo disse, gostaria de ter visto representada quando era adolescente, por entender que respondia a algumas das dúvidas que tinha em relação à sua orientação sexual — que era uma personagem criada para quem "nunca se sentiu representada na televisão e que se sentia sozinha e diferente", como escreveu no Instagram. Interpretar a Batwoman era por isso o cumprimento de um "sonho de infância". 

Quanto à sua identidade e à sua orientação sexual, a actriz tinha já explicado em 2015, numa entrevista à revista Elle, que não se identificava exclusivamente com o género feminino, nem com o género masculino. "Não sou um homem, não me sinto necessariamente uma mulher, mas obviamente nasci como uma. Estou algures no meio, o que, na minha imaginação, é como ter o melhor dos dois sexos. Tenho muitas características que normalmente estão presentes num homem e menos numa mulher. Depois há alturas em que visto uma saia — como hoje", disse. "Uma escolha diária?", perguntou a jornalista. "Exactamente. Não ter de sucumbir ao que quer que a sociedade — seja trabalho, família ou amigos — te façam sentir que é suposto seres por causa de como nasceste", respondeu Rose.

A actriz, reconhecida internacionalmente após dar vida a Stella Carlin na série Orange Is  The  New Black, recuperou até uma das cenas da personagem em que, numa prisão feminina, responde que só se identifica como uma mulher "porque as opções são limitadas".

Rose é apenas uma entre várias actrizes que se viram forçadas a abandonar as redes sociais na sequência de ataques de fãs de séries ou filmes (ou, como se suspeita em vários casos, da acção de grupos organizados com motivações racistas, sexistas ou homofóbicas). Recentemente, Kelly Marie Tran e Daisy Ridley, ambas actrizes da saga Star Wars, suspenderam a sua presença nas redes após serem alvo de críticas e insultos. 

Em 2016, a actriz Leslie Jones também abandonou o Twitter devido a ataques sexistas e racistas incitados pelo activista de extrema-direita Milos Yiannopoulos, na sequência da sua participação num remake feminino de Ghostbusters.

Um episódio-piloto da série Batwoman foi recentemente proposto ao canal CW. Caso seja aprovada, a série estará nas mãos da guinista e produtora executiva Caroline Dries (Os Diários do Vampiro, Smallville) e do produtor Greg Berlanti (Flash, Arrow, Supergirl, Lendas do Futuro, Black Lightning, Riverdale), que já defendeu a escolha de Rose para o papel da super-heroína. 

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