Mulheres sobrevivem melhor a problemas cardíacos quando tratadas por médicas

Um estudo publicado recentemente pela Proceedings of the National Academy of Sciences indica mulheres tratadas por médicos podem ter menos 1,52% de probabilidade de sobreviver do que aquelas que tratadas por médicas.

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Unsplash/ Piron Guillaume

As mulheres que aparecem nas urgências com um ataque cardíaco têm menos probabilidade de morrer se forem tratadas por uma médica do que por um médico, segundo um estudo publicado recentemente pela Proceedings of the National Academy of Sciences.

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As mulheres que aparecem nas urgências com um ataque cardíaco têm menos probabilidade de morrer se forem tratadas por uma médica do que por um médico, segundo um estudo publicado recentemente pela Proceedings of the National Academy of Sciences.

Um grupo de investigadores examinou dados de 582 mil doentes que tiveram ataques cardíacos e descobriram que as mulheres tratadas por médicos tinham menos 1,52% de probabilidade de sobreviver do que aquelas tratadas por médicas, de acordo com um relatório na Proceedings  of  the  National Academy  of  Sciences. Significa que se 1000 mulheres fossem parar à sala de urgências com um ataque cardíaco, mais de 15 morreriam, caso fossem tratadas por um médico do sexo masculino, diz à Reuters o investigador principal Brad Greenwood, da University of Minnesota-Twin Cities.

Curiosamente, as mulheres tratadas por um médico tinham maior probabilidade de sobreviver se existissem muitas médicas nas urgências. "A principal conclusão é que os médicos parecem ter dificuldade em tratar pacientes do sexo feminino", aponta Greenwood. "O desafio da pesquisa [futura] é descobrir como e por que isso ocorre. É uma pergunta complicada e há muita especulação sobre isso."

Os médicos parecem aprender com os seus erros. "Observamos melhorias à medida que passam tempo em prática", diz Greenwood. "Mas estes benefícios posteriores vêm à custa dos primeiros pacientes." O investigador admite que os cálculos podem não ter em conta toda a realidade, já que apenas incluem pacientes que foram internados no hospital. As mulheres que foram mal diagnosticadas e mandadas para casa não aparecem na análise.

Por que é que as mulheres tratadas por médicos do sexo masculino estão a morrer a uma taxa mais alta do que aquelas tratadas por médicas mulheres, embora tenham sido internadas no hospital? Greenwood suspeita que o excesso de mortes seja devido a atrasos no tratamento, sendo que os médicos demoraram mais tempo a fazer o diagnóstico.

Greenwood e os seus colegas analisaram dados médicos anónimos de 243.203 homens e 338.642 mulheres que foram atendidos nas urgências em hospitais da Florida, entre 1991 e 2010. A maioria (520.078) foi tratada por médicos do sexo masculino, enquanto 61.719 pacientes receberam tratamento de médicos do sexo feminino. Os dados da Florida incluíam informações como idade, raça, género e historial médico dos pacientes, juntamente com a qualidade do hospital. Mesmo depois de contabilizar esses factores, as mulheres eram menos propensas a sobreviver quando tratadas por um médico masculino das urgências.

Embora observe que este tipo de dados estão "cheios de potenciais erros muitas variáveis não contabilizadas", Karol Watson, directora da Women’s Cardiovascular Center da University of California, em Los Angeles, afirma que "há um crescendo de dados a sugerir que médicas mulheres têm melhores resultados".

Existem algumas explicações para as novas descobertas, diz. "Toda a gente sabe, mas ninguém comprovou, que as mulheres são melhores a escutar", indica. "E as médicas passam mais tempo com os seus pacientes. Eu nem consigo dizer quantas vezes a informação essencial vem quando o paciente está a caminhar para a porta."

O novo estudo destaca a importância de ter "um forte grupo de trabalhadores do sexo feminino", comenta Jennifer Haythe, co-directora do Columbia Women's Heart Center no centro médico da Universidade de Columbia. "Como médica muito consciente dos preconceitos de género, particularmente na relação à doença cardíaca, não é possível deixar de pensar se os resultados melhores se devem ao facto de as médicas levarem os sintomas das mulheres mais a sério, agilizando assim o diagnóstico e cuidados cardíacos dessas mulheres e melhorando a mortalidade", avalia.

Reconhecendo que não podemos escolher o médico que nos trata nas urgências, Haythe tem alguns conselhos para as mulheres: "Devem certamente sentir-se à vontade para pedir que os seus sintomas sejam levados a sério. Se estão preocupadas que podem estar a ter um ataque cardíaco, devem perguntar ao médico – homem ou mulher – se tiveram uma avaliação apropriada para o determinar, e se não, por que não."