PSD preocupado com erosão eleitoral provocada por Santana

O desafio de Pedro Duarte é desvalorizado, mas uma candidatura de Santana preocupa a direcção do PSD, sobretudo se a este se juntarem figuras como Rui Moreira.

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Santana Lopes Nuno Ferreira Santos

A direcção de Rui Rio está consciente de que a criação de um novo partido por Pedro Santana Lopes ou uma candidatura deste por outro partido pode causar alguma erosão eleitoral no PSD, tanto nas europeias de 26 de Maio como nas legislativas de Outubro de 2019, sobretudo se o ex-primeiro-ministro surgir associado a outros actores entrados há pouco tempo na cena política nacional como independentes.

Um membro da direcção do PSD assumiu em conversa com o PÚBLICO que, se se verificar uma candidatura eleitoral de Santana Lopes, esta poderá “causar alguma mossa” no partido, em ambas as eleições do próximo ano. Frisa, contudo, que tal como as sondagens têm vindo a demonstrar, essa erosão deverá atingir também outros partidos, como o CDS.

Mas o PSD está em estado de alerta para um cenário que, de acordo com o dirigente ouvido pelo PÚBLICO, pode ser mais prejudicial para o partido. Trata-se da eventualidade de Santana Lopes vir a juntar a si outras figuras de prestígio e relevância nacional. “Santana Lopes tem muita projecção pública, foi primeiro-ministro, tem visibilidade e prestígio, se a ele se juntarem figuras como, por exemplo Rui Moreira, o sucesso eleitoral” de um novo partido será potenciado “em centros urbanos decisivos do ponto de vista eleitoral como Lisboa e Porto”.

O PÚBLICO questionou o presidente da Câmara do Porto sobre o que pensa da criação de um novo partido por Santana Lopes e uma eventual aproximação a esta futura força política. O assessor de imprensa do autarca respondeu que Rui Moreira “entende que não faz sequer sentido fazer qualquer declaração sobre esse assunto”.

Olhando sem preocupação para o desafio de liderança que foi lançado a Rui Rio por Pedro Duarte, em entrevista ao Expresso no sábado passado, o membro da direcção do PSD considera mesmo normal e recorrente na história do partido este tipo de atitudes de crítica aos líderes.

É também encarado com toda a naturalidade o facto de, no interior do PSD, haver entre os sectores mais à direita críticas e “leituras facilitistas” da estratégia de Rui Rio que insistem que o líder quer alianças com o PS e “tem o mesmo discurso e propostas de António Costa”. Na realidade, o actual líder do PSD “assumiu uma estratégia de disputar eleitorado ao PS”, explica o social-democrata, admitindo que no futuro venham a surgir propostas que tenham "aspecto de proximidade" a ideias defendidas pelo PS.

A ruptura de Santana Lopes com o PSD, partido de que é um dirigente histórico e do qual já foi presidente e primeiro-ministro entre 2004 e 2005, é vista de forma bem diferente pelo membro da direcção do partido. A verdade é que, ao recentrar o PSD, Rui Rio deixou “espaço à direita que pode vir a ser capitalizado" por Santana, "tanto mais que o CDS não tem conseguido descolar nas sondagens”.

Na expectativa do dirigente do PSD, isso abre caminho para que uma candidatura eleitoral liderada por Santana Lopes consiga eleger “três ou quatro deputados”, dependendo do tipo de discurso que venha a assumir. E mesmo elegendo "muito poucos deputados, pode vir a ser uma força decisiva no desenho da correlação de forças no Parlamento e pode vir a ser decisiva para a determinação de maiorias”.

Mas Santana poderá ter “algum sucesso”, sobretudo se apostar num “discurso conservador, populista e nacionalista, anti-União Europeia”, acrescenta.

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