O barrocal algarvio em versão boho chic

Renovado em 2015, o hotel Vila Monte Farm House assume agora as raízes algarvias, num espaço que funde ingredientes regionais com a sofisticação contemporânea. O luxo aqui não se define na ostentação, antes nos ínfimos pormenores e na personalização de cada experiência.

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“Isto são grãos e feijões secos”, apontam Rui Marcelino e Rui Malato, sub-chefes no À Terra e no Laranjal, os dois restaurantes do Vila Monte Farm House. “É preciso pô-los em água de um dia para o outro para depois se poderem cozinhar”, explicam em inglês ao grupo de hóspedes que se reúne junto às sacas de leguminosas. Todos os sábados, o hotel organiza uma visita guiada pelos cozinheiros da unidade ao mercado de Olhão, a meia hora de distância. Duas carrinhas encheram-se de hóspedes, a maioria casais, algumas crianças, e a manhã começa cedo junto aos dois icónicos edifícios de tijolo e torres de cúpula metálica.

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“Isto são grãos e feijões secos”, apontam Rui Marcelino e Rui Malato, sub-chefes no À Terra e no Laranjal, os dois restaurantes do Vila Monte Farm House. “É preciso pô-los em água de um dia para o outro para depois se poderem cozinhar”, explicam em inglês ao grupo de hóspedes que se reúne junto às sacas de leguminosas. Todos os sábados, o hotel organiza uma visita guiada pelos cozinheiros da unidade ao mercado de Olhão, a meia hora de distância. Duas carrinhas encheram-se de hóspedes, a maioria casais, algumas crianças, e a manhã começa cedo junto aos dois icónicos edifícios de tijolo e torres de cúpula metálica.

O passeio percorre primeiro as bancas cá fora. As leguminosas são as primeiras a surgir, destacadas à laia de introdução, depois os frascos de mel e de própolis, que uma das hóspedes anseia por comprar. Sublinham-se os molhos de beldroegas — “muito boas na sopa” — e os tomates rosa ou coração de boi — irresistível a tradução em inglês. “They call it heart of the bull”, vão explicando aos mais atentos. Passamos rápido pelo mercado das frutas, das hortaliças, dos queijos e dos enchidos e demoramo-nos na praça do peixe, ex-líbris do mercado algarvio.

À medida que o grupo percorre as bancas, Rui Marcelino e Rui Malato vão apontando as principais espécies apanhadas na costa e algumas iguarias regionais, como o polvo seco ou a muxama, guiando o grupo pelos produtos mais frescos ou ao melhor preço. Há quem leve douradas e espadarte. “Compram por eles, depois nós levamos, cozinhamos e cobramos só a confecção”, explica Rui Marcelino. Também os chefs aproveitam para comprar alguns produtos: ouriços-do-mar, amêijoas, lingueirão e gambas da costa. Domingo é dia de buffet de mariscos no Vila Monte.

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Totalmente renovado em 2015, quando integrou o portefólio da Discovery Hotel Management, o Vila Monte Farm House é um refúgio entre o mar e a serra, onde o luxo se define pela atenção aos detalhes e pela privacidade das experiências. Como ser aconselhado directamente pelos cozinheiros numa visita guiada ao mercado ou terminar o passeio com um almoço privado à mesa do chef. Ou ter uma concessão de praia, com guarda-sóis, toalhas e bar, à distância de um transfer e táxi aquático exclusivo do hotel. Sem ter de pegar no carro ou passar pelo martírio de procurar estacionamento numa região apinhada de veraneantes.

“Abrimos uma janela para mostrar ao cliente que estava reticente em vir ao Algarve que existe outro tipo de Algarve”, descreve Lionel Alvarez, director-geral do Vila Monte. Um Algarve que fica num “lugarzinho de paz e de tranquilidade”, com a “identidade” própria do campo, onde se “ouvem os passarinhos” e o coaxar das rãs no lago, “perto de tudo” mas sem ter “milhões de pessoas e de carros todos juntos”, define o responsável.

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O catálogo de actividades é extenso, dividido entre o que se pode fazer sem sair do hotel e aquilo que se pode descobrir para lá dos portões, situados a poucos metros da pacata aldeia de Moncarapacho. Como por exemplo, visitar a vizinha Quinta Monterosa e provar os seus azeites premiados; descer aos viveiros de ostras do francês Quentin e descobrir como o marisco é produzido na ria Formosa; percorrer os aromas da serra algarvia numa “rota dos óleos essenciais” ou aprender a arte de pastorear um rebanho de cabras com o pastor Nuno, “ir a casa dele e provar o queijinho que está a fazer”.

“São sempre visitas com ‘personagens’”, destaca Lionel Alvarez. “A ida às minas de sal, em Castro Marim, também é feita por um senhor iluminado, que tem uma história fantástica para contar. Não se trata de descobrir tecnicamente como se faz o sal, mas passar um momento com pessoas que têm paixão pelo que fazem.” Para o responsável, esta é uma das razões para ficar alojado no Vila Monte: “Não é na praia nem no meio de um centro turístico, é para ir à procura dessa experiência mais privada e autêntica”.

Identidade algarvia, sim, mas contemporânea

Começámos pelo que o Vila Monte tem para oferecer de diferente lá fora, embalados pela visita ao mercado de Olhão. Mas o hotel tem predicados suficientes para não se desejar sair por muito tempo. Os 55 quartos distribuem-se por três casas diferentes (entre duplos e diversas tipologias de suítes), enquanto o edifício principal alberga o restaurante À Terra e um espaçoso lobby, com recepção, mercearia, zonas de estar e uma enorme lareira moderna ao centro.

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Ao longo dos nove hectares da propriedade, encontram-se ainda o edifício do ginásio, a casinha das massagens, a piscina principal no antigo “tanque das bicas” e a piscina de adultos, bares de apoio, um campo de ténis, uma zona de cinema ao ar livre (com sessão diária às 21h30), uma horta e muitas árvores de fruto.

Sem esquecer o restaurante Laranjal: de manhã, são ali servidos os pequenos-almoços; à noite, transforma-se numa segunda opção para jantar no hotel, num “contexto mais elegante” e com “vista para o pôr do Sol”, que do terraço tem tanto de serra quanto de mar. O conceito foi afinado este ano, com novos detalhes na decoração e uma carta construída em menus de degustação (entrada, prato principal e sobremesa, com possibilidade de harmonização com vinhos). Para refeições privadas, o Vila Monte propõe ainda três localizações: o relvado junto ao lago, uma mesa sob a sombra do velho sobreiro ou no alto da torre da Casa Pátio.

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Erguido há 37 anos, já com a hotelaria por vocação, quem visitou o Vila Monte de outras etapas vai encontrar o mesmo espaço, os mesmos edifícios. Mas “a identidade mudou”, afirma Lionel Alvarez. O que antes era uma mistura de cores quentes e influências do Mediterrâneo, desde o Magrebe a Itália e à Andaluzia, agora é puro branco. A intenção, conta o responsável, era “voltar a Portugal” e “às raízes do lugar onde estamos”. Queriam dar ao hotel uma “identidade portuguesa”, mas “do tempo de agora”, com “uns toquezinhos de elegância”, de “boho chic”.

O projecto de renovação, a cargo do arquitecto Jorge Guimarães e da designer de interiores Vera Iachia (conhecida pelo trabalho feito na Comporta), trouxe uma reinterpretação da essência algarvia, misturando elementos tradicionais da região (como o branco e o azulão, as vergas, as empreitas, os barros, a cortiça) com mobiliário moderno e discreto.

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Abriram-se janelas amplas para o jardim, criaram-se terraços e pérgulas de madeira. “A ideia era fechar o jardim, para criar cantinhos, mas abrir a vista de todos os edifícios à beleza do exterior”, afirma Lionel. O relvado ficou, mas desapareceu a alusão ao golfe, substituída por diferentes recantos verdejantes que se insinuam ao longo de um passeio pelo hotel. Toda a propriedade se alcança em dois passos, mas a organização do espaço cria diferentes zonas, conferindo-lhes (alguma) privacidade.

O último ano trouxe ainda duas novidades: uma colecção de suítes exclusivas, com serviço de mordomo e características únicas (terraços enormes ou uma minúscula piscina privativa, por exemplo), e um programa inovador de tratamentos de bem-estar. “Vimos que os clientes também estão mais à procura de wellness, não só da massagem tailandesa tradicional, mas de experiências para a cabeça se sentir bem.”

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O catálogo dá o pontapé de saída: aulas de ioga e de meditação, hipnoterapia, viagens xamânicas, consultas nutricionais, pequenos retiros. Mas a ideia é que a sessão seja adaptada aos interesses e às necessidades específicas de cada cliente, de uma forma mais informal, descontraída. “Às vezes, as pessoas estão numa fase de transição, pessoal ou profissional, e querem aprender a relaxar ou perceber que passos tomar para se sentirem bem emocionalmente”, conta-nos Janette, responsável pelo sector de wellness.

De manhã, voltaremos a vê-la no jardim, a mostrar diferentes posições de ioga a uma cliente. Mas por agora deixamo-nos ficar à conversa na esplanada junto à piscina. É final de tarde de uma sexta-feira — momento semanal de cocktails no Vila Monte. Amanhã o dia começa cedo no mercado.

A Fugas esteve alojada a convite do Vila Monte Farm House