Ninguém começa a época com tudo resolvido

Pontos de interrogação predominam no início deste campeonato, com assuntos pendentes em todos os candidatos. Resta também a dúvida se a distância entre o topo e o resto da classificação vai continuar a aumentar

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Três meses e um Campeonato do Mundo depois, a Liga portuguesa está de regresso numa edição que começa envolta em mais incógnitas do que é habitual. Não é apenas a questão de perceber quem fica e quem sai (o período de transferências prolonga-se até ao final de Agosto), mas também saber quais serão os clubes com projecto suficientemente sólido para lutar pelo título até ao fim. No extremo oposto da tabela, que impacto nas contas da sobrevivência terá o facto de haver três despromovidos, para reintegrar o Gil Vicente em 2019-2020? Outra interrogação relaciona-se com a “classe média” do campeonato: ainda existe? Conseguirá reduzir a distância para os quatro da frente? Ou a prova será cada vez mais disputada a duas velocidades?

Para quem acredita em bons e maus prenúncios, este é um campeonato que começou mal ainda antes ter propriamente começado. O sorteio atribulado que teve de ser repetido devido a um erro na leitura de um número da chave sorteada fez com que o calendário inicialmente definido tivesse de ser descartado. O novo plano para a temporada ditou que o campeão FC Porto inicia a defesa do título em casa, frente ao Desportivo de Chaves (amanhã, às 21h), mas antes disso o vice-campeão Benfica joga já esta noite no seu estádio, perante o V. Guimarães (20h30, BTV).

Ter quebrado a hegemonia do grande rival, impedindo o que seria um histórico “penta”, não fez o FC Porto desviar-se do rumo adoptado na época passada: os “dragões” tornaram a não fazer investimento de monta, mesmo tendo visto sair titulares como Ricardo Pereira e Marcano. Mas se, há um ano, a forma de Sérgio Conceição lidar com os constrangimentos financeiros foi rentabilizar os futebolistas que andavam cedidos a outros clubes, desta vez a estratégia dos “dragões” assenta num misto de valores da formação e jogadores recrutados fora. Diogo Leite e André Pereira foram promovidos ao plantel principal, e chegaram João Pedro, Mbemba e Éder Militão. Marega, cuja continuidade estava envolta em dúvidas, viu fechar-se a janela de transferências para Inglaterra e é provável que permaneça no Dragão.

Obrigado a estar num patamar competitivo elevado numa fase precoce da época, devido à disputa da terceira pré-eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, o Benfica esteve bastante activo no mercado. Chegou Vlachodimos para a baliza, Ebuehi, Lema e Conti para a defesa, Alfa Semedo para o meio-campo, e Castillo e Ferreyra para o ataque. Entre os futebolistas promovidos da equipa B, Gedson Fernandes deverá ser aquele com maior protagonismo durante a temporada. Mas ainda há questões por resolver, a mais importante delas relacionada com o futuro de Jonas. Depois de uma época sem qualquer troféu conquistado, a margem de erro na Luz é reduzida, e qualquer cenário que não seja a presença na fase de grupos da Champions e uma boa entrada no campeonato será necessariamente negativo. E é preciso não esquecer que, logo à terceira jornada, ainda em Agosto, há derby.

Agitação prolongada

Talvez a maior de todas as incógnitas deste campeonato seja o Sporting. A instabilidade não larga o clube desde o final da temporada passada, com os incidentes na academia de Alcochete que levaram à rescisão de nove futebolistas (incluindo titulares como Rui Patrício, William e Gelson Martins) embora nomes como Bruno Fernandes, Battaglia e Bas Dost tenham recuado nessa decisão. Em termos de mercado, destaca-se o regresso de Nani e a contratação de Bruno Gaspar para ocupar o lugar deixado vago pela saída de Piccini. A luta pela titularidade na baliza vai fazer-se entre duas caras novas, Viviano e Renan Ribeiro.

A destituição da direcção de Bruno de Carvalho deixou a preparação da época entregue a uma comissão de gestão, com Sousa Cintra a assumir a liderança da SAD “leonina”. José Peseiro foi o escolhido para treinar a equipa, mas será sempre um homem a prazo até às eleições de 8 de Setembro. O acto eleitoral realiza-se já depois do derby da terceira jornada, mas num fim-de-semana de paragem no campeonato para compromissos da selecção nacional. Depois de toda a turbulência, os “leões” desejam a transição mais suave possível.

Apostado em reduzir a diferença para os três clássicos candidatos ao campeonato, o Sp. Braga apresenta-se com ambição redobrada, assente numa época muito bem conseguida às ordens de Abel Ferreira. Tendo terminado a apenas três pontos do Sporting, os minhotos iniciam a nova temporada a olhar para cima, e tanto o treinador como o presidente já admitiram o sonho de chegar ao título. O Sp. Braga conseguiu conservar uma parte significativa da base que vinha da época passada, com ligeiros retoques como são as entradas de João Palhinha e João Novais.

O facto de o Sp. Braga estar mais próximo do topo significa também que está mais longe do resto. Na temporada passada o quinto classificado, Rio Ave, ficou a 24 pontos do quarto (e 21 pontos acima do último lugar), um número sem paralelo nos últimos anos. A luta pelos dois lugares que dão acesso à Liga dos Campeões acentuou a percepção de um campeonato disputado a duas velocidades: a luta pelo topo e a luta pela sobrevivência, com o eclipse de uma espécie de “classe média” da classificação.

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