Filipe Simões e Henrique Cabral Menezes apostaram na fruta feia, chama-se Fruut

Empresários querem ter uma empresa de referência na produção de fruta desidratada na Europa.

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Nélson Garrido

Já diz o ditado que quem vê caras não vê corações. Na fruta passa-se o mesmo. A chamada “fruta feia” que o mercado rejeita pelo tamanho e aspecto, continua tão saborosa que Filipe Simões e Henrique Cabral Menezes a transformam num snack saudável. É a fruta desidratada crocante da marca Fruut, criada em 2013, e que deverá fechar o ano com mais de quatro milhões de snacks vendidos e mais de dois milhões de euros de volume de negócios. Os dois empresários não querem que o snack seja uma alternativa à fruta fresca, mas, sim, ao pacote de batatas fritas, por exemplo. “Não concorremos com a fruta fresca. A lógica é democratizar a comida saudável”, clarifica Filipe Simões, 44 anos. 

Os donos da empresa mãe, a Frueat, apresentam o produto como sendo 100% de fruta natural e crocante. “Os nossos produtos não têm um aditivo com excepção da maçã com canela”, sublinha Filipe Simões. A embalagem de maçã desidratada vermelha é a que mais vende. Mas também há de maçã verde, maçã com canela ou gengibre, pêssego, pêra e abacaxi. Porque é tão crocante? “Tiramos-lhe a água. Tiramos a casca e o caroço, fatiamos e vai para tapetes”, elucida. 

A história da fruta desidratada Fruut, em fatias finas crocantes, começou na Quinta do Vilar, em Viseu. É uma grande produtora de vários tipos de maçã, propriedade dos pais de Henrique Cabral Menezes, agora com 48 anos. A mãe, engenheira de formação, andava a matutar sobre o que fazer com as toneladas de maçã que “não era aproveitada, que já não se vendia nas grandes superfícies”, conta. A chamada “maçã feia” que não segue para o circuito comercial só porque não tem um aspecto tão perfeito, tem umas pintas ou está um bocadinho tocada. “Mas era boa em termos de paladar”, salvaguarda. Surgiu, então, a ideia da maçã desidratada, em finas fatias crocantes, para combater o desperdício alimentar.

O produto chamava-se Vilarzitos. Começou por ser vendido num reduzido número de lojas, como no El Corte Inglés, em Lisboa, onde Filipe Simões o viria a conhecer. Não estranhou o sabor. Muito pelo contrário, ficou tão fã que viu logo o seu futuro passar por ali. Há já algum tempo que “tinha vontade de dar um novo rumo profissional” diferente do que tinha como director de marketing e de vendas no mundo editorial, primeiro na Asa Editora e depois na Civilização. Só ainda não sabia bem o quê. Conheceu, então, o actual sócio Henrique através de um amigo comum. Conversa puxa conversa, os dois perceberam que tinham uma boa oportunidade de explorar mais o negócio da família do Henrique. E numa altura em que os consumidores se começavam a preocupar mais com a alimentação saudável. Filipe Simões, formado em Relações Internacionais, despediu-se do “emprego seguro que tinha”.

A mãe de Henrique continuou como accionista. Mas os dois amigos tomaram as rédeas do negócio de fruta desidratada em fatias finas crocantes num pacote. Fizeram estudos de mercado e, em 2013, lançaram a empresa Frueat e a marca Fruut que substituiu a então Vilarzitos que tinha uma produção em menor escala. Investiram mais de um milhão de euros numa fábrica com um processo produtivo mais industrializado. “Descascamos e cortamos cerca de duas mil maçãs por hora”, descreve Filipe. 

No início, Henrique Cabral Menezes ainda continuou a trabalhar na banca durante mais alguns anos até dedicar mais tempo à empresa. Formado em Gestão de Empresas, Henrique chegou a ser administrador do banco de investimento do BPI, presidente do Banco Caixa Geral Brasil e depois esteve na administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) em Portugal. “Sempre acompanhei o projecto de perto, porque achava que tinha muito potencial; o produto é saudável e fácil de comer”, diz. 

Começaram pela maçã, então fornecida pela quinta dos pais de Henrique. Depois seguiu-se a pêra, o pêssego e o abacaxi. A pêra chega do Oeste, o pêssego de fornecedores portugueses e espanhóis e o abacaxi da Costa Rica. Entretanto, colocaram no mercado um produto com formato de batatas fritas para atrair os consumidores mais novos. Em breve, estarão à venda legumes como batata-doce e cenoura.

Por estes dias, andam a desenvolver uma linha num segmento diferente com novos parceiros. Mas ainda não querem desvendar o que vai ser. “Vamos tentar entrar noutro tipo de prateleiras dos supermercados”, levanta o véu Henrique Cabral Menezes. 

A ideia de comer fruta desidratada começou a dar frutos. As vendas foram aumentando. Em 2017 facturaram 1,7 milhões de euros. Este ano deverão atingir mais de dois milhões e vender mais de quatro milhões de snacks. Assim como entrar no mercado francês. O mercado externo representa 50% do volume de negócios, com Espanha a ter maior peso, onde abriram escritório em Abril deste ano. A marca tem ainda 700 pontos de venda no Japão. E já conseguiu entrar nos aviões da Ryanair. As mulheres entre os 25 e 45 anos são quem mais compra os produtos.

Actualmente, a empresa, que tem fábrica e armazém em Viseu e local de desenvolvimento de produto no Porto, tem 32 funcionários, incluindo os dois empresários. 

“Nos próximos cinco anos queremos ser a marca portuguesa com maior notoriedade no segmento saudável”, elucida Filipe Simões. “E ainda empresa de referência na produção de fruta desidratada na Europa”, acrescenta o sócio. Pretendem ainda crescer de forma sustentada enquanto marca, alargar gamas de produtos e lançar produtos mais direccionados para crianças. E se era para aproveitar a chamada fruta feia, já o fizeram em grande escala. “Foram já 3,8 milhões de quilogramas de fruta que aproveitámos desde 2013. O equivalente a 25 milhões de peças de fruta”, lê-se no site da Fruut.

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