O Facebook está a envelhecer

Sendo as redes sociais construídas pela acção humana, estas vão reflectindo os valores e práticas dos vários grupos sociais dominantes. Será que estamos a caminhar para uma sociedade por classes de redes sociais virtuais?

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Tim Bennet/Unsplash

A média de idades dos utilizadores do Facebook está a aumentar. Cada vez mais pessoas chegam à rede social e os que chegam, agora em massa, são mais idosos do que os utilizadores pioneiros. Com o aumento de utilizadores mais velhos e a inactividade dos mais novos, que optam agora por outras redes sociais menos massificadas e intrusivas, o panorama da rede tem mudado. Pode parecer um contra-senso, mas os jovens, apesar de gostarem de exposição virtual, estão a preferir redes sociais e aplicações de comunicação mais controladas, onde podem mais facilmente controlar quem vê as suas publicações, incluindo opções temporárias e mais visuais.

Este duplo fenómeno está a envelhecer o Facebook, vários estudos recentes apontam para isso. Nota-se também uma enorme quantidade de lixo e notícias falsas na rede social. Poderão esses fenómenos estar relacionados? Precisávamos de mais estudos sobre este fenómeno, mas podemos formular a hipótese de que a mudança dos utilizadores tem efeito directo nos conteúdos em circulação.

Lembram-se de como o uso massificado de emails, com aquelas mensagens supostamente engraçadas, os conteúdos falsos e esquemas, nos foram entupindo as caixas de correio? Isso surgiu com a massificação do acesso às contas de email. Parece que o mesmo está a acontecer agora com as redes sociais. Terá algo que ver com a idade dos utilizadores, a massificação do uso destas tecnologias ou a literacia digital? Pode ser injusto fazer estas relações directas, mas é impossível não pensar nisto como uma possibilidade. Certo é que já estão a começar a ser aplicadas medidas de prevenção e controlo para recuperar a qualidade dos conteúdos na rede.

Estes fenómenos fazem parte dos choques sociais e geracionais que sempre ocorreram nas sociedades humanas. Neste momento sente-se no Facebook um clima estranho, difícil de encontrar algo interessante, salvo algumas páginas e grupos dedicados assuntos específicos. O spam é imenso. Propaga-se lixo visual e informativo, criado pelos próprios utilizadores ou partilhado sem consciência, já para não falar de publicações opinativas que envergonhariam os mais cautelosos se fossem feitas presencialmente. Neste momento, os mais jovens são os mais cautelosos e conscientes das implicações daquilo que partilham e escrevem publicamente no Facebook. Serão efeitos de mais competência para sobreviver neste mundo digital em tempo real? Ou simplesmente uma liberdade apenas disponível aos mais velhos para dizer o que pensam mesmo que seja politicamente incorrecto? Afinal, que terão eles a perder? Será isso?

Qualquer jovem minimamente informado sabe que aquilo que escrever ou publicar poderá ser utilizado contra si, social e profissionalmente, no futuro. Já os mais velhos parecem não ter consciência, ou então, como disse anteriormente, simplesmente já não estarem preocupados com a opinião e censura social.

Há uma clara sensação de migração de determinados grupos sociais de umas aplicações e tecnologias para outras. Sendo as redes sociais construídas pela acção humana, elas vão reflectindo os valores e práticas dos vários grupos sociais dominantes. Será que estamos a caminhar para uma sociedade por classes de redes sociais virtuais?

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